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    Regular e controlar os nossos cursos de água doce – Nuno Santos

    Estava um dia destes a registar imagens no rio Kwanza, nas cercanias do Calumbo, quando o proprietário de uma embarcação, ofendido pelo olho clínico da câmara, resolve metros depois interromper a viagem, para arrancar do repórter explicações, por ter registado a sua imagem a navegar pelo rio abaixo.

    Ao interpelar o repórter fê-lo em tom ameaçador, exigindo que apagasse imediatamente o registo, o que causou algum espanto ao profissional, cujo propósito era apenas registar um instantâneo que comprovasse a navegabilidade do Kwanza. Não havia da sua parte a mínima intenção de ofender nem algo parecido.

    Ao esclarecer o seu gesto ao reclamante, sentiu da outra parte uma resposta natural de quem fazia o seu trabalho sem a intenção de qualquer ofensa ao responder:

    “Tens razão moço. Apanhei-te por acaso num dos planos da foto. Mas não é caso para reclamares, porque navegar nas nossas águas marítimas e fluviais também pressupõe uma autorização oficial. Tens por acaso aí a tua cédula e matrícula da embarcação, para navegares no rio Kwanza?”

    O jovem encolheu-se todo diante da questão demonstrando não estar na posse de qualquer identificação da embarcação. Posto isto resolve rapidamente alcançar o seu meio e partir a toda a velocidade, rio abaixo, com medo de ser apanhado nas malhas da justiça.

    Serve o exemplo para alertar as autoridades para o facto de no rio Kwanza se permitirem abusos contra a sua integridade, quando são lançados no seu leito dejectos humanos e industriais das nossas fábricas, que poluem as suas águas e o que é mais grave, a travessia clandestina de embarcações que sulcam o rio em direcção ao alto mar, onde estão ancorados navios de grande calado, que recebem toda a gama de produtos substraídos do nosso solo e subsolo.

    Na lista estão empresas de vários países, cadastradas e com visibilidade reconhecida, no mapa de cooperação a utilizar a escuridão dos nossos rios levando para os navios estacionados no alto mar, o produto adquirido sem o controlo das autoridades. Caso para dizer: O nosso país está a saque. E sem guarda que o valha, nesta escalada de delapidação silenciosa dos seus recursos.

    O Kwanza já não é apenas o grande e majestoso rio que conserva nobres tradições e cultura, de respeito e admiração. É uma via de comunicação onde fluem interesses vários, de esquemas gizados e executados pelo crime organizado, com o nosso consentimento, num país onde os interesses instalados falam mais alto, e outros são moeda corrente à escala doutros valores interesseiros. O que é realmente de lamentar!

     

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