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    Mercado do KM30: Grande centro de emprego

    Situado no distrito do Baia, em Luanda, o mercado do KM30, pode ser actualmente considerado como um dos maiores centros de emprego, directos e indirectos, de Angola, dado o movimento de pessoas e mercadorias registados, de terça-feira a domingo.

    Localizado no município de Viana, a superfície comercial, a céu aberto, funciona com uma força de trabalho de seis mil e 648 vendedores oficiais, cifra controlada pela administração do mercado, apoiada por outras centenas de prestadores de serviços.

    O acesso ao recinto, a partir da Estrada Nacional 230, é feito por uma única via de terra batida esburacada, poeirenta em tempo seco e lamacenta e de difícil acesso no período chuvoso, ladeada de meia centena de armazéns.

    A reparação do troço de um quilómetro e meio consta dos projectos do PIM do município de Viana.

    No troço circulam viaturas pessoais, de empresas, motoqueiros e veículos ligeiros e pesados, que fazem o transporte de pessoas e mercadorias, camiões contentorizados que abastecem os armazéns, outros ainda carregados de produtos do campo para o recinto de vendas.

    O acesso ao mercado, em alguns casos, pode ser feito para o interior do distrito de Baia, por vias criadas pelos munícipes para evitar a Estrada Nacional 230. Situado numa área com um milhão 900 metros quadrados, o “30” é considerado o maior centro de escoamento de produtos agrícolas a nível de Angola.

    O “30” é um local de comércio que recebe perto de 10 mil pessoas por dia, entre grossistas, retalhistas, trabalhadores ocasionais e clientes, no período que vai das 5h00 às 18h00.

    Na área de venda de produtos a grosso, há homens e mulheres que se predispõem a vender os produtos dos camiões, apregoando os preços, em troca de uma compensação financeira.
    (DR)

    O mercado, composto por mais de uma centena de naves, é um dos maiores geradores de receitas para a administração municipal de Viana, que chega a arrecadar diariamente um milhão e 329 mil Kwanzas, valores provenientes da cobrança de 200 Kwanzas, feita todas as manhãs pelos fiscais, aos seis mil e 646 vendedores.

    O espaço é preenchido de madrugada, às primeiras horas do dia, pela chegada de camiões carregados de produtos agrícolas, fruta diversa, gado bovino, caprino, suíno e aves provenientes de várias partes de Angola.

    Logo à entrada, os camiões com produtos agrícolas e gado proveniente das províncias do Bengo, Malanje, Uíge, Cuanza Sul, Benguela, Huambo, Bié e Huíla são cercados por retalhistas ávidos de adquirir os produtos de melhor qualidade e a preços compatíveis com os bolsos.

    Antes do raiar do sol, homens e mulheres se predispõem em obter e revender os produtos dos camiões, formando um círculo comercial que vai desde a descarga, a venda a grosso e a retalho, que pode durar três a quatro dias.

    Na área de venda de produtos a grosso, há homens e mulheres que se predispõem a vender os produtos dos camiões, apregoando os preços, em troca de uma compensação financeira.

    Outro grupo de pessoas adquire o negócio a crédito com a condição de liquidar a dívida logo que os produtos forem vendidos. Uma destas pessoas é Julieta António, que todos os dias recebe hortícolas a crédito para revender e no fim do dia quita a dívida e fica com os lucros.

    “Eu recebo a couve sem pagar e vou para mais próximo da entrada do mercado para revender. O atado, que devo revender a 50 kwanzas, passo a 100 e tenho algum dinheiro no fim do dia que, dependendo da quantidade, posso ter um lucro de quatro ou três mil”, esclareceu.

    Ao referido movimento, juntam-se os jovens, na sua maioria provenientes do interior do país, com o sonho da formação adiado, ou apenas interrompido por falta de oportunidades, em troca de algum dinheiro para a descarga e transporte da mercadoria, no ensejo de uma vida melhor.

    Como é o caso de António Manuel, de 20 anos, Natural de Cachiungo província do Huambo. Deslocou-se à Luanda há dois anos, deixando para trás o desejo de se formar em medicina.

    Manuel usa todos os factores como força para continuar a desempenhar a sua árdua tarefa de auxiliar os clientes no percurso do mercado, onde encontra a única forma de ganhar o seu sustento.

    Dentre estes jovens dos 12 aos 25, destacam-se os que “se instalam” na entrada do mercado e insistentemente aliciam os clientes, pendurando-se nos carros, acompanhando a marcha dos automóveis e acenando, mostram o melhor caminho e oferecem-se para ajudar a carregar as compras e a mostrar o local ideal para encontrar os produtos desejados, a troco de um valor que varia de acordo com a quantidade das compras e o caminho a percorrer.

    Pedro Camenha, natural de Cacuso, Malanje, trata carinhosamente a cliente por “madrinha” e apresenta-se como conhecedor de todos os lugares de venda. “Estou disponível a carregar as compras, deixando o valor do pagamento a critério do freguês”, explica.

    Ainda na entrada de terra batida do mercado, encontram-se os motoqueiros que fazem o transporte de passageiros da via principal para o interior do mercado, por 150 Kwanzas.

    Como oferta, os clientes têm à sua disposição os transportes colectivos, azul e branco (candongueiros), que se dividem quer para carregar as mercadorias como passageiros, preenchendo o recinto reservado para carga e descarga, tendo como auxiliares “os lotadores”, jovens com a função de divulgar o destino de cada viatura.

    O recinto dispõe de uma zona para o estacionamento improvisado de aproximadamente 100 viaturas, asseguradas por rapazes que se predispõem a cuidar dos carros particulares ao custo de 200 Kwanzas, independentemente do tempo de permanência da viatura no recinto.

    Joaquim de Custódio, jovem proveniente do município do Bocoio, província de Benguela, refere que para além de guardar as viaturas também lavam, a um valor que depende muito do proprietário.

    A batata rena, fruta, hortaliças, carne de caça, fuba de milho e de bombó, cabritos, porcos, galinhas, a carne de vaca, ginguba, feijão, hortaliças entre outros produtos frescos, nacionais e a preços atractivos são o “chamariz” para o abastecimento de muitos hotéis, restaurantes, bares, cantinas, pequenos mercados, assim como para as mesas de famílias com poder financeiro diversificado.

    Maria Antónia e Laura Mateus, empreendedoras que duas a três vezes por semana procuram o mercado para aquisição de produtos para abastecer um salão de festas e um restaurante, afirmam que a mercadoria no “30” tem preços atractivos, em relação a outros mercados.

    “Temos muita oferta de produtos neste mercado e os preços também são atractivos, principalmente o gado”, referiram.

    O gado proveniente geralmente da Huila e do Cunene é comercializado e encaminhado aos matadouros por comerciantes grossistas, sempre na presença de agentes sanitários e veterinários.

    Em um dos corredores do mercado foi improvisado um curral, que abastece o matadouro principal, onde o cliente encontra o animal de sua preferência, quer seja cabrito, porco ou ovelha, que podem ser adquiridos de acordo com a capacidade financeira do cliente.

    A relação entre cliente e o vendedor depende muito do dinamismo dos intermediários, funcionários dos donos dos animais que têm de, dentre outras funções, atrair os compradores, abater, limpar e retalhar o animal.
    Víctor Costa, vendedor de gado bovino, referiu que os clientes fazem sociedade, dividindo um animal por duas ou mais pessoas.

    Manuel Celestino, trabalhador do espaço, refere que existem veterinários e agentes sanitários que verificam a condição do animal antes de ir para o abate.

    A batata rena, fruta, hortaliças, carne de caça, fuba de milho e de bombó, cabritos, porcos, galinhas, a carne de vaca, ginguba, feijão, hortaliças entre outros produtos frescos, nacionais e a preços atractivos.
    (DR)

    Gastronomia

    O mercado do 30 também tem uma zona reservada a gastronomia, onde os clientes, sejam eles vendedores ou compradores, têm a possibilidade de degustar os pratos típicos de várias regiões de Angola, confeccionados em barracas fixadas a 100 metros do local de venda de aves como perus, pavões, patos, pombos e galinhas, em maior quantidade.

    João Silva e Joana Manuel, moradores do bairro Vidrul e Mayé Mayé, em Cacuaco, conseguiram emprego como atendente de mesa e empregado de cozinha, respectivamente, a troco de algum alimento para a família no fim do dia.

    O preço dos pratos varia de 500 a 2.000 Kwanzas e são confeccionados por mulheres que entendem da gastronomia angolana, sempre com o suporte de vários trabalhadores, divididos entre os que limpam e arrumam o recinto, lavam a loiça e atendem as mesas.

    Na área existem ainda os funcionários que, no interior do mercado, entregam os “take-away”, na tarefa de fazer a comida chegar aos clientes.
    Finanças

    Na aérea de transacção financeira, onde circulam por dia centenas de milhares de Kwanzas, para além das conhecidas kinguilas, foi também criada uma nova modalidade de trocas financeiras, onde os portadores de serviço de Terminal de Banco Automático (TPA), descontam nos cartões multicaixa a quantia solicitada pelo cliente, em contrapartida faz-se um desconto de 100 Kwanzas, por cada mil solicitado, por oficialmente não haver tais serviços no local.

    Cláudia Fernandes, que trabalha com TPA, afirma que o negócio é rentável, chegando a obter diariamente um lucro entre 15 a 20 mil kwanzas.

    “Existem muitos clientes com multicaixa, mas com pouco cash e quando precisam de mais dinheiro recorrem a nós para ajudar, já que não existem ATM (caixa electrónico multibanco) nas imediações”, esclareceu.
    Ao entardecer, o movimento vai reduzindo, deixando para trás grandes quantidades de lixo que é recolhido por trabalhadores da administração.

    Os frescos que não são vendidos são recolhidos, armazenados e conservados em arcas frigoríficas.

    A hortaliça e outros produtos são cobertos com lonas ou ensacados, atado para o dia seguinte reiniciar o processo de venda. Mas, nem todos abandonam o recinto.

    Ao cair da noite, o mercado do KM30 transforma-se em lar para muitas pessoas, desde os que têm a incumbência de proteger os negócios como os que pernoitam no recinto porque não possuem um lar.

    Existem ainda dezenas de pessoas, provenientes do interior, que fazem do mercado a sua moradia, já que estão sem dinheiro para o arrendamento de um espaço nos arredores, que varia de 10 mil/mês em diante.

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