Opositores venezuelanos difundiram neste sábado (4) em frente a quartéis um anúncio no qual seu líder, o autoproclamado presidente interino Juan Guaidó pede aos militares que cessem seu apoio ao presidente Nicolás Maduro, que pediu prontidão para um eventual ataque dos Estados Unidos.
Segundo avança a AFP, após uma frustrada insurreição militar na terça-feira passada, pequenos grupos de manifestantes se aproximaram de quarto instalações em Caracas – guardadas por militares – para entregar ou ler o anúncio, constatou a AFP.
Mobilizações similares foram registadas em outras regiões, segundo a equipe de Guaidó, que não participou das manifestações.
Em Barquisimeto (noroeste), a Guarda Nacional dispersou com bombas de gás o avanço de uma manifestação.
“Pedimos aos militares que nos ajudem no cessar da usurpação, que se unam ao povo”, disse à AFP Dina Alonso, desempregada de 53 anos, depois que mulheres tentaram sem sucesso que recebessem o documento no comando da Guarda, em Caracas.
Com megafone, um grupo de pessoas o leu diante de um comando da Marinha. Mas na sede da guarda presidencial, nem mesmo a leitura foi possível, pois vários quarteirões antes, um militar recebeu o documento apenas para queimá-lo depois.
“Sob nenhum conceito, nem pretexto, a Força Armada, nem organismo de segurança serão chantageados, comprados ou trairão a pátria”, disse o oficial diante de um manifestante impotente.
E-m seu anúncio, Guaidó pede aos militares apoiem um governo de transição liderado por ele para convocar eleições.
Distúrbios registados na terça-feira durante a rebelião e na quarta-feira protestos contra Maduro deixaram quatro civis mortos e centenas de feridos e detidos, segundo a Amnistia Internacional.
– “É agora” –
Em resposta, Maduro reuniu-se com o alto comando e 5.300 soldados em um destacamento do estado de Cojedes (noroeste), onde pediu prontidão para uma intervenção dos Estados Unidos, que não descarta essa possibilidade e no sábado convocou os venezuelanos a depor o líder socialista.
Devem “estar prontos e posicionados para defender a pátria com as armas na mão, se algum dia o império norte-americano ousar tocar esta terra”, disse Maduro.
Mais tarde, o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, dirigiu-se aos venezuelanos em vídeo para afirmar que “o momento da transição é agora” e que seu país se mantém firmemente com eles em sua luta.
Washington tenta estrangular financeiramente Maduro para que abandone a Presidência do país com a maior reserva de petróleo do mundo, mergulhado na pior crise de sua história moderna.
O governante venezuelano exigiu, ainda, alerta diante dos “traidores”, depois de na terça-feira um reduzido grupo de militares, liderado por Guaidó e seu co-partidário Leopoldo López, se sublevou na base aérea de La Carlota, em Caracas.
Guaidó não conseguiu que a rebelião provocasse uma ruptura na Força Armada, apesar de que, segundo a Casa Branca, existia um pacto entre a oposição e o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, para romper com Maduro, que supostamente fugiria para Cuba. Maduro negou.
A cúpula reiterou sua lealdade ao líder chavista, após o que 25 militares pediram asilo nas embaixadas de Brasil e Panamá, e López, que tinha sido libertado da prisão domiciliar pelos rebelados, se refugiou na residência do embaixador da Espanha.
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“Continuamos avançando na Operação Liberdade”, postou López no Twitter, ao mencionar uma conversa por telefone com o presidente do Chile, Sebastián Piñera.
O opositor assegura manter conversas com oficiais venezuelanos para o “cessar da usurpação”.
– Cuba, uma saída? –
A crise venezuelana foi abordada nesta sexta-feira pelo presidente americano, Donald Trump, e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, cujo apoio a Maduro gera tensões com Washington.
Trump ratificou seu apoio a Guaidó, enquanto Putin declarou que as tentativas de uma mudança de governo “pela força socavam as perspectivas de uma solução pacífica”.
“Não é de se estranhar que uma vez esgotada a estratégia de sanções, com o país destruído, os aliados externos sejam tentados a negociar de forma directa com o sector militar, se este decidir tomar o poder”, avaliou o analista Luis Vicente León.
Neste sábado, Cuba, aliada de Maduro, defendeu a necessidade de um diálogo “sem ameaça, nem intervenção estrangeira”, depois que o Grupo de Lima, bloco de países que também pressiona pela saída do presidente, acordasse criar pontes para que a ilha ofereça uma solução negociada.
– “Racha” –
A situação na Venezuela também foi analisada na sexta-feira com o secretário interino da Defesa, Patrick Shanahan, que disse que os Estados Unidos avaliam opções militares adaptadas às circunstâncias no terreno.
“Uma opção é que Maduro intensifique a repressão, que já é bastante severa”, afirma Michael Shifter, do Diálogo Interamericano. Mas adverte que a situação pode sair das mãos de alguns oficiais se negam a executar estas ordens, o que provocaria um racha maior.
Uma detenção de Guaidó não parece iminente, diante da advertência americana de que este seria o “último erro da ditadura”.-