Luanda – Os entulhos colocados nas antigas salinas do município de Cacuaco e outras zonas húmidas estão a degradar o habitat transitório das aves migratórias idas de vários páises, colocando em risco a sua existência.
O facto foi constado hoje, em Luanda, por um grupo de técnicos das direcções nacional de Biodiversidade, de Inspecção Nacional e de Estudo de Impacto Ambiental do Ministério do Ambiente, que manifestaram o seu desagrado com o actual estado de conservação das zonas húmidas de Cacuaco, sobretudo das antigas salinas desta circunscrição da capital.
Neste local, foram encontradas oito espécies de aves migratórias vindas da Europa e do Norte de África (Marrocos, Mauritânia e outros), e verificou-se que algumas construtoras entulham o espaço com areia e pedras, além de terem já erguido infra-estruturas, como é o caso da fábrica de Oxigénio, um parque de recreação “carrossel”, escola, entre outras.
“Por aquilo que vimos, é lamentável. O estado de conservação está mal, estamos a ver terrenos a ser recuperados nesta zona húmida para fins habitacionais, o que não é aconselhável”, lamentou o chefe de departamento da Biodiversidade e áreas de Conservação, António Nascimento.
Está zona húmida de carácter regional a nível de Luanda, retêm as águas das chuvas que vêm a partir de Viana e suas áreas adjacentes como Mulenvos, explicou António Nascimento, destacando a sua importância e grandeza na qualidade de “bacia hidrográfica”.
“A zona húmida regional a nível de Luanda tem a sua bacia hidrográfica que se estende desde o limite da via expressa até ao caminho de ferro de Catete. Despeja as suas águas neste local, que tem a função de receptor”, explicou.
Como receptor, alertou, se for restringida a sua bacia, vários danos podem advir, como é o caso da destruição paulatina da ponte que liga a vila de Cacuaco e, do ponto de vista ambiental, poderá destruir definitivamente o habitat das aves migratórias.
“As aves que frequentam este espaço e tantas outras zonas húmidas vêm da europa e da África. Se estas aves são protegidas a nível internacional, Angola também deve fazer a sua parte para a protecção destes ecossistemas importantes”, realçou António Nascimento.
Disse ser necessária sinergias a nível nacional e internacional, para travar ao máximo o surgimento de mais obras neste local, depois da requalificação da ponte que liga a vila de Cacuaco e outras infra-estruturas que foram surgindo.
António Nascimento lembrou que foi neste local onde as entidades viram desaparecer as antigas instalações da Sefo-pesca, cujas infra-estruturas foram arrastas pela enxurrada.
A situação das zonas húmidas, de uma forma geral, é preocupante a nível do país, segundo António Nascimento, visto que estão a ser cada vez mais invadidas pelo homem, sem querer tirar proveito delas, como a pesca, turismo e lazer.
“Há pessoas que estão a invadir tais terrenos para a construção, uma atitude que representa um grande perigo, porque as próprias “águas não esquecem o caminho que devem percorrer”, e se um dia se registar uma chuva intensa num mínimo de cinco horas em Luanda, teremos danos muito graves”, avisou.
A equipa de trabalho que manteve um encontro com a administradora do município de Cacuaco, de quem receberam alguma informação em relação ao local, também se deslocou à zona húmida junto à boca do rio Zenze. (portalangop.co.ao)