Quanto ao cinema feito em Angola, dia 12 de Março, na Mediateca de Luanda, o cineasta angolano Dom Pedro abriu o pano com “as consequências do desaparecimento das salas de cinema e o preço e distribuição do filme”, como questões a resolver caso queiramos ter uma produção digna.
Mas não ficou só por Angola, o produtor de Tango Negro apontou a Tunísia e a África do Sul como dois exemplos a seguir, embora também tenha feito realce sobre o fenómeno de venda e distribuição do cinema nigeriano, que tem sido muito impulsionado por uma maioria jovem.
O FESPACO (Festival Pan-africano do Cinema e da Televisão de Ouagadougou) também mereceu alguma atenção, que é um dos festivais que mais impulsiona e oferece visibilidade a produções africanas mas que também tem sido prejudicado devido à sua dependência à língua e produções francesas.
Foi deste modo que fez entender o risco do cinema feito hoje ser de cariz PALOP, virado a esta ideia de comunidade da língua, receando estarmos ainda a seguir a influência do país colonizador.
Agora, se já podemos avançar a ideia de “um novo cinema angolano”, disse ser prematuro, visto que há ainda uma história por se construir e do presente só meia dúzia de projectos mereceram atenção, por um lado. Por outro, o cinema é ainda “caricato” porque as produções são apoiadas por entidades estrangeiras, ou seja, os cineastas a considerar trilham os seus passos a partir do estrangeiro.
Do que viu fora do país, reconheceu haver coisas boas a buscar, que ajudariam também a compreender a importância do cinema. “Acho que podíamos aproveitar o cinema para “vendermos” esta imagem de Angola a se reconstituir e a dar azo ao seu génio criativo, como é o caso do kuduro, que agora atravessa uma fase de internacionalização e que é preciso atestar a sua identidade e origem, podendo o cinema se apresentar como opção através de uma construção fílmica sobre a historia de raízes culturais angolanas que deram origens a subgéneros que não podem ser tomados como novidades ou invenções do agora”, afirma.
O produtor opina que a tarefa de mostrar à posterioridade as géneses do país pode ser feita através de documentários. A exemplo, frisou o conhecimento que nos chega de Mbanza Kongo: “Mas quem sabe ou refere as ligações deste reino e o actualiza? É uma das questões que podem merecer um tratamento fílmico para dar a entender aos jovens como funcionava o reino, até porque possuímos arquivos acerca disso. Quem poderia imaginar a presença da cultura congolesa na Argentina e no Uruguai e a sua interferência cultural nestes países?”, volta a questionar.
Nesta senda, Pedro Ramalhoso, director do Instituto Nacional de Cinema e Audiovisuais, justificou que os interesses do Estado estão virados para a criação de documentários por possuírem um natureza informativa cabal e que se ajusta às necessidades de informação de hoje, deixando ainda de parte o apoio à produção de telenovelas e ficção. (Cultura-jornal angolano de Artes & Letras)