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    Construtora Mota-Engil subornou Bingu wa Mutharika – jornal

    A construtora portuguesa Mota-Engil corrompeu Bingu wa Mutharika para  monopolizar os negócios no Malawi, escreve o diário malawiano “The Nation”, que diz ter levado quase um mês a investigar o caso.

    O grupo Mota-Engil, presente em Moçambique em importantes projectos, terá ganho nos últimos anos milhões de doláres em várias empreitadas no Malawi à custa de pagamentos periódicos e suspeitos ao falecido Presidente Bingu wa Mutharika, entre 2010 e 2011.

    O jornal malawiano refere que no período em referência, a construtora lusa fez pagamentos separados em cheques em nome do falecido estadista com valores nominais entre quatro mil a quarenta mil doláres americanos.

    O  “The Nation” diz que teve acesso às cópias dos cheques ‘corruptos’, totalizando 54 mil dólares depositados nas contas de Mutharika. Alguns desses pagamentos, prossegue a reportagem do jornal, foram entregues directamente ao beneficiário, enquanto outros foram depositados nas suas contas nos bancos comerciais.

    A Mota-Engil reconhece os alegados “subornos” ao malogrado estadista malawiano, mas a companhia defende-se afirmando que se tratava de donativos, uma espécie de “dádiva” merecida ao grande Chefe.

    Entre outras obras, a portuguesa Mota-Engil construiu a luxuosa mansão de Bingu wa Mtutharika, em Thyolo, sua terra natal,  onde foi sepultado a vinte e três de Abril último, depois da sua súbita morte, devido a uma paragem cardíaca.

    As investigações do “The Nation”, que são parte do esforço visando apurar as fontes de riqueza de Bingu wa Mutharika,  estimada em biliões de kwachas – a moeda nacional do Malawi ou em milhões de doláres – revelam que entre outros pagamentos, a Mota-Engil fez depósitos para a conta Nrº 0140001886701 no Standard Bank em Lilongwe.

    As assinaturas também confirmam que os cheques foram emitidos por um funcionário sénior ou por gente de confiança ligada aos serviços admnistrativos da Mota-Engil.

    As fontes da companhia afirmam que os donativos ao Presidente Bingu wa Mutharika não eram para suborná-lo ou influenciá-lo visando facilitar as empreitadas da Mota-Engil no país, porque, alegadamente, a construtora sempre apresentou boas propostas e acessíveis.

    A Mota-Engil, um grupo aparentemente ligado ao Partido Socialista em Portugal, entrou no Malawi em 1990 e um dos seus primeiros projectos foi a construção da estrada entre Dwangwa e Nkata Bay, que iniciou no mesmo ano. O segundo projecto foi a estrada Msulira-Nkhotakota  que foi executada  entre 2001 e 2004.

    Gradualmente, a companhia foi superando tudo e a todos, e transformou-se no maior empreiteiro da indústria de construção civil durante o regime de Bingu wa Mutharika.

    Desde 2001, a portuguesa Mota-Engil concorreu e ganhou várias empreitadas no Malawi, alegadamente em detrimento dos empreiteiros locais que se queixam de estar a ser preteridos devido à sua suposta incapacidade técnica e financeira.

    Os dados indicam que até Agosto deste ano, a Mota-Engil facturou cerca de duzentos e dez milhões de doláres em empreitadas no Malawi, a maior parte das quais adjudicadas durante a administração de Bingu wa Mutharika.

    Deste montante, metade foi pago pelo governo e outra através de financiamentos externos destinados a vários projectos.

    Fora dos projectos na área de estradas, a Mota-Engil ganhou outros concursos no sector dos transportes, como por exemplo o Porto fluvial de Nsanje, construído e inaugurado às pressas em Outubro de 2010, mas que até hoje é um autêntico elefante branco.

    Para se evitar um abandono total daquelas instalações, o local serve agora de lazer para os residentes do distrito sulista de Nsanje, já que o propósito para o qual foi construído ainda está muito longe de ser concretizado.

    Dizem os detractores de Bingu wa Mutharika que aquela infra-estrutura foi construída às pressas para proporcionar algumas comissões ao então chefe de Estado, um homem que segundo os seus critícos tinha uma grande apetência pelo dinheiro e adorava ganhar “luvas” em todos os projectos no Malawi.

    O Malawi construiu o Porto fluvial de Nsanje como alternativa para tornar acessíveis as suas importações e exportações através dos Rios Chire e Zambeze até ao Porto de Chinde, em Moçambique, mas Maputo exige como condição prévia, a realização de um estudo de impacto ambiental.

    Em Outubro de 2010, o Presidente do Conselho da Admnistração da Mota-Engil, António Mota, visitou o Malawi para assinar o contrato de concessão e exploração do serviço de transporte no Lago Niassa.

    Na mesma altura, António Mota também assistiu à inauguração do porto de Nsanje, avaliado em vinte milhões de doláres.

    Reagindo, aos pagamentos efectuados ao falecido Presidente Bingu wa Mutharika  pela Mota-Engil, a Comissão para a Paz e Justiça da Igreja Católica fez notar que essas “dádivas” podem beliscar a imagem e a postura do então chefe do Estado.

    Chris Chisoni, da referida comissão, sugeriu uma investigação completa destas alegações, incluindo uma intervenção do gabinete contra a corrupção e da polícia fiscal para se determinar a legalidade e transparência dos negócios da Mota-Engil no Malawi e se os pagamentos efectuados a Bingu wa Mutharika podem ser considerados ou não práticas corruptas.

    A Mota-Engil também está envolvida em vários projectos em Moçambique, entre os quais, a ponte que permitirá mais uma travessia no Rio Zambeze, entre a cidade de Tete e Moatize e cujas obras estão orçadas em noventa e um milhões de Euros.

    Antes, o consórcio Mota Engil/Soares da Costa esteve envolvido na construção da Ponte Armando Emílio Guebuza.

    A obra, ligando os distritos de Caia, em Sofala e Mopeia, na Zambézia, custou 61 milhões e setecentos mil euros e foi financiada por diversos parceiros internacionais, incluindo a União Europeia.

    Até agora ainda não foram reportados pagamentos suspeitos da Mota-Engil a dirigentes moçambicanos.

    Recorde-se entretanto que a policia malawiana descobriu sacos e caixas de dinheiro em kwachas e em doláres de proveniência duvidosa no quarto pessoal de Bingu wa Mutharika, logo depois da sua morte em Abril último.

    Alguns jornais alegaram na altura que Bingu wa Mutharika tinha acumulado muita riqueza dentro e fora do país de forma ilícita.

    Dizem ainda os criticos de Mutharika que ele estava quase à beira de “vender” o país só por causa da ambição pelo dinheio.

    Por Faustino Igreja, em Blantyre

    Fonte: RM

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