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    Software israelita espiou jornalistas, políticos e ativistas de todo o mundo

    A empresa, fundada em 2011 a norte de Telavive, comercializa o ‘spyware’ Pegasus, que, inserido num ‘smartphone’, permite aceder a mensagens, fotos, contactos e até ouvir as chamadas do proprietário.

    A investigação publicada no domingo por um consórcio de 17 órgãos de comunicação internacionais, incluindo o jornal francês Le Monde, o britânico Guardian e o norte-americano The Washington Post, baseia-se numa lista obtida pelas organizações Forbidden Stories e Amnistia Internacional, que incluem 50 mil números de telefone selecionados pelos clientes da NSO desde 2016 para potencial vigilância.

    A lista inclui os números de telefone de pelo menos 180 jornalistas, 600 políticos, 85 ativistas de direitos humanos e 65 líderes empresariais, de acordo com a análise realizada pelo consórcio, que localizou muitos em Marrocos, Arábia Saudita e México.

    Uma análise forense de 37 smartphones mostra que muitos indicam uma estreita correlação entre as marcas de tempo associadas a um número da lista e o início da vigilância. Destes 37 telefones, 23 foram pirateados com sucesso, enquanto os outros 14 mostraram sinais de tentativa de hacking.

    Os números da lista não estão atribuídos mas a investigação conseguiu identificar mais de 1.000 pessoas em mais de 50 países, incluindo vários membros da família real da Arábia Saudita, pelo menos 65 executivos de empresas, 85 ativistas dos direitos humanos, 189 jornalistas e duas mulheres próximas do jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado em 2018. A lista contém também os números de vários chefes de Estado e primeiros-ministros, e mais de 600 políticos e funcionários governamentais, incluindo ministros de gabinete, diplomatas e funcionários militares e de segurança.

    Entre os jornalistas cujos números aparecem na lista profissionais que trabalham para meios de comunicação social dos EUA como a CNN, Associated Press, Voice of America, The New York Times, The Wall Street Journal e Bloomberg News, bem como o francês Le Monde, o britânico Financial Times e o catari Al Jazeera, entre outros.

    De acordo com a investigação, vários dos números da lista estavam concentrados em 10 países: Azerbaijão, Bahrain, Hungria, Índia, Cazaquistão, México, Marrocos, Ruanda, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Os governos destes 10 países aparecem como clientes do Grupo NSO.

    Governo francês considera caso “grave”
    O Governo francês anunciou que vai pedir uma investigação às suspeitas de espionagem em massa de jornalistas, ativistas e dissidentes políticos, através de um ‘software’ desenvolvido por uma empresa israelita.

    “São factos extremamente chocantes e, se forem verdade, são extremamente graves”, disse esta segunda-feira Gabriel Attal, porta-voz do Governo francês, anunciando que será pedida uma investigação e esclarecimentos, após as revelações feitas no domingo sobre um caso de espionagem.

    Na Hungria, os deputados da oposição também exigiram um inquérito sobre as denúncias, alegando suspeitas de que o Governo húngaro terá usado o ‘software’ para espiar jornalistas críticos do regime, bem como políticos e empresários.

    Em França, também o jornal digital Mediapart anunciou que vai apresentar queixa ao Ministério Público de Paris sobre este caso, referindo que, na lista de jornalistas espiados, estão o seu diretor, Edwy Plenel, e o repórter Lénaig Bredoux, cujos números de telemóvel estavam entre os 10 mil que os serviços secretos marroquinos controlavam através do Pegasus.

    Também o advogado francês Joseph Breham, cujo escritório acolheu o caso de dissidentes políticos marroquinos no Saara Ocidental, vai apresentar uma queixa, pelos crimes de violação do segredo profissional, receção e intercetação de mensagens e violação de sistema automatizado de processamento de dados.

    Na Hungria, três deputados da oposição, que pertencem à comissão parlamentar de segurança nacional, convocaram uma sessão de emergência para questionar as agências governamentais sobre o seu envolvimento neste ato de espionagem.

    Janos Stummer, do partido Jobbik, chamou a atenção para o facto de as ações reveladas pela investigação “não serem permitidas num Estado de Direito”, anunciando que será pedido um rigoroso inquérito sobre a possibilidade de o Governo se ter servido do ‘software’ de espionagem para aceder a dados de vários alvos na Hungria, incluindo pelo menos 10 advogados, um político e cinco jornalistas.

    Como funciona o Pegasus?
    Pegasus é um poderoso spyware que se acredita ser capaz de roubar toda a informação de um smartphone, incluindo nomes e números de telefone de todos os contactos, mensagens de texto e redes sociais, emails, etc. Além disso, o programa pode ligar a câmara e o microfone do telefone ou recolher dados de localização e registos de chamadas.

    Para que o Pegasus infete um telefone envia o que é conhecido como uma ligação de armadilha que persuade a vítima a pôr o telefone sob escuta para ativar este spyware. Contudo, nalguns casos, o Pegasus pode ser instalado sem a intervenção do utilizador, um mecanismo chamado “clique zero”.

    Grupo NSO nega acusações
    Em resposta à investigação, a empresa de vigilância israelita disse que “nega categoricamente as falsas alegações” da investigação, tratando o assunto como “teorias não fundamentadas que levantam sérias dúvidas sobre a fiabilidade das fontes, bem como sobre a base da história”.

    O Grupo NSO “não opera os sistemas que vende a clientes governamentais controlados, nem tem acesso aos dados alvo dos seus clientes. O Grupo NSO não opera a sua tecnologia, nem recolhe, possui, ou tem acesso a quaisquer dados de clientes”, sustentou a empresa, que se recusou a revelar a identidade dos compradores do seu software “devido a considerações contratuais e de segurança nacional.

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