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    Filho de Jair Bolsonaro acusado formalmente de desvio de fundos e de lavagem de dinheiro

    Flávio Bolsonaro, filho mais velho do atual presidente do Brasil, foi acusado pelo ministério Público do Rio de Janeiro de quatro crimes relacionados com um caso de corrupção quando era deputado na Assembleia Legislativa do mesmo Estado, entre 2007 e 2018.

    Além de Flávio são ainda acusados mais 15 ex-assessores, e também Fabrício Queiroz, um ex-polícia de 54 anos muito próximo da família Bolsonaro.

    Estavam todos sob investigação e são acusados de “organização criminosa, desvio de fundos, lavagem de dinheiro e apropriação indevida”, num esquema de apropriação dos salários de ex-funcionário do filho de Presidente na Assembleia do Rio de Janeiro.

    Flávio Bolsonaro seria o líder e Queiroz o “operador” do esquema, conhecido sob o termo rachadinha, segundo o qual alguém, contratado pela Assembleia Legislativa, que lhe paga o salário, entrega parte deste à pessoa para quem vai trabalhar.

    O esquema será prática corrente entre os políticos brasileiros.

    Coincidência com eleições municipais

    A acusação ao senador, de 39 anos, deverá ser avaliada por um juiz, que irá decidir se avança ou não com o processo.

    A equipa de defesa de Flávio Bolsonaro afirma que as acusações são infundadas. Já o filho do Presidente insinua que não há coincidências quanto à data em que foi feita a acusação formal.

    “Não cometi nenhuma ilegalidade”, afirmou Flávio na sua conta da rede Instagram, fazendo notar que “a procuradoria do Rio cometeu uma série de erros bizarros na sua apresentação na véspera de eleições municipais”, cuja primeira volta está marcada para 15 de novembro.O escrutínio municipal está a ser visto por alguns analistas como um teste ao Chefe de Estado a meio do mandato. A esquerda, que ataca Bolsonaro, celebrou a acusação divulgada nas últimas horas ao partilhar a notícia com a hashtag #FlavioNaCadeia.

    Esta acusação formal é a primeira contra um membro da família de Bolsonaro desde que este assumiu a presidência do Brasil, em janeiro de 2019.

    Flávio Bolsonaro já afirmou por várias vezes ser vítima de “perseguições políticas” que tentarão na verdade atingir-lhe o pai.

    O Ministério Público quer ainda que o Presidente seja investigado quanto a uma eventual utilização de órgãos e de recursos federais para beneficiar o filho.

    O vice-procurador Lucas Furtado pediu ao Tribunal de Contas da União para averiguar se Jair Bolsonaro “determinou a utilização de recursos públicos — tempo, estrutura e funcionários — da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), não só para o atendimento de interesses particulares seus e da sua família, como para causar embaraços e dificultar investigação pela Receita Federal de atos ilegais dos quais seu filho, o Senador Flávio Bolsonaro, é suspeito”.

    A alegação contra o Presidente foi avançada por uma reportagem da revista Época, segundo a qual advogadas de Flávio teriam tentado, sob intermédio do Chefe de Estado, anular as investigações a Fabrício Queiroz junto daqueles órgãos do Governo Federal.

    De motorista a assessor e alegado ‘operador’

    Fabrício Queiroz, que durante anos foi motorista dos Bolsonaro antes de se tornar assessor parlamentar de Flávio, encontra-se sob prisão domiciliária desde que foi detido em junho, na propriedade de um advogado que já representou os Bolsonaro.

    De acordo com a imprensa brasileira, o antigo polícia terá ligações a várias milícias paramilitares que aterrorizam os bairros mais populares do Rio de Janeiro.

    O esquema da rachadinha que está a tramar o filho mais velho do Presidente e o seu homem de confiança foi revelado em finais de 2018, pouco após a eleição de Jair Bolsonaro, quando a agência governamental de vigilância de transações financeiras, a COAF, publicou “transações atípicas” em 2016 e 2017 encontradas na conta bancária de Queiroz.

    O jornal do Rio de Janeiro O Globo alega que as acusações se baseiam no testemunho de uma ex-assessora, Luiza Sousa Paes, que afirmou aos investigaores ter sido obrigada a entregar a Queiroz mais de 90 por cento do seu salário. Paes afirma que, ao longo de seis anos, entregou cerca de 160 mil reais (mais de 22 mil euros) ao homem de confiança dos Bolsonaro.

    De acordo com as autoridades judiciais, este último terá desviado 2,7 milhões de reais (cerca de 401 mil euros). Somas parcialmente lavadas através da compra de imóveis em dinheiro vivo. Uma loja de chocolates, de que Flávio Bolsonaro é um dos proprietários, teria sido utilizada igualmente para lavar o dinheiro proveniente da rachadinha.

    “Partir sua cara”

    Jair Bolsonaro, um antigo capitão do exército, chegou ao poder em 2018 como paladino anti-corrupção. Imagem que tem vindo a ruir aos poucos.

    Uma das suas antigas apoiantes, a deputada conservadora Joice Hasselmann, desmascarou a característica fraudulenta do esquema de rachadinha, ao comentar a notícia da acusação a Flávio Bolsonaro.

    Quase logo depois, Hasselman não deixou dúvidas quanto à razão pela qual deixou de apoiar Bolsonaro.

    Em agosto passado, a revista Crusoé revelou que Queiroz terá depositado 21 cheques de 72.000 reais (cerca de 18 mil euros ao câmbio de 2016) na conta da Primeira Dama, Michelle Bolsonaro, entre 2011 e 2016.

    O assunto e a Primeira Dama também estão a ser investigados. Jair Bolsonaro, questionado por um jornalista sobre os alegados pagamentos, respondeu sem meios termos. “O que eu queria mesmo era partir a sua cara, ok?”, retorquiu o Presidente.

    Além de Flávio e de Michelle, outros dois filhos de Jair Bolsonaro, Carlos e Eduardo, têm sido acusados de irregularidades financeiras e da disseminação ilegal de desinformação. Ambos negam quaisquer ilegalidades.

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    FonteRTP

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