Manuel Alves da Rocha, um nome que é uma referência incontornável entre os economistas angolanos, lançou, esta semana, sob a chancela da Kilombelombe, um livro em que reúne as suas colaborações publicadas, na esmagadora maioria, no nosso colega semanário Expansão no período compreendido entre 2009 e 2011. Nada tão estimulante como escrever ao sabor da inspiração ditada pelo curso dos dias, fazendo chegar, em tempo útil ao público, reflexões sobre assuntos aparentemente esparsos. Aparentemente. Porque em Alguns Temas Estruturantes da Economia Angolana, para além de não perder de vista uma visão matricial sobre o mundo e a realidade que com ele se move, o que um histórico autor chamou um dia uma “concepção do mundo”, está sempre presente o tema do crescimento e da repartição das suas consequências. O professor da Universidade Católica de Angola e director do Centro de Estudos e Investigação
Científica (CEIC) a ela associado, o qual, como lembra, e muito oportunamente, Evaristo Mulaza no prefácio da obra constitui o “maior laboratório de análise macroeconómica nacional”, sob o pano de fundo de um pensamento alicerçado numa sólida formação aborda, ao longo de 58 artigos temas que vão desde as matérias mais ‘doutrinárias’, à diversificação da economia, desigualdade na repartição do rendimento e desigualdade territorial, integração económica, globalização, crise económica, passando por incursões extremamente didácticas como a respeitante ao crescimento dos preços, interessantíssimos balanços das independências políticas africanas e, em particular, angolana.
O leitor encontrará ainda reflexões sobre temas de instante actualidade como a “Revolução do Jasmim” na Tunísia ou o bemestar e felicidades individuais. Seleccionados entre escritos que vão sendo produzidas ao ritmo do pulsar do tempo e destinados a ser veiculados através dessas imensas tertúlias que também são os jornais, os textos reunidos neste livro de Alves da Rocha, que conta com um posfácio de Manuel Inácio dos Santos Torres, oferecem-se a todos quantos se interessam pelo que se passa ao nosso redor, que não desistem de indagar o modo como, neste tempo de mudança, nos reinventamos. Para lê-los não é necessário ser-se iniciado em economia, nem se é obrigado a seguir a disciplinada numeração das páginas.
Cada um dos temas pode ser convocado para a leitura ao sabor da nossa curiosidade. Uma vantagem. Outra é que, no final, iniciados ou não, todos ficaremos a saber mais de economia.
Luís Faria
Fonte: O País
Foto: O País
