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    Dinossauros: NGola Ritmos

    (Capa do CD do conjunto NGola Ritmos, editado em Paris, pela Buda Musique. (Foto: D.R.)
    (Capa do CD do conjunto NGola Ritmos, editado em Paris, pela Buda Musique.
    (Foto: D.R.)

    Agrupamento musical angolano, Ngola Ritmos surgiu em 1947, por iniciativa do guitarrista Liceu Vieira Dias e Nino N’dongo. O objetivo do grupo era preservar a cultura angolana e afirmar a identidade nacional numa tentativa de reação à imposição colonialista que rejeitava todas as manifestações culturais indígenas. Deste modo, cantavam canções na sua maioria de origem popular, em kimbundu, com a intenção de elevar a cultura dos seus antepassados e de estabelecer uma relação entre o campo e a cidade, cujas diferenças eram bastante acentuadas. Dada a dificuldade em se imporem e em transmitirem a sua música através da rádio ou televisão (meio de comunicação restrito, somente acessível aos colonos de boa posição), o grupo atuava para amigos, em aniversários, em festas, de vez em quando em espetáculos, e no Bairro Operário (lugar de transição entre os musseques – zonas periféricas – e a urbanização), onde incitavam à luta pela independência.
    Com a sensibilidade musical e conhecimentos mais avançados de Liceu Vieira Dias, o grupo começou a crescer a partir de 1950. Surgiram novos elementos, como Amadeu Amorim, António Van-Dúnem, Zé Maria dos Santos e Euclides Fontes Pereira, e deram a primeira entrevista do agrupamento em 1952. Para ganharem mais audiência, apelaram à participação de outros artistas, como Sara Chaves, Fernanda Ferreirinha e Belita Palma, e começaram a apresentar canções portuguesas em melodias angolanas e ritmos mais tropicais. Surge, então, o “semba”, um novo género musical, que consiste numa mistura de vários ritmos, como o cidrália, o lisanda, o cabocomeu, o caixa corneta e o cabetula, permitindo ligar a música popular rural ao espaço urbano. Canções como “Muxima”, “Mbiri Mbiri”, “Kwaba Kuale”, entre outras, tornaram-se grandes sucessos e o grupo começou a fazer as primeiras gravações em fita, nas emissoras.
    Em 1959, Euclides, que era funcionário público de profissão, foi transferido para Luso (um dos estratagemas da administração colonial) e Liceu Vieira Dias, Amadeu Amorim e Zé Maria dos Santos, juntamente com outros 50 nacionalistas angolanos, foram presos, acusados de conspiração contra as autoridades coloniais portuguesas. Apesar do contratempo, Ngola Ritmos continuou o seu percurso, com a força de Nino N’dongo. Entraram novos elementos, como Zé Cordeiro, Gégé e Xodó e o grupo foi até Lisboa, onde gravaram dois discos.
    Depois da prisão, Liceu Vieira Dias, Amadeu Amorim e Zé Maria dos Santos tinham de apresentar-se, de quinze em quinze dias, à polícia e não podiam manifestar-se politicamente. Mais tarde, com a guerra, veio o recolher obrigatório, o que impedia qualquer atuação à noite e, com o passar do tempo, o grupo foi envelhecendo, o que agravou a agilidade e força de outrora. Ngola Ritmos morreu antes do tempo, mas apesar das limitações, o trabalho do grupo influenciou novos músicos, como Elias Dia Kimuezo, Kiezos, Jovens do Prenda, entre outros. (Infopedia-dicionários Porto Editora)


    Ngola Ritmos – Porta-estandarte da cultura musical angolana

    “Nos anos 40, quando começaram a soprar os ventos independentistas, a vontade de muitos jovens era afirmarem-se como angolanos, os colonialistas impunham a sua cultura em detrimento da nossa. Parecia mal falar kimbundu, quem o falasse era considerado atrasado, gentio, qualquer pessoa de 40 anos das zonas urbanas não sabe kimbundu, viveu a pressão das mães que diziam: Menino parece mal, tu já és uma pessoa civilizada etc. Os fundadores do N’gola Ritmos pensaram exactamente que era preciso fazer algo para manter a nossa identidade. O espaço à volta não permitia manifestações culturais da terra, daí fazer-se um conjunto musical. Nos anos 40 com o Liceu Vieiras Dias, o Nino Ndongo, eram os principais, tocava-se em casa deste ou daquele. Só em 1950 o conjunto cresceu.”
    “(Os Ngola Ritmos) era uma rebelião pacífica, tentando despertar consciências adormecidas, que não acreditavam em mais nada, eram 500 anos de colonização. Não havia televisão, nem rádio para toda gente, os jornais não chegavam aos musseques nem ao interior do país e nós sabíamos que uma canção ficava presa no assobio, no cantar. Na LNA quando cantávamos em kimbundu, as pessoas viravam a cara meias envergonhadas, chamavam-nos os mussequeiros…acabamos por fazer canções de absoluta reivindicação, e incendiávamos aquelas pessoas fartas de ser espezinhadas, e eles entendiam que havia qualquer coisa na fogueira. Isso acabou por se descobrir, fomos perseguidos. O conjunto morre antes do tempo, aqueles que eram funcionários foram transferidos. Entra este, sai aquele, entra outro etc. Tudo culmina com a prisão porque alguns de nós estávamos directamente metidos na luta política, como eu e o Liceu, nenhum de nós sabia o quanto o outro estava metido, na altura nem com a mulher se podia falar. Foi esta fase que resultou na criação do MIA (Movimento Independentista de Angola).” Ler mais: (Ngola Ritmos – Porta-estandarte da cultura musical angolana)

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