Anualmente morrem, milhões de mulheres e recém-nascidos por falta de assistência especializada e são também milhões os que sofrem problemas de saúde ou lesões, porque as necessidades das gestantes e a especificidade do serviço prestado pelas parteiras não são reconhecidas ou permitidas.
“As enfermeiras parteiras desempenham um papel vital na redução dos riscos de parto para mulheres em todo o Mundo, mas muitas delas mesmas foram expostas ao risco durante a pandemia COVID-19. Devemos aprender cada uma das lições que a pandemia nos apresenta, implementando políticas e fazendo investimentos que proporcionem melhor apoio e proteção para as enfermeiras parteiras e outros profissionais de saúde”, declarou o Director Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, por ocasião do 05 de Maio, Dia da Enfermeira Parteira.
De acordo com uma nota enviada ao Portal de Angola, a escassez mundial de enfermeiras parteiras é de 900 mil profissionais e o investimento em formação até 2035 evitaria cerca de dois terços das mortes maternas, de recém-nascidos e nados-mortos, salvando um total de mais quase 4 milhões e meio de vidas por ano.
Estas são algumas das principais conclusões do relatório da Situação Mundial da Obstetrícia de 2021 do UNFPA (a agência de saúde sexual e reprodutiva da ONU), OMS (Organização Mundial da Saúde), Confederação Internacional de Parteiras (ICM) e parceiros, que avalia a força de trabalho da obstetrícia e recursos de saúde relacionados em 194 países.
A Directora Executiva do UNFPA, Natalia Kanem, por sua vez, deixa o alerta: “O relatório da Situação Mundial da Obstetrícia faz soar o alarme de que atualmente o Mundo precisa urgentemente de 1,1 milhão de profissionais de saúde essenciais para prestar cuidados de saúde sexual, reprodutiva, materna, neonatal e adolescente, e 80 por cento desses profissionais de saúde essenciais são parteiras. Uma parteira, capaz e bem treinada, pode ter um impacto enorme nas mulheres grávidas e em suas famílias – um impacto muitas vezes transmitido de uma geração para a outra. No UNFPA, passamos mais de uma década fortalecendo a educação, melhorando as condições de trabalho e apoiando os papéis de liderança para a profissão de parteira. Vimos que esses esforços funcionam, mas precisam de um investimento maior”.
Os dados do estudo realizado para o relatório da ONU, publicado em Dezembro passado dão suporte ao apelo de longa data da OMS para fortalecer a força de trabalho da obstetrícia, o que pode proporcionar o triplo das condições para uma melhor saúde, igualdade de género e crescimento económico inclusivo.
A ONU alerta para o facto de as questões relacionadas com desigualdade de género não serem tidos em conta na análise dessa enorme escassez de profissionais especializados. A contínua falta de recursos da força de trabalho da obstetrícia é um sintoma de que os sistemas de saúde ainda não dedicam a devida atenção às necessidades de saúde sexual e reprodutiva de mulheres e meninas, e não valorizam o papel das parteiras – a maioria das quais são mulheres – para atender a essas necessidades. As mulheres representam 93 por cento das parteiras e 89 por cento das enfermeiras.
A COVID-19 veio agravar a situação: dada a dimensão necessária para a resposta à pandemia, as necessidades de saúde das mulheres e dos recém-nascidos têm sido deixadas em segundo plano com os serviços de obstetrícia, em muitos casos, funcionando de forma precária e as parteiras remanejadas para outros serviços de saúde.
Perante esta realidade, Franka Cadée, Presidente da Confederação Internacional de Parteiras sublinha que: “Como prestadoras de cuidados primários autónomas, as parteiras são continuamente esquecidas e ignoradas. É hora dos governos reconhecerem as evidências em torno do impacto dos cuidados conduzidos pelas enfermeiras parteiras na promoção e na salvação de vidas, e tomar medidas com base nas recomendações do relatório da Situação Mundial da Obstetrícia de 2021. A Confederação Internacional de Parteiras está empenhada em alavancar a força de nossa comunidade global de parteiras para levar adiante essas descobertas poderosas e inspirar mudanças nos países. No entanto, esse trabalho não é possível sem o compromisso dos tomadores de decisão e daqueles com recursos para investir em parteiras e no atendimento de qualidade que elas prestam às parturientes.”
Além da assistência aos partos, estas profissionais prestam também cuidados pré-natais e pós-natais e uma variedade de serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo planeamento familiar, detecção e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis e serviços de saúde sexual e reprodutiva para adolescentes, ao mesmo tempo em que garantem cuidados respeitosos e defendem os direitos das mulheres. À medida que o número de parteiras aumenta e elas são capazes de fornecer cuidados em um ambiente propício, a saúde das mulheres e dos recém-nascidos melhora como um todo, beneficiando toda a sociedade.
Para que as parteiras atinjam seu potencial de salvar e mudar vidas, é necessário um maior investimento na sua educação e treinamento, prestação de serviços conduzidos por parteiras e liderança em obstetrícia. Os governos devem priorizar o financiamento e o apoio à obstetrícia e tomar medidas concretas para incluí-las na determinação das políticas de saúde.