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    Angola 40 anos: Para o MPLA, a vitória é certa porque está alicerçado no povo – Roberto de Almeida

    O vice-presidente do MPLA, Roberto Victor de Almeida, disse à Angop, em Luanda, que o partido maioritário contou sempre com o apoio popular e é essa força que galvaniza o MPLA para todas as acções que empreende com a determinação e certeza na vitória, porque está alicerçado no povo.

    Angop – Este Trabalho cinge-se ao 40º aniversário da Independência de Angola. Assim, de forma genérica, gostaríamos que nos dissesse quais, do seu ponto de vista, os aspectos mais marcantes da vida da Nação nestes 40 anos?

    Roberto de Almeida (RA) – De forma genérica, ao longo dos 40 anos houve muitos factos marcantes. Desde logo, devo dizer que depois da proclamação da independência, em Novembro de 1975, o feito mais importante, do meu ponto de vista, foi termos, ao longo dos 40 anos que se seguiram, sabido preservar a independência; preservar a conquista feita; preservar a soberania, a integridade territorial e a unidade da Nação angolana. Isso foi um feito muito importante e foi o que permitiu que, depois, déssemos outros passos. Sem essa resistência; sem essa defesa intransigente do que conquistamos em Novembro de 75, não haveria a Angola que temos hoje. Para mim, esse é o facto primordial. O mais importante. E há que reconhecer, nesta altura, todos aqueles que se bateram por essa preservação, pela defesa daquilo que foi tão caro para todos nós.

    Depois temos outros factos importantes: a batalha para a reconstrução nacional em condições extremamente difíceis, com investidas de forças inimigas, com falta de quadros, com falta de condições materiais e técnicas para iniciarmos o arranque do país, em termos de produção; em termos de busca de desenvolvimento. Não obstante todos estes factores, conseguimos, mesmo assim, algumas realizações muito importantes e isso marcou também a determinação do nosso governo, desde o tempo de Agostinho Neto e depois na continuação do mandato do Presidente José Eduardo dos Santos.

    O nosso governo nunca arreou os braços, permitam-me o termo, porque, apesar de alguns revezes que sucederam, houve sempre a determinação de seguir em frente. Por exemplo, mesmo com estradas minadas, nós nunca desistimos de organizar comboios de camiões para abastecer as províncias do interior; mesmo com pontes derrubadas, nunca desistimos de as reconstruir e a prova é que há pontes que foram minadas mais que uma vez, saltaram com bombas mais que uma vez e teimamos em reconstruí-las. Para não falarmos das questões sociais. O benefício que foi para a população, em condições extremamente difíceis, puder receber assistência médica, mesmo deficitária e medicamentosa; as crianças sentadas em latas de leite e em pedras, sem algum livro, algum caderno, algum lápis para começar a pensar na vida futura. Portanto, são factos importantes demais para o nosso país e que todo angolano honesto deve reconhecer.

    Angop – E enquanto partido que governa Angola, como avalia estes 40 anos de independência?

    RA – O MPLA sempre defendeu o povo e creio que é essa ligação permanente ao povo que faz com que tenha a quota de credibilidade que possui até hoje. Há pessoas que dizem que o MPLA nem sempre esteve ao lodo do povo, mas eu não vejo ao longo da história do MPLA um único momento em que as armas se viraram contra o povo. Nós estivemos sempre na defesa das populações, estivemos sempre no apoio às populações, naquelas iniciativas em que procuramos reduzir o seu sofrimento, atenuar o seu sofrimento, e o MPLA contou sempre com o apoio popular, também, e é essa força que galvaniza o MPLA para todas as acções que empreende com a determinação e certeza na vitória, por que está alicerçado no povo.

    Angop – De entre todas as ex-colónias portuguesas, Angola foi a que teve o processo de descolonização mais difícil. Em sua opinião, a que se deve?

    RA – Angola era o trinco, a charneira, para sobrevivência dos regimes da Rodésia, Namíbia e da África do Sul. Se o trinco de Angola saltasse, então a onda de descolonização e emancipação dos povos iria avançar rapidamente por esses bastiões do apartheid e da discriminação racial que sobreviviam, ainda, aqui no nosso continente e foi efectivamente isso que aconteceu. Houve aqui uma tentativa quase sobre-humana de impedir que Angola se tornasse independente, não só porque assegurava a continuação desses regimes, o regime de Ian Smith e o regime do apartheid na África do Sul e na Namíbia, mas, também, pelos recursos que Angola encerra e pela posição estratégica dominante em relação ao continente africano e ao sul do Atlântico. Todas estas razões fizeram com que Angola fosse, com unhas e dentes e com todas as forças possíveis, investida, para que se impedisse a ascensão de Angola à independência, ou pelo menos retardá-la o mais possível. Este plano foi posto em prática, mas, felizmente, não vingou.

    Nós conseguimos derrubar esse plano com o apoio de forças amigas, as forças internacionalistas cubanas que nos deram o apoio necessário, mas da parte dos colonialistas portugueses e seus aliados houve muitas alianças que se forjaram. Escuso voltar a falar da reunião que houve na Ilha do Sal, em Cabo Verde, nos Açores (Portugal) e outras em que se estava a maquinar planos para impedir a ascensão de Angola à independência. Não foi bem vista a libertação de Angola e também não foi bem vista que essa libertação se fizesse com o MPLA no poder. Esse era o pior cenário possível para as entidades que, no plano internacional, estavam a manobrar para impedir, ou retardar o máximo possível, a independência de Angola.

    Angop – Será que estes factos tiveram alguma influência no desenrolar de todos os acontecimentos que se seguiram, como os momentos difíceis do pós-independência?

    RA – Sim. Houve, naturalmente, reflexos muito profundos na caminhada posterior de Angola. Primeiro, consumou-se uma divisão entre as forças que lutavam, até então, pela libertação de Angola. Houve uma fractura, uma clivagem absolutamente clara e vimos depois, pelas alianças que se fizeram, que os objectivos eram completamente diferentes, nem todos pensavam o mesmo para Angola. É assim que foram proclamadas outras independências noutras partes do território angolano que, felizmente, também não vingaram. Mas isso teve reflexos de vária ordem no plano político, no plano internacional. Basta dizer que a nossa independência foi reconhecida muito mais tarde, em Fevereiro do ano seguinte; a nossa admissão na ONU também e mesmo na própria Organização de Unidade Africana foi difícil, porque se chocavam ali interesses diferentes. Isto sem falarmos do plano económico, em que o país estava praticamente sem produção, dependendo extremamente do exterior; sem técnicos capazes, com fábricas paradas, fechadas, algumas bombardeadas mesmo. Era um cenário muito difícil que trouxe, no plano social, um cortejo de pessoas necessitadas; pessoas desalojadas do seu habitat, sem condições de sobrevivência, fugidas dos seus próprios lares com a dispersão das famílias; pais e filhos, cada um para o seu lado. Enfim, uma quantidade de dificuldades com que o governo tinha que lidar. Um governo recente, sem experiência de governação e sem quadros, sem pessoas capazes de se dedicarem a maior parte dessas tarefas. Claro que procuramos forças ali onde era possível. Socorremo-nos da cooperação estrangeira em muitos casos e enfim conseguimos sobreviver. Chegamos aos 40 anos que comemoraremos em grande, estou certo, dentro em breve.

    Angop – Qual foi a estratégia do MPLA para sobreviver a esse primeiro momento para o qual não estava preparado, os primeiros anos do pós-independência?

    RA – A primeira estratégia foi, sem dúvida, manter o povo unido, congregado à volta do ideal que o MPLA defendia de Unidade Nacional: De Cabinda ao Cunene vamos manter a unidade do Povo. Logo a seguir a formação de quadros. Enviamos muitos jovens para outros países, para formação em todos os domínios, inclusive da Defesa, porque passamos da guerrilha para o exército convencional e não foi fácil essa adaptação em andamento, pois não paramos a guerra para formar quadros, mas foi precisamente no decurso da guerra e todos esses elementos são extremamente importantes.

    Angop – É visível o crescimento de Angola ao longo dos 40 anos, mas, ainda assim, vive-se, em Angola, momentos de descontentamento. A que se deve esse descontentamento?

    RA – As necessidades do ser humano são sempre em ordem crescente. À medida que eu satisfaço uma necessidade presente, nascem outras necessidades. O ser humano não se contenta em ficar onde está com aquilo que tem, quando ganha alguma coisa, aspira ter mais e é natural essa sede de satisfação crescente das suas necessidades. E isso aconteceu também com o nosso povo, que passou do colonialismo para a independência de maneira rápida e com um decréscimo de condições próprias da sua evolução natural, porque à medida que formávamos quadros, dava a sensação de que os postos de trabalho reduziam. Os quadros formavam-se, regressavam ao país e não tinham uma fábrica onde empregar os seus conhecimentos. E ficávamos nesse dilema. Formar quadros para quê se as fábricas ainda não tinham sido reconstruídas. Mas isso foi sendo superado à medida do possível, de maneira que é natural que haja descontentamento, que as pessoas que não satisfazem imediatamente as suas necessidades se sintam descontentes. Estamos a empreender todo o esforço para, no quadro do processo de reconstrução nacional e no quadro da implementação do Plano Nacional de Desenvolvimento, reunir cada vez mais e melhores condições, para superar todos estes obstáculos.

    Angop – No seu entender, tem havido um desempenho de todas as forças políticas do país para a consolidação do Estado/Nação?

    RA – É evidente que no nosso país, hoje, existe pluralismo. O multipartidarismo é um caldeirão onde fervilham ideias de toda a espécie e onde há seres humanos – cada cabeça a sua sentença – diz um ditado que faz bastante sentido. Cada um pensa o país a sua maneira. Claro que já temos uma maioria que pensa no sentido certo, no que devemos realizar para o nosso país e isso é o que salvaguarda esta Nação para não se fragmentar, apesar do pluralismo de opiniões. Portanto, temos a certeza de que é bom que existam outras ideias, mas é necessário que os debates cheguem a consenso, é preciso que se harmonizem as opiniões, para que se encontrem saídas, soluções para os diferentes problemas que vivemos.

    Angop – É salutar a relação político-partidária em Angola?

    RA – Creio que sim, não é uma relação conflituosa. Temos países em que as relações entre partidos são muito mais difíceis, são de tal forma antagónicas que há elementos de partidos que nem se falam. Não é o nosso caso, nem nosso desejo. O MPLA defende que haja tolerância, para que as pessoas possam conversar.

    Angop – O que se lhe oferece dizer sobre o binómio Paz/Democracia?

    RA – Sem paz não há democracia. É preciso que haja paz, tranquilidade de espírito e estabilidade social para que as liberdades sejam aperfeiçoadas, sejam progressivamente melhoradas, cada vez mais abrangentes, chegando a todos os pontos do país, chegando a todas as pessoas. Mas o primeiro passo é, evidentemente, a salvaguarda da paz. Temos que defender a paz. Temos que defender o pensamento político a que cada um tem direito, desde que se conforme com as leis do país, para que possamos crescer na diversidade própria de um país como Angola, com pessoas de várias origens, de formações diferentes; uns estudaram na Alemanha, outros em Cuba; uns estudaram o Marxismo outros o Capitalismo. É natural que haja diferenças, mas acreditamos que se possa harmonizar tudo dentro de um quadro único, que nos una a todos, que é a qualidade de sermos todos angolanos, de constituirmos uma Nação que se quer digna, próspera e que possa ascender cada vez no concerto das Nações.

    Angop – E como é que o MPLA faz essa evolução democrática, como vê a trajectória política de crescimento do MPLA?

    RA – Esse crescimento do MPLA faz-se com alguns princípios chaves que mantemos desde a guerrilha. A unidade entre os militantes. A unidade de todo o povo. Este princípio é sagrado para o MPLA. É preciso manter a unidade sem asfixiar as pessoas dentro do partido, cada um tem liberdade de pensamento, mas há valores transcendentes demais para que estejam ao sabor do livre arbítrio. Há princípios que todos os militantes do partido têm que respeitar como a unidade nacional e a liberdade dentro do conjunto.

    O MPLA é uma organização muito vasta que congrega pessoas de todas as condições, é um partido de quadros e de massas, com diferentes condições culturais e sociais, mas sabemos harmonizar tudo isso dentro do partido. Temos constituídas as nossas organizações de base que também procuram inculcar em cada militante ou amigo, em cada simpatizante este sentimento de unidade que é preciso preservar.

    Angop – Com as bases consolidadas, que desafios se apresentam ao MPLA nos próximos anos?

    RA – O desafio maior é continuar a conduzir o povo angolano. Continuar a ser a força que conduz o nosso povo, mas há também aqueles desafios que advêm da preparação de eleições. No quadro constitucional, já está estabelecido o período regular de Eleições, que temos procurado defender, satisfazer, cumprir e também a preparação de vida para as eleições autárquicas é um objectivo que o MPLA persegue.

    Angop – Considera que houve, desde o último Congresso, um melhoramento da vida interna do MPLA?

    RA – Sim. O partido tem, nas diversas etapas que atravessa, tido como base de sustentação o povo. Sem o povo o MPLA não faz nada. É preciso ter o povo como força de apoio, como força que acredita na capacidade de realização do MPLA. O MPLA não são os dirigentes do partido. O MPLA é todo o povo e assim é que cada militante deve se sentir obrigado a realizar alguma coisa que ajude o MPLA a permanecer a força em que Angola pode acreditar para continuar a crescer.

    Angop – Felizmente a história de Angola está sempre ligada à cultura, recorda-se aqui um momento dinâmico da cultura com figuras como Agostinho Neto, Jofre Rocha, Manuel Rui Monteiro, Pepetela. Calaram-se todas essas vozes?

    RA – As vozes não se calaram, apenas se alteraram as condições materiais de publicação, fora que muitas dessas obras foram escritas, ainda, na era colonial, durante a luta de libertação nacional e que não tiveram oportunidade de vir ao grande público. Escrevia-se e esperava-se pela oportunidade de publicar e editar o livro, compor a música, editar disco etc… mas, com a ascensão à independência, se abriu uma porta e trouxe-se a público todo o material que estava escondido e desconhecido. Claro que as condições materiais mudaram. Agora também se pode produzir, mas com outras exigências, a qualidade das obras encontra outras exigências. A crítica tem pendor mais profundo, de maior exigência sobre as obras que aparecem, mas os escritores estão aí com novas gerações. A cultura não morre e não pode morrer. Há escritores com outras ocupações que não lhes permitem se dedicarem a tempo inteiro às artes. Mas os músicos, artistas, escultores ainda estão presentes.

    Angop – Que lugar ocupa hoje a nossa Cultura no contexto africano?

    RA – A nossa cultura tem ganho cada vez mais projecção em todo o mundo e não só no continente a que pertencemos, mas podemos mesmo dizer internacionalmente e acho que os sucessivos desafios que temos enfrentado dão cada vez mais força aos nossos artistas, aos nossos músicos, aos nossos escultores. Enfim, há pessoas que estão a pensar na arte e a levar cada vez mais longe o nome de Angola. Ainda recentemente, na Expo/Milão, tivemos realizações que guindaram e cantaram bem alto, nos corações de todos os que tiveram oportunidade de apreciar, estratos da cultura angolana transportada para outros continentes. Portanto, esta pujança cultural, esta força telúrica que os angolanos têm no seu interior para no momento adequado afirmarem a identidade, com a sua maneira própria de estar no mundo, é isso que faz de Angola uma grande Nação.

    Angop – Mesmo a cultura africana sendo muito forte, acredita que Angola soube se impor?

    RA – Evidentemente. A cultura angolana é africana, embora algumas vozes se levantem dizendo que temos muitas influências. Mas do meu ponto de vista, são essas influências que enriquecem a nossa cultura e lhe dão uma característica própria, única, que não se confunde com outra. Somos africanos, temos o nosso sentido de africanidade, mas ao mesmo tempo ganhamos influências que enriqueceram a nossa cultura e valorizaram-na. Somos capazes de absorver outras influências positivas e dar uma característica própria à cultura do nosso país.

    Angop – África reconhece o grande papel do povo angolano, primeiro, e depois o papel de Angola, na conquista das independências da Namíbia, Zimbabwe e da África do Sul?

    RA – Houve a mudança de gerações. A geração dos combatentes da liberdade já não é a que está no poder, na maior parte dos casos, e realmente esse reconhecimento já foi mais forte, e falou mais fundo quando os combatentes da liberdade, aqueles que se empenharam decisivamente na libertação desses países, estavam no poder.

    Evidentemente que esse reconhecimento não se extingue. Hoje mesmo, ainda sentimos o eco das palavras de reconhecimento pelo esforço que o povo angolano fez e penso que isso vai perdurar por muitos anos, porque a história de qualquer um desses povos vai ter que falar disso. Acredito que esse reconhecimento não se vai extinguir nunca, que nós continuaremos a lutar ombro a ombro pelo nosso desenvolvimento. Continuamos a fazer parte, a integrar organizações que nos obrigam a privar, como é o caso da SADC e da União Africana e, naturalmente, tudo isso nos ajuda a manter vivos os laços de fraternidade que se forjaram durante a luta de libertação.

    Angop – Que mensagem gostaria de deixar à Nação pelos 40 anos de independência?

    RA – São 40 anos. Parece muito tempo, mas para a vida de uma Nação não é assim tanto tempo. O povo angolano chega a esta altura com grandes batalhas vencidas. Quero desejar que este espírito combativo do povo angolano se possa manter aceso, porque temos ainda grandes batalhas no plano económico e no plano social que requerem e vão requerer, cada vez mais, a unidade de todo o povo. Que cada angolano se sinta engajado nessa luta e que pense, antes de mais nada, em dar uma contribuição positiva para a nossa vitória em todos os domínios. (portalangop.ao)

    Por: Stela Silveira

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