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    A Ecologia dos Lugares

    Gabriel Baguet Jr (OJE)
    Gabriel Baguet Jr (OJE)

    A cidade brasileira de São Paulo recebe este ano o 3º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono. Arquitectos, Urbanistas, como outros intervenientes no processo da construção e reconstrução das Cidades, como especialistas em diversas áreas da Ecologia, do Urbanismo, da Sociologia, do Design, do Planeamento Urbano e Investigadores académicos estarão em Setembro deste ano para falar de um saudável ambiente urbano e sobre o que pode ser feito agora e no futuro nos Estados que se expressam em Língua portuguesa. Afinal falar das Cidades, é falar e reflectir sobre o modo como vivem as pessoas e qual a qualidade de vida que cada habitante tem em cada cidade que habita. E é um fenómeno extenso e complexo falar das Cidades à luz do século XXI. Complexo pela natureza dos interesses cruzados na edificação das cidades e extenso porque as Cidades são feitas a partir de diferentes saberes, olhares, perspectivas, mas sobretudo por pessoas. E aqui entra inevitavelmente o Pensamento. Porque há Cidades no mundo que foram pensadas, desenhadas e definidas em Planos Directores Municipais ou noutras designações que definem o desenho das Cidades. E o tema deste 3º CHIEL é a Ecologia dos Lugares entre outras abordagens. E aqui importa recordar várias coisas e uma questão:Ao Falar de Ecologia do Desenvolvimento Humano é também lembrar Urie Bronfenbrenner e ressaltar que estamos contextualmente apoiados em quatro níveis dinâmicos e interrelacionados: a Pessoa, o Processo, o Contexto e o Tempo. “Antes porém, há que se dizer que esta é uma abordagem teórico-metodológica cuja principal referência, Bronfenbrenner, é um pesquisador vivo, com intensa atividade científica e académica, portanto, é uma abordagem em constante construção”, conforme refere a Professora brasileira e Investigadora Paola Biasili Alves da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

    É curioso notar que nesta questão sobre a Ecologia, Paola Basili Alves fala aqui na descrição do livro A Ecologia do Desenvolvimento Humano: Experimentos Naturais e Planejados, salientando a investigadora que “a leitura deste livro é fundamental para a compreensão deste modelo teórico e para o planejamento de pesquisas que tenham como objetivo uma visão ecológica do desenvolvimento. Pontuado este objetivo, é interessante trazer alguns dados acerca da vida de Bronfenbrenner, permitindo aos leitores uma proximidade maior entre autor e modelo teórico”.

    A Investigadora brasileira Paola Basili Alves descreve nesta matéria que “Urie Bronfenbrenner nasceu em 29 de Abril de 1917, em Moscovo, num momento de profundas transformações sociais e políticas (o início da ascenção comunista). Veio ainda criança para os Estados Unidos, sendo criado dentro da tradição judaica, convivendo desde então, em um ambiente multicultural, tendo contato com diferentes grupos étnicos e culturais durante sua escolarização (Krebs, 1995). Acentuando seu contato com diferentes modos de viver e pensar, Bronfenbrenner morava com os pais em uma instituição rural para o tratamento de pessoas com retardo mental, com idade variando entre três e oitenta anos. Formado em Psicologia e Música pela Universidade de Cornell, durante os cursos de graduação e, posteriormente, em sua vida acadêmica, estiveram presentes autores como Kurt Lewin, Ted Newcomb e David Levy, entre outros”, destaca a autora deste trabalho sobre Urie Bronfenbrenner. E refere que “ todos eles com importantes colaborações na formulação e desenvolvimento dos pressupostos da Abordagem Ecológica, que tem seu início na década de setenta (Krebs, 1995)”.

    Mas ao analisar a obra, Paola Basili diz que “em seu livro, Bronfenbrenner apresenta uma proposta ecológica de desenvolvimento, na qual existem aspectos fundamentais, diferentes dos da psicologia clínica (diádica) e científica (laboratorial e psicodiagnóstica) realizada até então. A Abordagem Ecológica do Desenvolvimento privilegia os aspectos saudáveis do desenvolvimento, os estudos realizados em ambientes naturais e a análise da participação da pessoa focalizada no maior número possível de ambientes e em contato com diferentes pessoas – díades, tríades, etc (Bron-fenbrenner, 1996). O desenvolvimento humano é, então, definido como “o conjunto de processos através dos quais as particularidades da pessoa e do ambiente interagem para produzir constância e mudança nas características da pessoa no curso de sua vida”. (Bronfenbrenner, 1989, p.191). Mas destaca igualmente que “o livro valoriza os processos psicológicos e sua relação com as multideterminações ambientais, sem negligenciar a importância dos fatores biológicos no decorrer do desenvolvimento. Dividido em quatro partes, apresenta: Uma Orientação Ecológica, onde o autor pontua os conceitos básicos sobre os quais irá tratar; Elementos do Ambiente, que discute a importância das relações interpessoais, a vivência em diferentes sistemas e o desempenho de papéis; A Análise dos Ambientes, tratando os temas da inserção de ambientes naturais como ambientes de pesquisa, e a visão ecológica de desenvolvimento possível dentro de instituições (creches, escolas, etc); e Além do Microssistema, que traz discussões aprofundadas sobre três sistemas ecológicos: mesossistema, exossistema e macrossistema, sempre apontando para a dinâmica de interação entre estes contextos. No decorrer destas quatro partes, Bronfenbrenner cita 14 definições, oito proposições e 50 hipóteses, esclarecendo os direcionamentos teóricos da Abordagem e comentando estudos sobre desenvolvimento realizados por diversos pesquisadores”. Efectivamente o tema que irá ser discutido e já decidido pelo Secretariado Científico do 3º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono, inclui a Ecologia dos Lugares como elemento central e decisivo para a urbanização das Cidades e sobretudo levanta a questão associada a questão demográfica. Há uma relação direta entre a Ecologia e a Demografia. Cidades com forte densidade populacional e sem suporte ecológico sustentável serão cidades apropriadas para habitar? É uma e perpetuação de sentimentos – de preferência positivos – no decorrer do processo), permitindo em conjunto vivências efetivas destas relações também em um sentido fenomenológico (internalizado).A participação da criança em mais de um ambiente com as características descritas acima a introduz em um mesossistema, que é definido como um conjunto de microssistemas. A transição da criança de um para vários microssistemas abrange o conhecimento e participação em diversos ambientes (a família – nuclear e extensa -, a escolinha, a vizinhança, etc), consolidando diferentes relações e exercitando papéis específicos dentro de cada contexto. Num sentido geral, este processo de socialização promove seu desenvolvimento. Esta passagem, chamada por Bronfenbrenner de transição ecológica, é mais efetiva e saudável na medida em que a criança se sente apoiada e tem a participação de suas relações significativas neste processo”. A realização deste 3º Congresso Internacional em São Paulo vai de encontro à realidade anteriormente citada se pensarmos apenas no ambiente em que a criança nasce e se movimenta, mas igualmente no ambiente cultural que centra a realidade da criança e da Comunidade no seu todo. Se atendermos às realidades urbanas e culturais das nossas Cidades capitais e ao peso demográfico notório e significativo em cada dia, verificamos que os desafios que se colocam aos políticos e aos autarcas são muito, mas muito complexos. Mas apesar das dificuldades e dos problemas a enfrentar, há soluções urbanas e meios que possibilitam aos decisores encontrar caminhos para alterar, modificar e executar requalificação urbana em moldes mais sustentáveis. Uma obrigatoriedade urbana, deveria ser a criação de múltiplos espaços verdes e uma adequada preservação e utilização dos mesmos. Erguer e planear Cidades sem espaços verdes, é na minha opinião anular o natural crescimento saudável de um lugar.

    Por isso, ao analisar o livro de Urie Bronfenbrenner, Paola Basili fala numa questão importante e que cito: “Ao tratar do exossistema, Bronfenbrenner considera os ambientes onde a pessoa em desenvolvimento não se encontra presente, mas cujas relações que neles existem afetam seu desenvolvimento. As decisões tomadas pela direção da escolinha, os programas propostos pelas associações de bairro, as relações de seus pais no ambiente de trabalho são exemplos do funcionamento deste amplo sistema. Além do exossistema, Bronfenbrenner descreve omacrossistema, que abrange os sistemas de valores e crenças que permeiam a existência das diversas culturas, e que são vivenciados e assimilados no decorrer do processo de desenvolvimento. É importantíssimo dizer que a relação entre estes quatros sistemas, quando analisada aparece profundamente coerente, demarcando a interação dinâmica entre eles”. O respeito pela Ecologia ou pelo Ambiente e as demais envolventes urbanas estão claramente ligadas a uma linha de valores culturais e de crenças que não podem ser dissociados de uma “ interação dinâmica”. É uma facto inegável.

    Segundo Bronfenbrenner, a pesquisa que se pretende ecológica deve conter dados relativos ao maior número de sistemas dos quais a pessoa focalizada participa. Desta forma, a Abordagem Ecológica do Desenvolvimento privilegia estudos longitudinais, com destaque para instrumentos que viabilizem a descrição e compreensão dos sistemas da maneira mais contextualizada possível. Contudo, nada impede o pesquisador de se interessar somente por aspectos de um único microssistema da pessoa focalizada. Seu estudo terá características ecológicas na medida em que a realização da pesquisa e a discussão dos resultados não ignorem aspectos relativos aos demais sistemas e suas possíveis influências dentro do processo estudado.

    O livro A Ecologia do Desenvolvimento Humano: Experimentos Naturais e Planejados traz para os leitores uma visão de desenvolvimento humano plenamente contextualizada. Bronfenbrenner, diz Paola Basili “explicita a necessidade dos pesquisadores estarem atentos para a diversidade que caracteriza o homem – seus processos psicológicos, sua participação dinâmica nos ambientes, suas características pessoais e sua construção histórico-sócio-cultural. Aponta para uma série de estudos realizados, onde faz críticas sociais e salienta aspectos éticos, fundamentais na estruturação de um projeto de pesquisa e na divulgação dos dados”.

    Originalmente publicado em 1979, e com a versão em português completando um ano, é um livro a ser conhecido e que traz uma visão de pesquisa em Psicologia do Desenvolvimento ampla, instrumentalizando teórica e metodologicamente pesquisadores interessados nas mais diversas relações Pessoa-Ambiente, em diferentes contextos sócio-culturais. No conhecimento da Abordagem Ecológica do Desenvolvimento, esta é uma primeira leitura, que traz conceitos básicos. No decorrer das obras do autor, estes conceitos vêm sendo aperfeiçoadas e novos pressupostos são apresentados e discutidos, tornando os quatro núcleos de análise do desenvolvimento (Pessoa, Processo, Contexto e Tempo) teoricamente acessíveis e contextualizados dentro do modelo ecológico de pesquisa.

    “Urbanismo, Cultura e a Ecologia dos Lugares”, constituem os temas do 3º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono, em cujas anteriores edições, a Universidade Agostinho Neto, a Ordem dos Arquitectos de Angola e outras estruturas ligadas ao Ministério do Planeamento e Urbanismo do nosso País tiveram uma grande representação. Estou certo que perante os desafios actuais e futuros que as nossas Cidades angolanas enfrentam, será uma boa oportunidade que representantes das áreas ligadas ao Urbanismo, à Cultura, ao Ambiente e à Arquitectura pudessem estar presentes nesta reunião internacional ligada à Habitação.

    O nosso processo de reconstrução tem passado e passará por várias transformações e creio que a partilha de experiências a este e noutros domínios trarão também outras visões e conhecimentos que em muito podem contribuir para a Habitação em Angola e para a Arquitectura angolana em geral. Partilhar conhecimento e aprendizagens num quadro de reciprocidade é um imperativo global. (opais.co.ao)

    por Gabriel Baguet Jr.

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