Por: Paulo Cunha
Regresso de uma corrida no sábado ventoso de 20 de junho de 2020. A porta da garagem abre-se lentamente, quando rádio do carro assinala as 13:00 e a notícia de abertura é “Morreu o actor PEDRO LIMA”.
Fico em transe, nem me lembro de ter estacionado o carro. Sou tomado por um turbilhão de memórias recuando até ao ano de 1982, quando conheci o Pedro, então um jovem e super-talentoso nadador, de personalidade bem vincada para quem tinha apenas 12 anos de idade.
Nos anos que se seguiram o Pedro nem sempre fez o que nós desejávamos, nem sempre cumpriu o plano traçado, tinha ideias próprias e sobretudo amava a vida e vivia-a à sua maneira, de modo sempre frontal e respeitoso, mas à sua maneira. Ao longo dos tempos, sempre fomos dizendo “O Pedro ficou muito aquém do que poderia ter alcançado como nadador, tinha talento para muito mais”. Mas o Pedro até alcançou muito e não queria mais, nós queríamos muito mais do que o nadador Pedro Lima.
O nadador transformou-se em modelo profissional e posteriormente em actor – e que actor. O jovem rebelde transformou-se num adulto extraordinário, profissional, pai exemplar, cidadão simpático e solidário, um ser humano íntegro, excepcional.
Nos últimos anos fomo-nos cruzando em situações várias espaçadas no tempo: na formalidade de uma gala em que foi pivot (em que ambos desformalizámos), à saída da praia enquanto despia o seu fato após mais uma surfada e a última vez, há um ano, quando descobrimos que frequentávamos o mesmo ginásio, normalmente em horários antagónicos. Mas de todas esses reencontros recordo sempre as mesmas coisas: o sorriso largo e sincero, a palavra amiga, o abraço firme e um apurado sentido de humor.
Tive a sorte de ser um muito jovem treinador de natação do Sporting CP quando o Pedro Lima era nadador do clube; foi um período único e decisivo na minha carreira profissional, onde muito mais que o sucesso (sempre efémero) ficam as memórias de uma verdadeira família que ainda hoje comunica, se encontra e partilha a vida, tornando momentos como este ainda mais dramáticos e insuportavelmente dolorosos.
Querido Pedro Lima, temos muitas saudades tuas e ficarás para sempre nos nossos corações!