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    Protestos e tensão marcam ambiente pós-eleitoral no Brasil

    Um dia após a vitória de Lula na segunda volta das presidenciais, ambiente pós-eleitoral é cada vez mais conturbado. Apoiantes de Bolsonaro bloqueiam centenas de estradas. Analista alerta para “retrocesso” na democracia.

    Centenas de rodovias no Brasil, incluindo as principais vias dos grandes centros urbanos, estão bloqueadas por motoristas que apoiam o Presidente Jair Bolsonaro, que foi derrotado nas urnas.

    Em entrevista à DW África, o cientista político Leonardo Paz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembra a invasão do Capitólio nos Estados Unidos e diz que os bloqueios nas estradas brasileiras são um “processo antidemocrático em reação ao processo eleitoral”, uma vez que os manifestantes estão a pedir uma intervenção militar contra o resultado das eleições.

    Não bastasse a tensão criada por estes protestos, o silêncio de Jair Bolsonaro sobre o resultado da votação também tem gerado preocupações. Para o cientista político, a demora do Presidente em reconhecer a sua derrota é um “retrocesso” para a democracia brasileira.

    Segundo Paz, esse movimento de Bolsonaro faz parte de “um conjunto de ações do Governo”, que no período de campanha colocou em causa o processo eleitoral do país – o que foi amplamente rejeitado pelas instituições e pela sociedade civil.

    DW África (DW): O resultado das eleições foi divulgado há mais de 24h e até agora nenhuma reação do Presidente. Porquê a demora de Jair Bolsonaro?

    Lenardo Paz (LP): Nossa primeira perceção, de momento, é que ele está frustrado com a perda da eleição. Ele não sabe o que dizer, porque ainda não se articulou com os seus aliados mais próximos. Ele não falou com o público, ele não falou com as pessoas. Ele possivelmente estará preparando-se para qualquer tipo de ação.

    Há quem pense que ele está a participar de alguma maneira nos protestos [que estão a bloquear centenas de rodovias]. Outros dizem que ele está simplesmente no módus de negação e, por não saber o que fazer, não se manifesta. Resta saber se se trata de um silêncio absoluto, ou se ele está a preparar-se para fazer algo, por exemplo esperar pela situação dos camionistas e dos seus seguidores. Possivelmente ele esteja à espera de uma escalada do conflito para que ele possa atuar, por exemplo, colocando as forças armadas para começar a ocupar pouco a pouco esse terreno.

    DW: É uma situação inédita o Presidente em exercício não aparecer em público e não reconhecer o resultado oficial de uma eleição. O que o silêncio de Bolsonaro representa para democracia brasileira?

    LP: É um retrocesso muito ruim. Lamentavelmente isso faz parte de um conjunto de ações do Governo, que desde a campanha eleitoral já questionava [a eficácia] das urnas eletrónicas sem ter provas, pedia o envolvimento dos militares, argumentava que não ia reconhecer o resultado se não houvesse votação através de cédulas de papel. Isso já era um retrocesso por si só. Este não reconhecimento agora é um exemplo de como uma democracia não devia funcionar…

    DW: Aliados e membros do Governo dizem que Bolsonaro está a preparar um discurso para reconhecer o resultado das eleições, mas que não deve parabenizar o Presidente eleito Lula. Como avalia essa postura?

    LP: Não é uma boa prática. Mas isto não constitui um golpe ou uma ameaça à democracia. É só uma falta de respeito pelo cargo.

    DW: Centenas de rodovias do Brasil estão bloqueadas por motoristas que apoiam o Presidente Bolsonaro. Como avalia esse tipo de manifestação pós-eleitoral no Brasil?

    LP: Eu acho que é gravíssimo. É muito grave. Os trabalhadores brasileiros têm o direito constitucional de protestar. Mas que tipo de protesto, previsto na lei , é que eles têm o direito de fazer? É o direito ao protesto por melhores condições de trabalho, por exemplo. Estes protestos não são nada disso. Isto são protestos de um grupo de pessoas que está a pedir uma intervenção militar, que está a pedir a não completação do processo eleitoral. Isso é golpe. Boa parte do país está travada. O aeroporto interncional de Guarulhos [em São Paulo], por exemplo, que é a maior porta de entrada internacional do país, está travado. Isto é muito, muito sério.

    DW: Este episódio assemelha-se à invasão do Capitólio que ocorreu depois das eleições nos Estados Unidos?

    LP: Este caso, aqui no Brasil, é mais sério ainda, porque ele dana ainda mais a economia do país. Este episódio é muito menos simbólico. A invasão do Capitólio foi uma ação muito mais simbólica, onde pessoas mortas, mas, para o país como um todo, este episódio, aqui no Brasil, é muito mais grave. Ambas as ações são comparáveis, na medida em que são formas de protesto antidemocráticas, como reação a um processo eleitoral.

    DW: Acha que essa situação pode sofrer uma escalada a partir do pronunciamento do Presidente? Qual será a reação dos camionistas, em ambos os cenários, ou seja caso Bolsonaro aceite o resultado da eleição ou caso recuse aceitar?

    LP: Se o Bolsonaro aceitar que perdeu, eu penso que isso vai reduzir e acalmar os ânimos das pessoas responsáveis por esses atos. Se o Presdiente falar que teve fraude, ou coisa parecida, eu acho que ele vai anima esse pessoal, e aí, pessoas que já estavam mais ou menos frustradas poderão vir a juntar-se naqueles atos.

    Fonte DW

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