A “delinquência e a violência estão aumentando por conta também do uso substâncias psicoativas que pouco a pouco vão ganhando mercado, novos corruptos e corruptores”, dizem os bispos que alertam para o facto de estar “a crescer a cultura da intimidação, geradora do medo e da insubordinação”.
A cultura da intimidação aumenta em Angola, o quadro social do país continua a inspirar muitos cuidados e o desemprego é muito elevado, principalmente entre os jovens.
Este cenário foi descrito pelo pelo vice-presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Estanislau Marques Chindecasse, nesta quinta-feira, 9, em Luanda, na abertura da I Assembleia Plenária da organização.
No comunicado lido à imprensa, os bispos enaltecem “a aposta na reconstrução e recuperação de estradas, principalmente primárias, a construção de escolas, hospitais e de mais empreendimentos estruturantes”, mas lamentam a “preocupante” situação de pobreza em que se encontram muitas famílias angolanas.
“Apesar da vontade expressa, o quadro social do país continua a inspirar muitos cuidados, o nível de pobreza das nossas famílias continua preocupante”, disse Chindecasse ao ler o comunicado assinado pelo presidente da CEAST, Dom Manuel Imbamba.
A nota usa como referência um relatório da organização não-governamental Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA) para dizer que os angolanos que vivem em zonas mais recônditas do país sentem a pobreza “numa proporção asfixiante”.
“Daí a vulnerabilidade a que estão expostos diante de muitos charlatões e burladores”, continua o comunicado da CEAST que aponta o “elevado índice” de desemprego, sobretudo no seio dos jovens, facto que “está a provocar a fuga de muitos deles para outras paragens do mundo”.
A “delinquência e a violência estão aumentando por conta também do uso substâncias psicoativas que pouco a pouco vão ganhando mercado, novos corruptos e corruptores estão a nascer adiando sempre o desenvolvimento do país e a satisfação dos cidadãos”, dizem os bispos que alertam para o facto de estar “a crescer a cultura da intimidação, geradora do medo e da insubordinação”.
Procura de soluções
Os bispos católicos também lamentam que “a estrutura social continua desestruturada potenciando situações de violência, vício generalizado e injustiças endémicas” e consideram que a solução para os referidos problemas passa pelo “envolvimento de todas as forças activas da sociedade, incluindo a igreja”, e urge a “reforma autêntica do Estado”, a renovação interior de todos os cidadãos e a realizção das autarquias.
Nesta procura de soluções, a CEAST diz impor-se “uma escolarização forte, desde o pré-escolar ao superior, com o foco na ética e valorizando a figura do professor”.
Numa leitura às eleições de 24 de Agosto, os bispos reconhecem que foram um acontecimento importante, que, “apesar das várias perplexidades”, manteve a continuidade governativa.
“Felizmente cresce dia após dia clamando não por uma Angola de militantes, de patriotas comprometidos e consequentes, não por uma Angola de intriguistas, intolerantes e elitistas, mas por uma Angola de todos e para todos”, destaca a nota que, ainda na leitura das eleições, diz que elas “ajudaram a perceber a necessidade urgente de se investir nas instituições republicanas que estejam acima dos interesses partidários e na reforma profunda do Estado”.
Angola inclusiva
Os bispos pedem ainda uma Angola “inclusiva, acolhedora e cultora do mérito, da competência, do diálogo consensual e da alegria para todos os seus filhos e filhas e incentivadora da convivência plural, cordata e fraterna”.
“Não obstante as dificuldades próprias, inerentes ao mundo político governativo, continuamos a alimentar a esperança de dias melhores para o nosso país”, dizem os líderes católicos de Angola e São Tomé e Príncipe, que, durante a reunião que termina no dia 16, irão discutir autossustentabilidade da Igreja em Angola, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 e o Acordo Quadro entre a Santa Sé e o Estado angolano, assinado em 2019.