Na véspera do fim do prazo das negociações entre o Irão e as potências mundiais sobre o programa nuclear iraniano, o cientista considerado “o pai” do projecto, idealizado a partir de 1973, está pessimista sobre um acerto. Em entrevista exclusiva à redacção persa da RFI, Akbar Etemad, 85 anos, admite que, na época, o Xá iraniano cogitou fabricar uma bomba nuclear.
O físico foi o primeiro director da Organização Iraniana de Energia Atómica e deixou o país no fim dos anos 1970, com a Revolução Islâmica. Foi ele quem explicou ao Xá Mohammad Reza Pahlavi sobre a importância de o país desenvolver um programa nuclear, para suprir as necessidades energéticas no futuro. Detalhou, também, o uso militar que poderia ser feito com a tecnologia.
No início, o líder não se interessou pela construção de uma bomba nuclear. “Ele disse que, naquele momento, o Irão não precisava de uma arma nuclear porque o país era muito forte militarmente”, relatou o cientista aposentado.
Alguns anos depois, no entanto, o fortalecimento militar de Israel na região o fez pensar duas vezes sobre o assunto. “Quando eu perguntei sobre isso, ele me falou: por que não? Se em 15 ou 20 anos a situação mudar, nós precisaremos ver o que vai ser necessário fazer. Na cabeça dele, havia a possibilidade de construir a arma nuclear se o Irão tivesse necessidade no futuro”, conta.
Irão “não tem a ganhar” com o acordo
No momento em que as negociações em Viena (Áustria) podem resultar em um acordo histórico entre Teerão e os países que possuem a arma nuclear (Estados Unidos, Rússia, China, Grã-Bretanha e França, além da Alemanha), Etemad diz se opor a um acerto. Para ele, o Irão “não tem nada a ganhar”, dadas as condições severas impostas pelos ocidentais para permitir a continuidade do programa nuclear com fins civis. O governo iraniano assegura que não planeia a fabricação da bomba e alega que enriquece urânio apenas para produzir energia e para pesquisas médicas.
“Se houver acordo, o programa vai acabar”, afirma o físico. “Nenhum país do mundo teria aceite o tratamento que impuseram ao Irão. A escolha de tentar submeter o Irão às ordens dos ocidentais é a pior possível”, avalia. “É um país independente, que precisa resistir à vontade dos ocidentais e tentar viver como pode, apesar de todas as sanções.”
Etemad suspeita da promessa dos ocidentais de retirar as sanções económicas impostas a Teerão em caso de um acordo sobre o programa nuclear. “Eles demonstraram tanta má vontade até agora, por que mudariam de uma hora para a outra?”, diz, ressaltando que, “a qualquer momento”, as potências ocidentais podem “inventar” novas razões para aplicar outras sanções contra o seu país. (rfi.fr)