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    Lunda Sul: Escolas sem condições para reinício das aulas

    Com o Governo a ponderar o retorno das aulas em Setembro, pais, encarregados de educação e docentes mostram-se contrários, afirmando não haver condições para o efeito.

    Suspensas em Março, depois do registo dos primeiros casos de Covid-19 no país, o Ministério da Educação (MED) com a parceria dos governos províncias encetam esforços para o retorno das aulas, criando as condições de biossegurança nas escolas para garantir a segurança dos discentes, docentes e agentes administrativos.

    No entanto, nem tudo é um “mar de rosas”, havendo mesmo províncias onde, apesar de não ter registo ainda casos positivos, como é a Lunda Sul, professores, estudantes e encarregados de educação afirmaram que as escolas não dispõem de condições de biossegurança.

    Nesta província, por exemplo, a encarregada Cláudia Mucuta, adianta que muitas das escolas de Saurimo não dispõem de água corrente para facilitar a higienização dos alunos.

    “As nossas escolas não têm água nas torneiras, as casas de banho quase não funcionam, se continuarmos com estas condições e as aulas retomarem de facto poderemos ter muitos problemas, porque a doença é letal”, desabafou.

    Já Júlio Simão, estudante do II ciclo, afirma que embora algumas escolas tenham criado pontos de lavagem das mãos e outras medidas, para evitar o corte da cadeia de transmissão, há lacunas em termos de biossegurança que podem causar uma contaminação em massa.

    Para o professor Jeovany João, as autoridades devem envidar esforços para colocar à disposição dos discentes e docentes condições de biossegurança e distanciamento físico, tendo em conta a superlotação das turmas.

    O mesmo ponto de vista é defendido pelo secretário provincial do SINPROF, Paixão Licaxi, que explica que 80 por cento dos estabelecimentos de ensino na Lunda Sul não estão em condições de receber alunos nesta fase.

    Face ao actual cenário, o director do Gabinete provincial da Educação na Lunda sul, Perfeito Candodolo, disse que as escolas continuam a trabalhar na criação de condições, para que se tenha um reinício seguro.

    Cenário idêntico é registado no Cuanza Norte, que tem o município do Cazengo como o foco da pademia, facto que levas os cidadãos manifestaram-se apreensivos com a retomada das aulas no país.

    Os agentes educativos, entre os quais Angelino Domingos, consideram ser “muito arriscado” o reinício das aulas numa altura em que o número de casos da covid-19 aumenta a cada dia no país.

    Para o encarregada, há algumas condições que precisam ser tidos em conta, que tem a ver com a falta de água corrente nas próprias instituições de ensino, o cumprimento do distanciamento físico, entre outras.

    Para o professor do ensino primário Inocêncio Dala, do ponto de vista sanitário e dado os altos níveis de contágio da Covid-19, é necessária prudência, em função da vulnerabilidade das escolas.

    “Não é boa ideia a retomada das aulas no país, numa altura destas, por causa do risco de contaminação entre alunos e professores. Prefiro que meus filhos percam o ano lectivo do que a vida. Meus filhos não irão a escola”, sublinhou.

    Por seu turno, o secretário provincial do Cuanza Norte do Sindicato Nacional de Professores de Angola (Sinprof), Domingos Francisco João, defende que a retomada das aulas no país seja precedida de uma campanha massiva de testes da Covid-19 nas comunidades, para aferir o nível de contaminação da doença no seio da população.

    Para o sindicalista, a testagem massiva é crucial para fazer a triagem de professores e alunos.

    No entanto, o sindicalista é contra a anulação do ano lectivo, afirmando que pode reiniciar a qualquer momento, após a estabilização da situação epidemiológica do país.

    Para o efeito, o Gabinete Provincial do Cuanza Norte da Educação, na perspectiva de manter o distanciamento recomendado, está a criar condições para que cada turma tenha apenas 25 alunos.

    O Cuanza Norte tem perto de 400 escolas, que totalizam mil 225 salas de aulas, asseguradas por cinco mil e 22 professores.

    No presente ano lectivo foram matriculados 192 mil 418 alunos da iniciação ao II ciclo do ensino médio.

    Já no Moxico, os agentes educativos aconselham apenas o reinício das aulas no ensino médio e superior, tendo em conta a maturidade dos estudantes destes ciclos de ensino.

    Os docentes avançam que a desorganização nas escolas primárias locais, em particular, e do país, em geral, sobretudo no que toca ao distanciamento social, pode ser um mote para uma contaminação em massa.

    Sugerem, igualmente, a colocação de recipientes no exterior das instituições para a lavagem das mãos com a água e sabão, assim como medir a temperatura dos estudantes com termómetros do tipo infravermelho.

    Aconselham ainda Departamento Provincial da Saúde Pública a realizar uma mega campanha de testagem rápida nas escolas, antes, no decorrer e depois do recomeço das aulas do ensino superior.

    A propósito, o director municipal da Educação, Moisés Firmino Samosse, afirmou que as escolas do ensino primário e do I ciclo que tinham criado as condições de biossegurança para o reinício das aulas, infelizmente, foram vandalizadas.

    Os vândalos, apontou, retiraram carteiras, processos individuais dos alunos, computadores de mesa, material didáctico, bem como destruíram janelas, portas, tetos e bombas de perfuração do sistema de água.

    No Zaire, os agentes de educação no município de Mbanza Kongo, condicionam a retomada das aulas ao aprimoramento das medidas de biossegurança nas escolas.

    Preocupados com o facto de as escolas puderem ser foco de contaminação em massa, os agentes inqueridos pela ANGOP aponta a falta de capacidade financeira para a aquisição de material de higienização de mãos pelas instituições de ensino, incluindo a ausência de sistemas de água canalizada e água potável para que possam garantir as medidas de biossegurança.

    Sobre as deficiências apontadas pelos encarregados de educação, pais e professores, o secretário provincial do Zaire do Sindicato dos Professores (SINPROF), Mambwene Ernesto António, afirma que o país está sem condições mínimas de segurança para a retomada das aulas.

    Na província do Cuando Cubango, os agentes do sector dizem que o reinício das aulas carece, não só da criação de condições de biossegurança, mas, acima de tudo, psicológicas, motivacionais e de avaliação do comportamento dos estudantes depois deste longo período sem aulas, por conta da Covid-19.

    A encarregada Joana Esperança admite que o reinício de aulas pode acontecer, mas antevê um fraco aproveitamento dos alunos, pelo que o governo deveria, em primeira instância, criar, a par das condições de biossegurança, outras que ajudam, com êxitos, no processo docente – educativo.

    Para o Adalberto Luís Ndala, o governo deve ponderar, em função da dimensão do país, características geográficas, condições sociais materiais das famílias, professores e das instituições de ensino do país, para não mutilar o processo de ensino e aprendizagem.

    “É preciso que as condições, a todos os níveis, sejam criadas a bem da educação dos nossos filhos. É uma responsabilidade muito grande para todos e um desafio que merece reflexão, para evitar a propagação da pandemia e apostar na educação de qualidade e não de quantidade”, defendeu.

    O director do Gabinete Provincial da Educação, Miguel Canhime, avança que o governo está engajado na preparação das condições de biossegurança.

    Para o efeito, foram adquiridos material de biossegurança para as escolas do primeiro ciclo e escola ensino primário dos nove municípios.

    A província do Cuando Cubango tem 274 escolas, das quais 100 na sede provincial, Menongue, sendo 30 do I ciclo, 12 do II e outras são escolas mistas, onde estão matriculados mais de 150 mil alunos.

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    FonteAngop

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