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    O novo partido do presidente é o partido do senhor Valdemar

    “Pior que tá não fica”.

    Ao menos para os dirigentes do Partido da República, resultado da fusão entre o PL de Valdemar Costa Neto e o Prona, de Enéas Carneiro, pior que estava não ficou. Pelo contrário.

    Com o lançamento do palhaço Tiririca para concorrer a uma vaga na Câmara em 2010, o partido conseguiu vitaminar a sua base de deputados. Com o puxador de votos e seu slogan para atrair os descontentes, o partido praticamente dobrou sua bancada, de 23 para 41 parlamentares na Casa. Um caso de sucesso que não foi observado nem mesmo em 2002, quando a legenda emplacou o candidato a vice-presidente José Alencar na chapa vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, o partido de Valdemar Costa Neto havia eleito 26 deputados.

    Querendo repetir o fenômeno Tiririca de 2010, o partido, rebatizado novamente de PL, conseguiu atrair para suas bandas uma outra antiga atração de TV. Jair Bolsonaro era a piada pronta de programas duvidosos de entretenimento até ser levado a sério como presidente.

    Aqui os dois puxadores de voto da legenda se distanciam. Tiririca, se não tinha muita coisa a propor, ao menos prometia não atrapalhar nem piorar muito as coisas. Bolsonaro, como ele mesmo admitiu a empresários americanos, não foi eleito com a missão de construir, e sim destruir muita coisa.

    Tem sido bem sucedido. A começar pelos indicadores econômicos.

    O abraço do capitão a um dos principais símbolos do centrão enterra de vez um ativo eleitoral, apresentado três anos atrás, segundo a qual era possível governar mudando “tudo isso que estava ali”. O próprio Bolsonaro admite que sempre fez parte da turma.

    Valdemar, seu novo sócio, sabe com quem está lidando. Em sua trajetória, desde o tempo em que o pai era prefeito em Mogi das Cruzes e ele era conhecido como “Boy”, Valdemar sempre esteve mais perto da turma de Bolsonaro do que do campo progressista. A exceção era explicada apenas oportunidade de negócio.

    Seu pai, Valdemar Costa Filho, era filiado à Arena, o partido de apoio do regime, e atuou como secretário de Abastecimento de Paulo Maluf no início dos anos 1990. E foi Costa Neto quem achou uma boa ideia fundir sua legenda com um partido capitaneado por Enéas Carneiro, uma espécie de precursor do bolsonarismo.

    Sem legenda desde que saiu brigado do PSL, o partido pelo qual foi eleito presidente, Bolsonaro precisava de uma agremiação política para poder concorrer à reeleição. Chegou a ser disputado por PP e PTB. Fechou com o PL, partido que deu a ele a possibilidade de sentar à janela e escolher quem serão os candidatos nos estados-chave, como São Paulo, onde Costa Neto já costurava apoio, hoje desfeito, com a turma de João Doria.

    O entrave levou ao adiamento da data do casamento, finalmente selado nesta terça-feira 30.

    Na cerimônia, Bolsonaro repetiu as platitudes de sempre, atacou a esquerda, se autocongratulou por ter evitado o abismo venezuelano em terras brasileiras, abusou do proselitismo religioso e citou os velhos fantasmas que atormentam sua cabeça e parte de seus eleitores.

    Por seu histórico de idas e vindas, não dá para esperar que o casamento com o PL seja duradouro. Ainda mais tendo a legenda um cacique de fato, como era o caso do PSL de Luciano Bivar, a quem Bolsonaro jurou amor até os primeiros sinais de fricção.

    Bolsonaro já trocou de partido oito vezes.

    O partido de Valdemar ganha assim um inquilino com histórico de confusões, mas isso não deve preocupar, por ora, o locador.

    A filiação ao PL ou outro partido similar pouco ou nada muda as chances de Bolsonaro em 2022 —a não ser os que olham com estranheza sua parceria com um ex-condenado no caso do mensalão. Seu (hoje) alto índice de rejeição é o que definirá se ele será ou não reeleito para mais quatro anos de mandato.

    Para o PL, é a chance de reforçar a sua bancada, que pode superar pela primeira vez o número de cadeiras conquistadas sob o efeito Tiririca —que segue na legenda até segunda ordem.

    Com o espólio da base bolsonarista, além da exposição por disputar como protagonista a eleição majoritária, é provável que o PL se transforme na principal força política do Congresso a partir de 2023.

    Isso significará mais recursos dos fundos partidário e eleitoral por mais quatro anos. Se depois disso o inquilino voltar a aprontar, como tem feito desde o início da carreira política, a porta da saída será a serventia da casa.

    Neste caso, sai o locatário, fica a bancada — e o dinheiro.

    Pois é. Para Valdemar o slogan de seu antigo principal puxador de votos parece agora mais atual do que nunca. Pior que está, não fica.

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