Estima-se que, todos os dias, 46 pessoas morrem por desnutrição em Angola. UNICEF diz que a situação das crianças piorou com a crise provocada pela pandemia da Covid-19.
A crise económica sentida desde a queda do preço do barril do petróleo e agravada pela pandemia da Covid-19 está a acentuar o problema da desnutrição infantil em Angola.
Se antes da crise os números “não eram bons”, com a crise “eles só tendem a agravar”, afirma Sérgio Calundungo, coordenador do Observatório Político e Social de Angola. O economista lembra que muitas famílias deixaram de ter meios de sustento.
“Havia muitas famílias cuja produção era vendida nas principais vias de acesso e, havendo menos tráfego e circulação de pessoas, a probabilidade de vender um quilo de fruta e de vender um quilo de produtos agrícolas diminuiu bastante”, analisa.
Impactos no desenvolvimento
De acordo com o último Inquérito de Indicadores Múltiplos de Saúde (IIMS), em 2016, uma em cada quatro crianças menores de cinco anos sofria de desnutrição crónica em Angola, o correspondente a 1,9 milhões de crianças. Fanceni Balde, coordenadora dos projectos de nutrição da UNICEF Angola, explica que a má alimentação pode causar distúrbios que, no limite, podem levar à morte.
“Normalmente essa desnutrição é representada por desequilíbrios que foram acontecendo ao longo da gestação e nos primeiros cinco anos e que depois têm impactos de forma irreversível, tanto na capacidade de desenvolvimento cognitivo e de aprendizagem da criança, como também no seu próprio estado de saúde.”
Uma das principais causas do problema apontadas por Balde é a falta de alimentação dos bebés com leite materno: “Temos somente 38% dos nossos bebés angolanos que são amamentados de forma exclusiva e predominantemente exclusiva até aos seis meses. Isso depois traduz-se na anemia. Temos cerca de 65% das nossas crianças com menos de cinco anos que sofrem de anemia”, cita.
A dieta pobre e pouco diversificada, sem introdução de alimentos ricos em nutrientes, é outra das causas da desnutrição apontadas pela especialista da UNICEF, que diz que quase 88% das crianças entre os 6 e os 23 meses não têm acesso a dietas diversificadas.