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    Angola, 20 anos de paz, com leituras bem diferentes das diversas sensibilidades

    Vinte anos após o fim da guerra civil em Angola, o 4 de Abril foi assinalado com posições divergentes entre o MPLA, no poder, partidos da oposição e analistas políticos.

    O reverendo Ntoni a Nzinga é uma referência, quando se fala da paz, ao ter participado em várias iniciativas, entre elas através do Comité Inter-Eclesial para a Paz em Angola (COIEPA).

    Para ele, continua-se a confundir cessar-fogo com paz e lembra que a assinatura de um calar de armas não pressupõe necessariamente ter paz.

    “O conflito angolano nunca terminou e os sinais recentes de tensão que vivemos mostram isso mesmo, o conflito militar é apenas consequência do conflito político, parar com o conflito armado, militar, serve para tratar a verdadeira causa do conflito militar que é político, este é um dos problemas graves de Angola que ainda não tivemos oportunidade de abordar com seriedade”, sustenta Nzinga. Celestino Epalanga, é padre católico e considera que em termos práticos ainda não se pode falar de paz efectiva em Angola.

    “Hoje, na parte sul de Angola e não só, em Cabinda e noutras regiões há mortes de pessoas por fome, e eu a viver na abundância, churrascos, etc., tenho quase tudo, enquanto o meu irmão ao lado, crianças inclusive, que são inocentes abraços com fome, não há como eu festejar a paz porque não se deve dissociar a paz da justiça e nós ainda temos muitas assimetrias”, advoga Epalanga.

    Outro pastor evangélico, Elias Isaak entende que, enquanto não fizermos o que os sul-africanos fizeram ao destruírem o apartheid e continuarmos com a partidarização das instituições do Estado não teremos paz.

    “Nós ainda vemos pobreza extrema, o país completamente dilacerado pela corrupção e o roubo sem vergonha dos nossos governantes que enriquecem-se por cima da pobreza do povo, continuarmos com discursos belicistas de insultos ao outro só por pensar diferente, com exclusão e discriminação nas instituições do Estado…”, enumera.

    A cidadã Laura Macedo diz que celebrar a paz em Angola com os níveis de desigualdades existentes é um insulto.

    “Desenvolver o país não é dar dinheiro às pessoas, para desenvolver o país é preciso pôr escolas, indústrias, fábricas para as pessoas trabalharem, não é distribuir facilidades a alguns grupos que querem ser grandes, como exemplo as Omatapalos, as Carrinhos, hoje os camiões são da Carrinhos, o arroz e o açúcar são da Carrinhos, tudo é da Carrinhos, isto é exactamente o contrário dos princípios de desenvolvimento”, diz.

    No campo político-partidário, o Bureau Político do Comité Central do MPLA saudou as forças que, de forma directa ou indireta, contribuíram para o fim do conflito armado, “que durante décadas dilacerou o país” e apelou ao “envolvimento abnegado de todos os angolanos no processo de reforço da cidadania e da construção de uma sociedade cada vez mais desenvolvida, democrática e inclusiva”.

    O secretário para a Informação, Mobilização e Propaganda da FNLA, na oposição, Ndonda Nzinga, os 20 anos de paz não se traduzem na vida das populações porque a fome e a corrupção minaram a boa convivência no país.

    “As pessoas estão na indigência total porque os recursos foram mal distribuídos, com pessoas a comerem até no lixo, a corrupção generalizada levou à desgraça uma boa parte dos angolanos”, afirma Nsinga.

    Para João Nazaré, secretário executivo nacional para Informação e Marketing da CASA-CE, “as famílias angolanas não estão em paz, há fome, pobreza, muita juventude está a ser empurrada para a delinquência e a prostituição”.

    Já a UNITA, na declaração lida pelo seu secretário para a Comunicação e Marketing da UNITA, Marcial Dachala, 20 anos depois, preocupa “o aumento da pobreza, assim como abuso e violação dos direitos humanos como grandes preocupações para uma paz efectiva”.

    “Volvidos 20 anos, o balanço é mitigado, pois os angolanos vivem uma grave crise económico-financeira e social, caracterizada, entre outros, pelo retrocesso dos indicadores do Estado Democrático e de Direito, o aumento da pobreza e do índice de desemprego com ênfase na juventude em idade activa, a subida vertiginosa dos preços dos produtos da cesta básica, a corrupção endêmica e sistêmica, a degradação dos valores morais e cívicos, o abuso e violação dos direitos humanos”, defendeu o maior partido da oposição.

    Por seu lado, também em nota, o Bureau Político do Comité Central do MPLA saudou as forças que, de forma directa ou indireta, contribuíram para o fim do conflito armado, “que durante décadas dilacerou o país”, e apelou ao “envolvimento abnegado de todos os angolanos no processo de reforço da cidadania e da construção de uma sociedade cada vez mais desenvolvida, democrática e inclusiva”.

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