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    “Nós temos condições para ganhar à primeira”

    Dez minutos. Nada mais, nada menos. Foi o tempo que nos concedeu, às primeiras horas da manhã de ontem, Carlos Gomes Júnior, o candidato mais mediático à Presidência da Guiné-Bissau. À porta da sua residência aguardavam-no centenas de apoiantes. Era o início de mais uma longa jornada de campanha, agora na recta final. Atrás das cortinas da descontracção esconde-se um verdadeiro “animal político”. No final da entrevista ao Jornal de Angola a afirmação convicta: “temos condições para ganhar à primeira volta”.

    JORNAL DE ANGOLA – A Guiné-Bissau é o mesmo país de há quatro anos?

    CARLOS GOMES JÚNIOR – Eu penso que muita coisa mudou. Nós temos um programa com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, e graças a Deus posso dizer que conseguimos cumprir esse programa. Um dos nossos objectivos na altura era a questão do perdão da dívida. Nós conseguimos o perdão da dívida de cerca de 1,2 milhões de dólares, o que, naturalmente, vai ter um reflexo positivo na balança de pagamentos do país. Essa era uma das nossas grandes apostas. Também tínhamos o problema da reforma do sector da Defesa e Segurança. Com o apoio de Angola e do Presidente José Eduardo dos Santos nós conseguimos ter cá a MISSANG, a missão militar, que está a ajudar-nos a fazer essa reforma.

    JA – Acha que este foi o momento ideal para abandonar o governo?

    CGJ – Não é uma questão de abandonar o governo. O PAIGC é um partido que tem responsabilidades na vida do povo da Guiné-Bissau. Depois de dois mandatos, que são quase oito anos, a direcção do partido entendeu que este é um grande desafio que o PAIGC não pode perder. Nessa óptica a direcção entendeu que é o próprio presidente do partido que deve conduzir as eleições.

    JA – Porque razão a direcção tomou essa decisão?

    CGJ – Porque não podemos correr o risco de perder as eleições. Imagine que não ganha o PAIGC. O primeiro reflexo vai ser demitir o governo que foi eleito. Isso complicava muito a nossa vida política. Para fazer estas eleições antecipadas houve a mobilização de fundos dos nossos principais parceiros no desenvolvimento. Imagine que temos de fazer outras eleições antecipadas. A comunidade internacional não está preparada para isso, dada a crise financeira que se vive em todo o mundo. Temos que começar a contar também com os nossos recursos.

    JA – O candidato Serifo Nhamajo,  do PAIGC, pode fragilizar a sua candidatura?

    CGJ – Não fragiliza. O PAIGC é um grande partido que fez mais de 11 anos de luta para a libertação do nosso país. É um partido que está preparado para essa situação. O camarada Amílcar Cabral já dizia que a única força capaz de destruir o PAIGC é o próprio PAIGC. Nós sempre dizemos que isto é como um comboio. Em cada estação entram novos passageiros e saem outros. É isto que está a acontecer. Portanto, esses camaradas, à revelia da decisão da direcção do partido, entenderam que deviam candidatar-se. É normal que num partido haja sensibilidades. Mas sensibilidade ao ponto de haver irresponsabilidade é uma coisa diferente.

    JA – Como vai agir a direcção do partido?

    CGJ – Naturalmente que a direcção do partido está a registar esses factos e depois vai tomar decisões.

    JA – Na abertura da campanha afirmou que os guineenses merecem um Presidente conhecedor dos problemas e à altura de resolvê-los. De que problemas estava a falar e como conta resolvê-los?

    CGJ – Depois da independência houve crises cíclicas, não só dentro do partido como também no próprio país, que felizmente a direcção soube analisar e ultrapassar. Eu já completei dez anos desde que estou à testa do partido, vivi e conheço naturalmente esses problemas. Penso que sou a pessoa mais preparada para gerir as situações do nosso país e do povo guineense.

    JA – Por onde passa o desenvolvimento da Guiné-Bissau?

    CGJ – O desenvolvimento da Guiné-Bissau passa por um melhor diálogo e pela estabilidade, porque sem estabilidade não se pode pensar no desenvolvimento.

    JA – O combate ao narcotráfico vai ajudar a melhorar a imagem do país?

    CGJ – O fenómeno existe e sendo a Guiné-Bissau um país carenciado vai contar, certamente, com o apoio dos seus parceiros e da comunidade internacional para resolvê-lo. Sozinhos não podemos, naturalmente, ultrapassar esse problema. O governo que eu tive a honra de liderar sempre analisou e combateu esse fenómeno. Estamos convencidos de que os nossos sucessores vão continuar a trabalhar para que a Guiné-Bissau ultrapasse esse fenómeno. O narcotráfico e os crimes transnacionais, como o branqueamento de capitais e o terrorismo internacional. Por isso a nossa preocupação é fazermos a reforma no sector da Defesa e Segurança.

    JA – Como analisa a cooperação com Angola?

    CGJ – Nós somos companheiros de armas. Por isso é que desde a primeira hora o Governo de Angola entendeu que devia intervir para ajudar os irmãos da Guiné-Bissau a conseguir obter a paz, a estabilidade e programar o desenvolvimento macroeconómico sustentável que se coadune com os desafios da actualidade. A nossa cooperação tem sido excelente. O Presidente José Eduardo dos Santos tem seguido com atenção o desenrolar dos acontecimentos na Guiné-Bissau. Angola é um parceiro muito importante no desenvolvimento da Guiné-Bissau.

    JA – Acha que vai vencer à primeira volta?

    CGJ – Esse é o nosso objectivo. Ao longo do percurso que temos feito pelo país, tenho sentido o calor humano, tenho sentido a esperança no seio da juventude. Isso encoraja-nos. Vamos respeitar todos os adversários, porque todos nós temos um objectivo comum, que é a construção da nossa pátria e o bem-estar do nosso povo. Mas tenho condições para ganhar à primeira volta. Se isso não acontecer há factores que podem contribuir para piorar a situação, porque estamos em plena campanha de recolha da castanha de caju, um produto estratégico e que tem um ciclo muito curto (três meses). Indo à segunda volta poderia complicar grandemente toda a campanha.

    JA – Quais são as suas prioridades se for eleito Presidente?

    CGJ – A minha principal prioridade é trabalhar para o bem-estar do nosso povo para que haja estabilidade e colaboração entre todas as instituições da República. Para que de facto a Guiné-Bissau saia dessa crise que temos estado a viver.

    JA – Qual é a sua mensagem para o povo guineense?

    CGJ – Gostava de pedir que no dia 18 ninguém se abstenha. Faço um apelo a todos os guineenses para que cumpram o seu papel fundamental que é o direito de votar. Que exerçam massivamente esse direito no dia 18 de Março.

    Fonte: Jornal de Angola

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