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    Luandino Vieira evocado no dia do seu aniversário

    “Luuanda”, no estilo prosa, é uma das obras mais aclamadas da literatura angolana escrita por José Luandino Vieira, cuja sétima edição – formato de Bolso “2K” – foi impressa em Maio de 1978, em Portugal, sob a égide da União dos Escritores Angolanos (UEA).

    A obra contém três contos, “Vavó Xixi e seu neto Zeca Santos”, “Estória do Ladrão e do Papagaio” e “Estória da Galinha e do Ovo”, sendo a primeira a mais famosa e emocionante, a julgar pelos diálogos além da reinvenção de palavras, razão pela qual “Luuanda” é tida pelos ensaístas e críticos literários como obra pioneira da desconstrução do português padrão.

    Entre as frases mais conhecidas pelos leitores são as de cumplicidade entre Vavó Xixi e Zeca Santos. “Na hora que Zeca Santos saltou, empurrando a porta de repente, e escorregou no chão lamacento da cubata, vavó pôs um grito pequeno, de susto, com essa entrada de cipaio. Zeca riu; vavó, assustada, refilou: – Ena, menino!… Tem propósito! Agora pessoa de família é cão, não é? Licença já não pede, já não cumprimenta os mais-velhos…
    Desculpa, vavó! É a pressa da chuva!

    Vavó Xixi muxoxou na desculpa, continuou varrer a água no pequeno quintal”.
    Estudada em várias universidades portuguesas e brasileiras, “Luuanda” teve a primeira publicação em 1963. Na última página, da edição “2K”, em tom de desfecho, o narrador (autor) revela: “Minha estória. Se é bonita, se é feia, vocês é que sabem. Eu só juro não falei mentira e estes casos passaram nesta nossa terra de Luanda.”

    Em “Diacrítica – Dossier 50 Anos de ‘Luuanda’”, divulgado em Dezembro de 2014, a linguista e crítica literária Elena Brugioni afirma: “O autor deve ser poliglota em sua própria língua”.

    Elena Brugioni é docente da Universidade Estadual de Campinas, no Brasil. Mestre em Literaturas Modernas e Ph.D em Estudos Pós-colonial de Literatura Africana Lusófona.

    O trabalho teve, também, o contributo de Joana Passos, docente da Universidade do Minho, Centro de Estudos Humanísticos, em Portugal.
    Numa análise divulgada em 2015, as estudiosas classificaram ainda “Luuanda” como: “Luuanda” – A Libertação de Angola e a geração de 50 e 60.

    Escritor de mérito
    José Luandino Vieira é um dos primeiros autores angolanos distinguidos antes da independência, numa altura em que se encontrava preso, e condenado há 14 anos. Foi a 21 de Maio de 1965, preso há quatro anos, quando a Sociedade Portuguesa de Escritores deliberou atribuir-lhe o Grande Prémio de Novela, pela aclamada “Luuanda”, causando pavor no seio da Direcção dos Serviços de Censura e da PIDE ao ponto de assaltarem e destruírem a sede da SPE, depois de os jornais portugueses noticiarem a atribuição do galardão.

    Em nota de felicitações, a União dos Escritores Angolanos recordou ontem, em Luanda, os feitos do seu membro fundador e primeiro secretário-geral, que a 4 de Maio completou 85 anos.

    “É com grande satisfação que a UEA endereça os mais elevados votos de feliz aniversário, e que esta data se repita por longos e felizes anos de vida”, refere a nota assinada pelo escritor e poeta David Capelenguela, actual secretário-geral da UEA.

    Obras e prémios
    Publicou 10 contos, com destaque “A cidade e a infância” (1957; 1986), “Luuanda” (1963, 1978, 2004), “No antigamente na vida” (1974, 2005), “Macandumba” (1978, 2005), “Lourentino, Dona Antónia de Sousa Neto & eu” (1981, 1989). Escreveu duas novela, entre elas “A vida verdadeira de Domingos Xavier” (1961, 2003).

    No capítulo de romance, ressalta “Nós, os do Makulusu” (1974, 2004). Das obras infanto-juvenil, “A guerra dos fazedores de chuva com os caçadores de nuvens. Guerra para crianças” (2006), entre outras obras.

    Além do Grande Prémio de Novelística da SPE (Prémio Camilo Castelo Branco), em 1961 obteve o prémio Sociedade Cultural de Angola, em 1963 o prémio da Casa dos Estudantes do Império (Lisboa), o Prémio Mota Veiga, e o prémio da Associação de Naturais de Angola, todos em 1963.Já em 2006 recusou receber o Prémio Camões, pelo conjunto da sua obra, alegando “razões pessoais e íntimas”.

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    FonteJA

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