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    David Dias: O David do Prenda ‘eliminou’ muitos Golias

    Nunca um David enfrentou e conseguiu destruir tantos ‘Golias’ e orgulhou a todos, como foi o caso de David Dias, um amado filho do Prenda que, com notável dedicação, teve a proeza de representar e bem o bairro nas mais variadas e exigentes montras do basquetebol angolano, africano e mundial.

    José dos Santos | In Facebook

    Ao contrário da figura de que herda o nome, o nosso David era gigante, mas senhor de uma simplicidade para lá do normal.

    Filho do Prenda, com os cordões umbilicais ali enterrados, onde debutou para a juventude e se fez homem, desde muito cedo que começou a descer e subir a então Avenida Lisboa, actual Amílcar Cabral, para franquear as portas do Comité Desportivo Militar (CODEM), onde viria a aprender as primeiras lições de basquetebol e ganhar grande intimidade com a bola ao cesto.

    À época, com muitos anões por metro quadrado na realidade angolana, o David Dias era o nosso «sabonis do Prenda», de tanto que era seguido ao milímetro sempre que caminhasse pelo asfalto e areal do Prenda, no seu vai e vem entre a casa e o CODEM.
    A casa dos seus pais achava-se no conjunto de casebres surgidos entre os lotes 10 e 11, vulgo ‘Prédio dos Cooperantes’, que acomodava os trabalhadores expatriados da Paviterra.

    De família humilde, David Dias destacava-se entre os irmãos e os jovens da sua idade, tanto pela sua característica introvertida, como pela forma como disciplinada de ser, estar e encarar. Nunca foi uma figura de jactâncias e ostentações “desses tempos que nos pariu”.

    Aliás, para quem teve como tutor Victorino Cunha, uma figura do basquetebol indígena que dispensa toda e qualquer apresentação, a disciplina e o trabalho eram as palavras-chaves. O resto vinha por arrasto e, quase sempre, pela boca de outros.
    Apesar de quase sempre nunca se lhe ouvir a voz, David tinha sorriso. Escondido, mas quase sempre se lhe arrancava um sorriso rasgado.

    Era no pavilhão, no seu elemento, nos treinos ou em jogos oficiais, que se espalhava por completo e fazia exalar o perfume do seu já evoluído basquetebol.
    Os seus passos lentos, próprio de um pernilongo, confundia os seus adversários. Na verdade, era um falso lento, tanto que aparecia a explodir na zona do ‘garrafão’, que era, afinal, a sua zona de jurisdição.

    Não sendo propriamente o fiel escudeiro, era a alma gémea de Jean Jacques da Conceição na selecção nacional. Entendiam-se na perfeição, de tanto que eram capazes, se disso fosse necessário, jogar de olhos vendados.

    Era um ‘quatro’, que chegava a fazer ‘cinco’ em muitas ocasiões e na maior naturalidade, dada a capacidade e forma inteligente de se desembaraçar dos seus marcadores directos por mais gigantes e ameaçadores que fossem.

    David Dias tinha arte e muito engenho jogar e fazer jogar com inexplicável facilidade. Integrou a geração dourada, superiormente comandada pelo Professor Victorino Cunha e que deu início a implantação de irrepreensível e impiedosa «ditadura» no basquetebol africano, iniciada em 1989, quando Angola conquistou, em Luanda, o título de Campeão Africano da modalidade. Depois seguiram-se mais dois e, por este andar, vieram muitos outros. Ao total, David Dias conta com seis dourados “anéis” de Afrobasket. Luanda (1989), Cairo (1992), Nairobi (1993), Argel (1995), Casablanca (2001).

    Foi ainda bronze em Túnis, em 1987, e Dakar (1997). Conquistou ainda uma medalha de Bronze Sub-18, em Abuja (Nigéria).

    Mas não é tudo: entre 1985, início da carreira basquetebolística, e 2003, altura em que pendurou as sapatilhas, colecionou mais títulos: campeão pelo 1º de Agosto, equipa de formação e eleição.

    Em meados dos anos 90, o poste angolano actuou ainda além-fronteiras: representou os clubes portugueses Queluz, Benfica e Barreirense, ingressou no Estoril, uma equipa da II Divisão A.

    Esteve presente na célebre equipa que deixou marcas indeléveis nos Jogos Olímpicos do Barcelona 1992, além das participações em Atlanta (1996), onde o Top 10 dos melhores ressaltadores, e, em 2000, esteve ainda nos Jogos Olímpicos de Sydney, Austrália.

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