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    José Carrasquinha: ‘Eu era mais famoso que todos os ministros juntos’

    José Carrasquinha (Foto: D.R.)
    José Carrasquinha
    (Foto: D.R.)

    Descreve-se como escritor, filósofo, poeta e jornalista. Mas, José Carrasquinha, o então apresentar do programa Kudibanguela, da Rádio Nacional de Angola (RNA) pode ser identificado como sendo ‘a alegria em pessoa’. O tempo passa, mas não perdeu, nunca, o seu elevado sentido de humor, mesmo quando em causa estão assuntos tão sérios como as manifestações, a democracia, o 27 de Maio, a crise económica que o país atravessa e as relações de Angola com outros países, especialmente com a China. O homem mais informado do ‘Lusaka’, como ele trata o distrito do Sambizanga, é de opinião que a UNITA perdeu a guerra, embora considere Jonas Savimbi como o maior orador que este país já conheceu. Pena é que o antecessor de Isaías Samakuva tenha ‘borrado a escrita politicamente’, segundo o nosso entrevistado

    Diz-se que é uma das pessoas mais informadas do ‘Lusaka’. É verdade?

    Atenção, é bom você explicar aos leitores que ‘Lusaka’ é sinónimo de Sambizanga. Presumo, porque de facto também não sou modesto, assim como não gosto de estar a fingir.

    Quem é o mais informado: é o José Carrasquinha ou o Zuze Dya Ngana?

    É a mesma coisa. Para além do Zuze Dya Ngana ainda tenho mais um outro nome.

    O Paciência?

    OP_27636_a7191Não. Este nome de Paciência, aliás é a própria fase que ditou quando me referia à dívida que o ‘Workers Party’ tem para comigo. E então disse a um colega seu que me entrevistou em tempos que aqui temos paciência. Agora o outro nome é o Dr. Bagre Fumado.

    Quando se refere ao ‘Workers Party’ é ao Partido dos Trabalhadores?

    O MPLA não era o Partido dos Trabalhadores? Eu, por exemplo, quando falo não é MPLA, mas sim ‘Workers Party’, que abrevia tudo.

    Quais são os assuntos mais debatidos hoje aqui no ‘Lusaka’?

    Para lhe ser sincero, isso aqui é uma amálgama de conversas, opiniões e não há um fio condutor de um tema. É verdade que o que está na moda é a malta aqui perguntar-se como é que aquele miúdo Nito Alves ia aplicar golpe de Estado, se o gajo até nem sabe onde comprar umas calças? Essa é a conversa de maior relevância.

    O que pensa das manifestações e contra-manifestações que estão ocorrendo hoje?

    Vamos perceber uma coisa: a essência do poder é isso que você vê aí hoje. Se você reparar, primeiro ele, o regime ou o Governo, tem vários tipos de polícias. Tem anti-motim, tem Polícia Fiscal, Marítima e tem o Ministério do Pensamento ainda por cima.

    O que é isso de Ministério do Pensamento?

    É a PIDE ou DISA. A Polícia Secreta, pronto.

    O que existe hoje é Serviço de Informação e Segurança do Estado. Não sabe disso?

    Essa malta arranja nomes e não me informa. Todos os governos precisam mesmo desta estrutura. Agora, o que não concordo relactivamente a essa saída de cães, porque ouvi dizer que na última manifestação soltaram-se os cães. Não concordo que fica escrito na Constituição que as pessoas podem manifestar-se, mas às tantas dizem que tem que pedir autorização. Depois porque tem que informar.

    O Presidente do MPLA disse na última reunião do Comité Central do MPLA que era preciso ter-se cuidado com este tipo de situações porque o país já sofreu muito com o 27 de Maio de 1977. O que pensa disso?

    Para mim exagero é dizer-se que o senhor Presidente falou do 27 de Maio. Até fico um bocado espantado como é que o kota, só hoje passado não sei quanto tempo, lembrou-se que houve 27 de Maio neste país. Há muito tempo que se devia falar disso neste país, porque naquele ano de 1977 morreram 146 mil angolanos. Você aponta isso e quero ver quem é o tipo que vai vir aqui dizer que é mentira. Esses angolanos foram liquidados pelos cubanos. O 27 de Maio o que é? Em síntese foi uma luta entre comunistas. Se fosse naquele estilo, que é próprio das pessoas do Sambizanga em dizer ‘não acode’, podes escrever também que a ala do Dr. Agostinho Neto teria perdido 1-0. O que é que se passou? Os cubanos entraram e depois fizeram o favor de participar na matança. Tenho dito.

    Disse em tempos que a reconciliação nacional só está no papel. Porquê?

    Você apesar de não saber por ser mais novo do que eu, mas há-de concordar que é absurdo como é que o nome do fundador do MPLA não está aí numa das ruas. Como é que o (Manuel) Lima que foi primeiro comandante das FAPLA e um monte de malta que está aí não tem? Isso desencoraja. É bom saber que aqui neste país quem manda ou quem governa é o ‘Workers Party’. Ora, tudo o que se faz é fruto do que eles pensam ou querem. Não tem piada dizer-me que tem reconciliação nacional. Uma pessoa quando quer mesmo fazer paz ou reconciliar-se com o outro, não é só beber um copo com ele e depois de estar bêbado começarmos a nos abraçar. A reconciliação é um exercício diário de coabitação. Aqui não tem nada disso, mesmo nos empregos e noutras coisas. Por exemplo, há dias ouvi dizer que a Ana Gomes atirou umas pauladas contra o Governo. Como habitualmente, foram entrevistar a raça que melhor serve. Isso não é um exercício plural quando vão à rua. Nem vão à rua perguntar ao popular o que pensa ou não.

    Eles seleccionam. Vão chamar um ‘diambeiro’ aqui do Sambizanga, um cozinheiro do Palanca e outro de não sei onde. E esses botam a sua opinião. Não tem reconciliação e o único que escapou – e porque a malta fez um bocado de barulho – é o Viriato da Cruz. Lá em Porto Amboim, que nós chamamos Mbinga, tem uma rua Viriato da Cruz. O resto não tem. Vamos dizer mas uma rua porquê? É uma rua. O Mário Pinto de Andrade, que era um cérebro, não tem uma universidade com o nome dele. Vamos esperar, porque essa conversa da reconciliação, às vezes, tem fases. Parece que ainda estamos na fase um e só na 10 é que vai estar consolidado. Mas quando chegar na fase 5, se calhar já estarei no inferno.

    É tão importante que se atribua um nome de rua a José Carrasquinha, por exemplo?

    Estás a ver.

    Ou é melhor a Mário Pinto de Andrade, Monstro Imortal, Matias Migueis e outros aqui em Luanda?

    OP_27624_d9844Não é em Luanda, mas no país. Por exemplo, a Universidade José Eduardo dos Santos não tem a sua reitoria aqui em Luanda que eu saiba.

    Está no Huambo.

    Pois. Você assim une a Nação. Põe lá o nome de um Cabinda no Cunene, do Cunene no Huambo e por aí fora. Não somos todos um só povo, segundo o pensamento oficial.

    Acompanhou o debate sobre a reconciliação nacional no Parlamento?

    Não acompanhei. Esse parlamento não me diz nada. O teu restaurante – Sarrabulho Corporation, que tens identificado como um Parlamento Extra – não debate questões como a reconciliação nacional? Aqui, naturalmente, a gente debate. Não só isso como outras questões.

    Quais são os assuntos mais candentes que têm discutido?

    Se te disser um único assunto, é mentira. Temos falado muito é do problema do Médio Oriente, porque aqui o nosso o mal já está identificado, a solução mais ou menos à vista e o que falta é a engrenagem para começar a rodar.

    Qual é o mal, a solução e a engrenagem que falta?

    O mal é a má governação no tocante aos direitos humanos como te disse. Você há pouco falou-me das manifestações. Regra geral, quando a manifestação não agrada ao Governo, retardam. No outro dia dizem que não vimos nenhum papel aqui. Entretanto, uma vez, isso provavelmente há 20 anos, no noticiário das 20 horas da Televisão Privada de Angola, porque não é pública, saiu um decreto presidencial ou como é que se chama, a determinar a exoneração do Marcolino Moco como primeiroministro. O que me deixou estarrecido foi que depois do locutor ler o tal comunicado da Presidência da República, logo a seguir um comunicado do Movimento Espontâneo. Amanhã há manifestação e não sei quanto! Foi aí neste dia ou período que o ‘Workers Party’ descobriu que o Marcolino Moco era bailundo. Epá, estás a ver? Um indivíduo que o cargo lhe confere uma certa dignidade a ser enxovalhado assim na rua. Vê-se mesmo que aquilo foi articulado. Você quer reconciliação assim? Não. O outro vai jantar contigo, mas sempre a olhar de lado.

    Conhece bem os deputados que estão no Parlamento?

    Não. Primeiro, por uma razão muito simples: a maior parte dos que estão lá é dentro do espírito do clientelismo. Quantos deputados tem a Assembleia Nacional?

    São 220 deputados.

    Destes 220 só 30 são mesmo ‘brain’. O resto é paisagem.

    Pode citar o nome destes 30?

    Conheço-os, mas deixa lá porque senão os gajos também vão ficar muito vaidosos. A verdade é essa. Já me faz lembrar um parceiro de um partido que entrava mudo e saía calado em toda a legislatura ou todo mandato. Como o meu interesse não é ser deputado, também não quero saber do mandato deles. Vou pensar em outra coisa.

    Mas continua interessado em política?

    OP_27632_dc662É que você não tem que se interessar em política. É absorvido por ela. Como uma vez esteve a resmungar o mais velho Holden Roberto, ‘qual é o angolano que não se sente motivado’? Há coisas que tocam como esta conversa que até dá para rir, de que os miúdos queriam dar golpe de Estado. Essas coisas agitam o juízo de um indivíduo. Francamente não estou no activo politicamente, porque aqui também tem uma coisa: em 2010 essa malta mudou a lei eleitoral. Aquilo é que chamo fraude. No fundo era para me prejudicar, porque desde aquela data que não posso me candidatar à presidência.

    Pretendia candidatar-se?

    Posso. Mas não posso. Com essa lei eleitoral tenho que pertencer a um partido.Como é que vou ficar Presidente da República?

    Como é que está o Partido Popular da Tábua de que fazes parte?

    O Partido Popular da Tábua era uma associação cívica. Nós também estamos aí a ver se arranjávamos os trocos para empatar com uns certos milionários que tem aí. A base era essa. Aliás, quase todos os partidos é assim. É por isso que você costuma ouvir que aí houve bornos, chapadas, a questão está envolta do dinheiro. Então, não posso. No MPLA não me deixam entrar. Aliás, já tinha dito que teria de atropelar muita gente para chegar a presidente.

    Não lhe deixam entrar por quê?

    Para chegar lá, hoje tem ‘Jú’ Martins, ‘Gigi’ Fontes Pereira, João Lourenço, Roberto de Almeida, o atropelar é suplantá-los. Está difícil. Dizem que pretende criar um comité de especialidade. Qual seria? Vamos lá ver. Você tocou mesmo num assunto: esse comité de especialidade é uma coisa ridícula. Mesmo que eu estiver com vontade de ofender, o nome certo para isso não surge. O comité de especialidade não é mais do que um grupo de indivíduos sedentos de bajular o Chefe. Andam por aí comités de especialidades disso e daquilo, mas isso é para desunir o país. Vamos supor que eu seja da FNLA ou de um outro partido, entro para o hospital e deparo-me com um médico que disse publicamente que é do comité de especialidade dos médicos do MPLA. Esse ‘gajo’ não podia ficar no Hospital Militar, Geral ou outro, porque ele já disse publicamente que está aí para tratar dos militantes do MPLA. E Luanda não é só isso.

    Mas o Chefe precisa de ser bajulado como fazes crer?

    Você que é. Quando me encontrar com ele vou perguntar. Você que tem mais acesso ao Palácio quando se encontrar com o Chefe também pergunta. Eu não sei se ele gosta ou não. Mas a verdade é que há uma farra. Está a chegar o dia 28 e vais ver.

    Tem-se apresentado como poeta, filósofo e músico, porque razão acha que um dia poderias criar um comité de especialidade dos vadios?

    Eu sou poeta, filósofo, músico e jornalista. Qualquer uma destas funções estão enquadradas naquilo que podes chamar profissões liberais. Então, o liberal é aquele tipo de indivíduo que trabalha meia hora e as outras 23 horas e meia, ou está na caneca ou está a circular. Portanto, estás a ver que tenho tempo.

    Como seria esse comité de especialidade?

    Vamos lá ver. Assim tenho que mandar uma carta ao Bureau Político ou para o comité central? Neste caso é o secretariado do ‘Workers Party’. Vamos lá ver o que isso dá.

    Revê-se nalgum partido?

    Não.

    Pode fazer uma avaliação dos principais partidos, no caso MPLA, UNITA, CASA-CE, PRS e a FNLA?

    A FNLA até já acabou. Até parece que tem lá uns cidadãos de um país que conheço. Mas para não estarem a falar que sou xenófobo…A UNITA, pronto, é a UNITA, mas não é a original como a gente diz, porque perdeu a guerra.

    É falsa ou como se diz no calão ‘mayuya’?

    Quase próximo disso. Senão repare porque depois fico muito aborrecido com o cinismo que esta malta tem. Em 2002, vocês ouviram o discurso porque saiu empate. Na guerra não tem empate. Eu nunca vi guerra que tem empate. A UNITA perdeu claramente e a parte que me aborrece no MPLA, ou no Governo como gostam de dizer…

    Agora é Executivo?

    Uma ova. Essas palavras aqui para mim não entram. Fica quem quer ser Executivo, fica executando. Para mim, você se me perguntar quem é o Chefe do nosso Governo voute dizer que é o Man Zé. Quem é o vice-presidente é o fulano. Aliás, o entendimento que o cidadão comum tem da estrutura que comanda os destinos de um país é o Governo. Isso tudo é o floreado já para aplicar a tal Constituição que foi aí inventada. Mas falávamos de quê?

    Da UNITA. Pode continuar

    A UNITA perdeu a guerra. É a tal hipocrisia e maquiavelismo do ‘Workers Party’. Para não dizerem que o Man Zé não é magnânimo, então… Porque o Jonas Savimbi ia morrer a fome. Eles estavam cercados desde Dezembro, para não te dizer Novembro do ano anterior, isto é 2001. Quando o Kota dá-se o luxo de dizer que o homem tem três opções, ele não está a falar à-toa. A turma de assessores disseram que no paralelo X, tantos graus norte ou sul, é ali onde o homem está. Se quisessem deixavam o homem aí. Estou a te dizer que ele morreu em Fevereiro de bala, se lhe deixassem em Março estaria morto de fome. Por isso, aqueles que sobraram, o outro que estava a comer piolho e deu uma de poeta. Um deles… A UNITA teria acabado.

    Mas a comer piolhos?

    Isso não pode ser verdade? Você não viu? A televisão apresentou. Agora quem é? Não sei. Não gosto de estar a arranjar inimigos desnecessários.

    O que pensa hoje do ‘Workers Party’?

    Foi o que disse há pouco. A essência do poder é essa: eu vou pisar o gajo que quiser me tirar! Portanto, isso faz-me lembrar aquilo que o Jonas Savimbi disse outra vez: ‘esses gajos não mudam’, quando se referiu ao MPLA. É sensivelmente assim e tem a sua lógica. Então porque é que eles vão mudar a sua matriz se isso tem dado lucros?

    Que tipo de lucros?

    Então a manutenção do poder? Estão lá há 40 anos. Se quiseres põe lá mais os 13 de guerra contra o colonialismo. Houve uma vez quando era mono de facto, o que se calhar foi ensinado a cada um de vocês é que o ‘Workers Party’ tinha sido o único partido que lutou contra o colonialismo. Epá, se as coisas estão a correr bem é suicídio um gajo estar a mudar.

    Como é que vê a questão da sucessão nos partidos políticos, quando hoje até já se fala num período de transição no próprio MPLA?

    Meu, transição é nos reinados ou nas ditaduras. Transição de quê? Então não há eleições, quer no MPLA, UNITA e não sei quanto? Transição é de um regime para outro e é assim que entendo. Aí por exemplo, o Man Zé há essa conversa de que sai ou não sai. Eu fico a pensar: mas ele vai sair mais porquê? A única coisa que sabe fazer é governar. Ele, como quase toda a gente sabe, estudou engenharia de Minas, e pela biografia oficial parece que nunca exerceu. Deixem lá o homem. E as coisas estão feitas para ficar sossegadinho da silva, porque é o partido que ganha. Não vale a pena ter ilusão. Quem está com vontade de sonhar vai dizer que o ‘Workers Party’ há-de mudar quando acontecer como na União Soviética. Apareceu lá o Miguel e implodiu aquilo ou como no México no PRI. Quer dizer que lá dentro nas calmas surge um Miguel, de resto não estou a ver.

    Os jovens estão impacientes?

    Todo o gajo que é miúdo tem pressa. É por isso que quando você diz a um miúdo que vamos almoçar num sítio, os almoços sociais têm o seu tempo e no mínimo você gasta uma ou duas horas. O miúdo chega lá, devora o prato em 10 minutos, tem mais 20 para entornar um monte de cachaça e vai-se embora. Ficou lá 30 minutos. Por analogia é mais ou menos isso. Você diz isso ao jovem e ele pensa que é o que sabe. Só depois é que começa a coçar piolhos e diz que ‘afinal é assim’.

    Há muita pressa que não se justifica?

    Sim. O miúdo Nito Alves está com ideias revolucionárias, mas ele não é nenhum bandido. Esta malta do Ministério do Pensamento e outros afins, é que na pressa de mostrar serviço disseram que está aqui, agarramos os gajos. Anteontem ouvi dizer que chamaram o Filomeno Vieira Lopes para depor.

    Por causa do suposto ‘Governo de Salvação Nacional’. Já ouviu falar nisso?

    Já ouvi. E não estou neste governo porquê? Porque os miúdos sabem que quero ser Presidente da República!

    Como é que vê o Sambizanga hoje?

    ‘Lusaka’ é um bairro igual aos outros. É um mundo de ilusões. ‘Lusaka’ é o Sambizanga. Aqui tem p…, gatunos, diambeiros e até já apareceram aí uns paneleiros. Portanto, estás a ver isso está a ficar uma sociedade e tanto. Agora a matriz ou a característica principal do bairro é que pouco gajo do Sambizanga gosta de perder. E a prova disso é que por isso o Man Zé está sempre a ganhar eleições.

    Mas o Progresso do Sambizanga está a perder muitos jogos. Ainda acredita numa recuperação?

    Olha, vamos lá considerar o sucedâneo do Progresso…

    O JUBA?

    Sim, mas que não é de facto. Mas vamos considerar que era a Juventude Unida do Bairro Alfredo. Quando fosse jogar – e era sempre para dar porrada – mesmo que perdessem os adeptos cantavam que ‘perder como ganhar, o bairro Alfredo é perigoso’. Isso aplica-se ao Progresso. Esses gajos estão a perder, mas podes escrever que não vão descer de divisão, nem que tenha que se pagar o árbitro ou o quimbandeiro. Não vão descer. Como assim?

    Como assim?

    No jogo vale tudo. Você pensa que essa conversa de batota começou aonde?

    ‘Perder como ganhar, bairro Alfredo é perigoso’?

    Sim.

    Tem-se o Sambizanga como uma zona perigosa. Como é que está em termos sociais?

    A requalificação já se faz sentir? Agora que o petróleo está a cheirar alho de certeza que vai abrandar. Eles estão aqui na Boavista a fazer uma estrada que sai do Bungo a algures. Não sei até onde é que vai, porque essa malta também tem o mau hábito de fazer as coisas e não me avisam. Então não sei qual é a finalidade desta estrada.

    Criou-se uma Comissão Administrativa em Luanda que é dirigida por um filho do Sambizanga, o general José Tavares, por sinal seu vizinho. Estás bem servido?

    Ele até não é meu vizinho. Ele é do ‘Diangato’, mas é tudo aqui do território. Mas no que toca a isso, quando começamos aqui no bairro com umas daquelas tertúlias da Corporation, quando sentimos o cheiro de que o Bento Bento seria demitido do cemitério dos quadros, aventamos a hipótese de ser o Tavares a ir para lá. Na minha maneira de ver essa coisa de Comissão Administrativa, mais do que melhorar parece-me que atrapalhou. É o tal problema de competência. Até hoje, se bem que não trato mais papéis, há certos documentos que não sei onde é que vou tratar. Se na Comissão Administrativa ou no Governo da Província de Luanda? Para mim, extingue-se a Comissão e Tavares fica lá. Devia ser assim.

    O trabalho feito por José Tavares a nível do Sambizanga justifica esse tipo de promoção?

    Eu não sei. Tal como há bocado disse, vão perguntar ao Kota. Eu não sei de nada. Não vou avaliar, porque se tiver que te falar do (José) Tavares, vou falar daquilo que conheço. Um indivíduo do bairro, etc, estudou até aqui, cursou até ali e isso às vezes não chega como curriculum.

    O que tem feito a Akwasambila?

    Não sei. Eu não sou da Akwasambila. Eu sou da Sarrabulho Corporation.

    É vizinho. Não devia saber o que se passa?

    Não. Eu no vizinho vou quando tenho que pedir sal. Agora saber o que ele faz, não. Cada um no seu beco.

    O que pensa do facto de o Sambizanga ser um bairro nobre onde saíram muitos responsáveis deste país, incluindo o próprio Presidente da República?

    Por acaso tem piada que ele (Presidente) frequentava muito aí um salão, o Ginásio, onde tocava guitarra. É casa do pai do amigo dele, o Mário Santiago. Era ele, o Mano Afonso, o avó do Willian de Carvalho, o miúdo do Sporting. O Mano Afonso é irmão do Praia e do Lourenço Bento, que jogou no Escola do Zangado. Nvunda, Loy, esses kotas todos, são o expoente máximo daquela época. Naturalmente que vão acabando, porque é dialéctico. A UNITA tem a direcção aqui no limite sul do município, a FNLA tinha no ‘Kadi Povo’, mas o ‘Kadi Povo’ acabou porque a FNLA aqui também acabou literalmente. Agora tem uma piada: em tempos diziam que o kota era ‘Santola’. Isso era mau olhado da UNITA contra o kota. Mas em política vale. Tem a prova de que quando se disse que os da FNLA comiam coração eu estava lá.

    Comiam ou não?

    Eu estive nesta base onde esteve a geleira, inclusive nós queríamos beber água. Aquilo foi o seguinte: acompanhamos uma ofensiva das FAPLA contra um reduto do ELNA. Chegamos lá, a malta da FNLA deu as de Vilas Diogo. Entramos, um mais velho repreendeu-nos: se eles envenenaram água? Estás a ver como é, da mesma forma que se dizia que a FNLA comia corações, que é mentira, também, naturalmente, podiam tentar queimar o Man Zé dizendo que é ‘santolas’, o que ele não é.

    ‘Politicamente, Jonas (Savimbi) borrou a escrita toda’

    É verdade que realizava concertos de rock na prisão em 1977?

    O sítio onde vês a vadiagem na sua plenitude é na cadeia. Você tem 24 horas para não fazer nada. Ora, se você não faz nada, isso é mau para o fígado e não sei quanto. Então, como eu tive um conjunto, que era a Turma do Cabelo Mau, e o tipo de música que a gente tocava era o rock e fazia lá o meu barulho. Reduzia um bocadinho a tensão porque lá dentro estávamos quase sempre a ir aos bornos. Há um gajo que por eu cantar, levantou-se e disse que ‘Zuze Dya Ngana vou-te partir os cornos’. O falecido Man Jaburu levantou-se e disse ‘bate lá no miúdo’. Man Jaburu era um gajo pesado e parece que pesava 300 quilos. O gajo parou logo.

    Que reportagem esteve a ir fazer no dia em que encontrou a Rádio Nacional tomada já por cubanos?

    A Rádio Nacional não esteve tomada por cubanos. O que se passou é que estava lá o falecido director, olhou onde a malta estava e disse que o ‘o gajo bom para fazer reportagem de rua é o Carrasquinha. Deram-me um carro, um motorista e dois militares’. Fomos num lado e começamos a circular. Até que os cubanos se meteram ninguém lhes tinha chamado. Foi isso. Porquê é que chegou a ser preso? O meu nome era José Carrasquinha. Eu era mais famoso, por exemplo, que todos os ministros juntos.

    Por causa do Kudibanguela?

    Não era só por isso. Venho a ter fama desde miúdo. Esse nome Dennis Kid quando era artista foi porque comia muitos pães de manhã. O nome era ‘Dennis Kid The Better In The Morning At Home’. Quer dizer o Melhor de Manhã em Casa. Era um miúdo muito sacudido no bairro. Os outros gajos diziam que havia um miúdo Carrasquinha no bairro, a fama foi subindo e construiu-se a lenda. Aqui mesmo no ‘Lusaka’, o falecido Manuel Kajivinda contava uma estória, porque o kota já terminou, que eu estava no meio, os colonos cercaram-me, dei uns saltos mortais e desapareci. Nunca fiz nada disso.

    Identifica-se como sendo o primeiro ‘preto’ que entrou para os quadros da Rádio Nacional de Angola. O que se passou?

    A estatística prova isso. Aqueles da Voz da Angola, que é o Zé Viola e companhia, não contam. Agora, lá na porta grande, fui eu. O Simmons chocou comigo uma vez num trabalho que fomos fazer nas obras públicas. Ele viu que esse preto fulo também está a fazer muitas perguntas. Na ocasião trabalhava no jornal O Comércio.

    Já era o miúdo do Moutinho Pereira?

    O miúdo do Moutinho Pereira era no Notícias, aí ao lado do Sana. O (Francisco) Simmons convocou-me. Eu ali ganhava 4000 escudos por mês e fui convocado para ganhar 10 mil escudos por mês. Eu disse amanhã vou já trabalhar.

    O primeiro ‘preto’ a entrar para a Rádio Nacional de Angola saiu da cadeia depois dos seus colegas brancos e mulatos terem solicitado a sua libertação. Como viu isso?

    Vai parecer absurdo, a maior parte dos meus amigos são mesmo pretos. Calhou porque mão fui eu que escolhi. Tem aquele meu amigo, que uma vez disse que vimos Deus nas barrocas, Minizoto Lapamba. Lapamba significa mulato. E outros mais: o Arlindo já falecido, mas agora tenho outros como o Tó Santana, Reginaldo e o Marito. A maioria destes gajos são mulatos. E dos ‘pretos’ não sei. Parece que andam a fugir porque têm medo que ocupe o lugar deles. Mas tenho também muitos amigos pretos. O falecido Lilas Petengué, Kavem e uma tonelada. Isso no grupo dos amigos chegados. Agora, se eu sair daqui e ficar aí de pé, vais ver que se vai juntar um grupo de pessoas a pedir autógrafos.

    O que era o Kudibanguela para si?

    Não vamos tocar nesta questão. Uma vez já se tinha dito que quando o ‘Kudibanguela acabar é porque o fascismo entrou em Angola’.

    É o que aconteceu?

    Não sei. Mas você para além de jornalista em princípio deve ser um bom analista. Geralmente quer-se um bom jornalista porque sabe analisar. Então, esse assunto fica aí. Vamos é falar dos portugueses e dos brasileiros. Esses que gajos todos que estão a ganhar dinheiro à nossa custa.

    O nome Artur Queirós diz-lhe alguma coisa?

    Sim. Ele trabalhou lá.

    Diz que é uma das pessoas que esteve na origem do Kudibanguela e na origem da entrada de muitos jovens na RNA, incluindo José Carrasquinha?

    Eu trabalhei com o Artur Queirós, agora o resto da conversa não é comigo. É como perguntar sobre o Agostinho Neto e o Jonas, ou o Man Zé e o Jonas. Têm as suas diferenças. Eu, por exemplo, penso que o Jonas foi o maior orador que esse país já teve. Você não via o comício daquele homem? Ele a falar você treme. O Man Zé é mais pausado. Agora, politicamente o Jonas borrou a escrita toda.

    Porquê?

    Neste país não tens equilíbrio político justamente porque Jonas jogou tudo. Em 1992, quando vão para Lusaka, até era altura ideal de reafirmarem. O Protocolo de Lusaka no fundo era partilha de poder. Você fica com aquela mina e eu fico com essa. Um dia quando divulgarem, nesta ocasião se calhar já estarei no inferno, os gajos que sobrarem hão-de ler. Isso aqui era dividir por dois. Mas também atenção: andamos aqui a falar aí, aí, aí, mas as informações que recebemos geralmente só vêem de um lado. Por isso, que há aí certos infelizes que dizem que não há oposição em Angola. O homem da oposição faz um comunicado, leva e o tipo que vai receber vai para o WC e o comunicado serve de papel higiénico. Depois dizem que a oposição não entregou nada.

    Não acha que esta acusação é muito grave?

    Eu é que estou a dizer. Costumo notar isso, entrevistar um gajo da oposição e os pensológos, do comité dos pensológos, vejam já como é que vamos desequilibrar? Não há nada de especial. Suprimem esta ou aquela passagem e você até fica com a sensação de que ele fez elogios ao adversário.

    O que achou das palavras do deputado Bento Raimundo, no Bié, sobre o regresso à guerra?

    Olha só, essa coisa então de vir da Zâmbia ou da China dá estes problemas. Um gajo chega aqui e começa a falar àtoa. Se você for ter com o Bornito de Sousa, o vice-presidente ou mesmo com o Kota, perguntar: mais como é isso? Eles vão dizer que o muadiê parece que não regula. É que um gajo que tem mesmo os pés no chão, pensa que tem responsabilidade porque aquela comida não é dele, como precisa de justificar…

    Precisa de justificar a quem?

    Aquilo é instituição de utilidade pública. Um gajo que vai te pedir comida a ti para distribuir, em princípio se ler o estatuto deles vai ver que é apartidário. Quase todas estas instituições são apartidárias no papel.

    As palavras dele foram muito ofensivas?

    Foram. Mas ele tem que justificar, porque o vencimento dele é essa comida.

    Continua à espera dos seus salários na Rádio Nacional de Angola?

    Essa malta é tão caloteira, mas há dias recebi um recado. Portanto, é melhor dizer que está em segredo de dinheiro. Não é segredo de justiça, porque isso é lá.

    Vai ser com retroactivos porque reclamas isso desde 1977?

    Estás a brincar? Vais ver eu a ir passear nas ilhas Honolulu e tal e outros sítios exóticos. Não vou ficar seis meses em Luanda. Não achas?

    ‘Aqui há muita gente que se esquece por conveniência’

    Como vê a relação de Angola com a China?

    Jonas Savimbi uma vez disse que quando um tipo está afogar-se não escolhe a mão que o salva. Se se lembrar houve guerra.

    Savimbi e seus pares da UNITA treinaram-se inicialmente na China. Sabe disso?

    Pois, quase todos eles treinaram- se na China. Aqui há muita gente que às vezes se esquece por conveniência. Portanto, em 1992 começou a segunda parte da guerra, digamos assim. Essa guerra que quem ganhou foram os estrangeiros. Queriam realizar uma conferência de doadores, lembram-se? Os potenciais doadores disseram que ‘vocês têm lá muitas riquezas, aguentem-se’. O Man Zé começou a olhar, se este e aquele gajo não me ajudam, mas não há nada sem solução. E a solução foi a China. Agora, se assinaram maus contratos ou bons, eu tenho que ser justo para com eles, porque foram em busca da sobrevivência. É um ponto favorável. O que não é favorável é, às vezes, o tal acordo a qualquer preço. Como os chineses reproduzem-se a correr, daqui a dias temos muitos ou um número inconveniente de chineses.

    A Corporation pode ter concorrência chinesa?

    Não. Eles não aguentam porque aqui o nosso negócio é outro. Vi a agricultura deles, têm uma beringela porreira, mas continua a não bater. Os nossos hábitos alimentares são diferentes.

    Como está a relação de Angola com Portugal e outros países da CPLP?

    Essa Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) é uma aldrabice, uma tentativa neocolonial dos portugueses a exemplo da Commonwealth.

    Uma cópia do luso-tropicalismo de Gilberto Freire?

    O Gilberto (Freire) é que é o pai desta mentalidade. Então não é mais saudável ou vantajoso a gente ter boas relações aqui ao lado com a Namíbia ou com o Botswana, do que andar quase sete mil quilómetros para ir ter com os colonos? Ele que veio aqui pedir sal e depois ocupou a tua terra.

    Acha que Angola está em condições de aderir à zona de comércio livre da SADC?

    Sim, mas se a gente também não aguentar não faz mal, ficamos na cauda. E pouco a pouco desenvolvese para nos integrarmos. Com a África do Sul é outra coisa e não vale a pena. Às vezes ouvimos aí uns palermas, desculpe porque é esse o termo certo, que para aldrabarem o povo dizem que somos uma potência. Nós ainda não somos. E agora parece que o Irão vai entrar, o petróleo está a cheirar alho, já não está a dar troco. Presumo que nos próximos cinco anos a situação do petróleo vai-se manter.

    O que tem ouvido aqui no ‘Lusaka’ em relação à crise?

    Aqui você vai ter com o Man Mingaxi e outros, eles vão dizer: crise mesmo é quê? É só para nos aldrabar, porque não havia razões para a crise. Mas também tenho que compreender o Governo. Você se te aparecer dinheiro, supondo que moras no Benfica, vais sambar já nos Trapalhões. Dinheiro faz mal aos bolsos. Está cheio e começas a gastar à-toa. É isso que a gente fazia.

    Gastamos mal o dinheiro no tempo das vacas gordas?

    Sim. Mas não era vacas gordas, mas sim ‘petróleo gordo’, porque era cento e pouco o preço do barril.

    Continua a defender a ideia de que para se distribuir melhor as riquezas do país basta que existam concursos públicos?

    Isso até não precisa de se fundamentar. É verdade que em quase todos os sítios há concursos viciados à partida, mas as pessoas sabem que saiu no ‘Pravda’ concurso para o Ministério da Matemática. As pessoas vão lá e mostra transparência. Você mesmo que estiver a aldrabar as pessoas e já tem os candidatos préseleccionados. Toda a gente vai dizer que houve concurso. Se o glorioso não foi apurado é porque não tinha categoria. Repare que uma vez falei que roubem com moderação e gastem o dinheiro aqui, dirigindome aos ministros e dirigentes que temos aqui e ficaram ricos milagrosamente. Uma das coisas que disse a propósito das obras que o Governo estava fazer era de que não bastava só as tal centralidades do Kilamba e do Sequele. Como é que as pessoas se vão movimentar se 85 por cento dos serviços públicos estão aqui na Ingombota? Portanto, todos os dias as pessoas desaguam em Luanda. No tempo colonial havia um ramal que saía daqui da CIPAL até ao Kikolo, interligava com um outro que saía da Cimangola, até ao Cacuaco, onde havia um porto que exportava coisas. Você com uma linha férrea destas, a mobilidade das pessoas que moram no Panguila e às vezes não vêm trabalhar no tempo de Chuva era maior. Alguém dirá que sou reacionário por falar disso. Se calhar alguém do Comité de Especialidade dos Bajuladores.

    Lembra-se do slogan ‘Saúde Para Todos no ano 2000’. Efectivou-se?

    A prova está aí, o lixo e a mortalidade infantil aumentaram. Não basta só construir hospitais que depois não têm remédios. O mais grave é que às vezes não tem um técnico base de saúde. Sim senhor, estão a fazer esforços, porque não sou daquele tipo de pessoas que só fala mal e não vê o que o outro fez. Mas regrediu. Se era para o ano 2000. É melhor dizer a quem falou isso para pôr ano 2050.

    É adepto dos Palancas Negras?

    Quem não se revê? É verdade que a maioria dos jogadores são uma fraude. Mas você também se não é da selecção do teu país, como tanta gente que anda aí de que em Portugal sou do Benfica, em Espanha do Barcelona e na Inglaterra do Manchester. O que é isso? Acho que deviam ser como eu, sócio n.º 214 do Progresso Associação do Sambizanga.

    Porquê é que a Turma do Cabelo Mau não chegou a ser recordado no Caldo do Poeira, da RNA, onde por sinal trabalhaste?

    O Caldo do Poeira é música angolana. Nós, no máximo, cantávamos música estrangeira em Kimbundu. Era música rock. Aqui em Angola é o semba. Agora diz-se kizomba, mas também não sei o que é. Vão nos pôr lá para quê? Metade vão desmaiar porque o rock é uma música violenta, faz muito barulho.

    Nunca pensaram recordar estes momentos num espectáculo, até porque não chegaram de gravar um disco?

    Olha, há uma coisa que é preciso recordar. O Abuzgnet Dias Palhas, que era o nosso baterista, foi morto pela DISA. O ‘Mister Mbuco’, que era o percussionista, foi morto pela DISA. O Arlindo ‘Dany’, que era o viola solo, morreu no esforço da guerra. Sobrei eu, o ‘Ivanhoé Matos da Fonseca Síboda’ morreu. Quer dizer que o staff todo o morreu. O homem da resistência é aqui o glorioso.

    Uma reedição do Beatles?

    Sim, mas nos Beatles sobraram ainda dois. O Ringo e o Paul Mc Cartney.

    Tem algum ídolo?

    O meu ídolo mesmo a nível literário é ‘Terça-Feira Lobizangue Vampa’. É um escritor lá da India.

    E na política?

    Um gajo se fala bem destes… Acho que sou eu.

    E que dizer de Obama e o seu discurso na União Africana?

    Obama é mais um imperialista. É verdade que mandou uns recados para uns angolanos que conheço. Mas no essencial puseram um mulato como presidente, mas os Estados Unidos não deixaram de ser um país imperialista.

    ‘Esses doutores que não são reconhecidos ficam doutores provisórios’

    Qual é a impressão que tem hoje da imprensa?

    Evoluiu tecnologicamente. Ideologicamente continua a mesma coisa. Por exemplo, o (José) Ribeiro não se pode dar ao luxo de ‘falar bem’ da UNITA todos os santos dias. O vosso jornal também ando a desconfiar que o vosso patrão vai ficar aborrecido quando souber que me entrevistaram. Vão dizer: aquele gajo é reacionário, foram falar com ele porquê? Vais ver. Ou se calhar não. Mas a maior parte da imprensa tem dono. Já falei com alguns amigos e às vezes temos que escrever nas entrelinhas.

    Como vê a forma como se faz rádio hoje?

    É o que acabei de dizer, mas na rádio ainda tens um bocado de escapatória, principalmente se for um programa em directo. Manda um p… e depois diz desculpa. E agora num jornal onde tem já um membro do Ministério do Pensamento, vão pegar no lápis azul.

    Tem ouvido a Rádio Nacional de Angola?

    De uma maneira geral oiço ou leio o essencial, porque um gajo não pode se aliar nas makas que se passam aqui. Mas agora avaliar o serviço deles, eu já sei que é sempre a mesma coisa. Eles ganham para isso. Portanto, deixá-los andar. No fundo, é tudo a mesma coisa.

    O ministro do Ensino Superior fez sair um comunicado indicando que muitos cursos ministrados nas nossas universidades são ilegais. Está a acompanhar a situação?

    Há dias li um livro cujo título é ‘Angola e o Dinheiro’, escrito por um português professor Mário ou Miguel Verde. O senhor ataca forte e feio a tal oligarquia. Porque o fulano tem dinheiro, o triângulo é este, tal e tal. Esse senhor escreveu isso porque o negócio também correu mal. Ele ataca um ministro, envolvia o Ministério da Educação, como o coitado é Verde, ficou maduro aqui e foi embora. Ele lá falou, falou, falou, que isso é uma porcaria. Como o negócio lhe correu mal foi-se embora. Mas ele veio para aqui para montar a Universidade Independente, que depois lhe ‘kabobolaram’ o espaço do terreno. Era sócio de alguns angolanos, provavelmente na base de 50 por cento cada. Mas os angolanos depois disseram: Man Verde, podes ir e o homem perdeu. Não tinham ainda papelada para começarem a lecionar, porque parece que é isso que ele diz no livro. Se não disse, também não faz mal. Ninguém vai me chamar difamador. Eles zangaram-se justamente porque aqui é o tal princípio do negócio. Dani, agora lanchonete é que está a dar! E toda a gente queria montar lanchonete. Quando disseram que as clínicas é que estavam a dar, iam montar. Então, quando há estes fenómenos comerciais, o tipo que está lá no topo, que concede autorizações, também vê a oportunidade dele. Segundo disseram-me a maior parte das autorizações eram provisórias. Epá, se assim for, esses doutores que não são reconhecidos ficam doutores provisórios.

    De quem será a responsabilidade?

    Naturalmente que é do Governo. Você está aqui na Corporation neste momento, podemos nos sentir porreiros, mas inevitavelmente tem que ir ao Governo para pedir autorização para este material ser divulgado. Porque os meios todos estão com o Governo. Aliás, é que fez as leis, sejam boas ou más. (opais.ao)

    Por: Dani Costa e Sebastião Félix

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