O método de financiamento à exportação de bens e serviços brasileiros para a realização de obras de infraestruturas angolanas pode servir de modelo para o desenvolvimento das relações comerciais entre o Brasil e África, em função da bem-sucedida experiência brasileira em Angola.
Aliás, graças aos altos níveis de retorno dos financiamentos a projectos angolanos, os dois Governos oficializaram recentemente uma nova linha de crédito de 2 mil milhões de dólares norte-americanos, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social do Brasil, em cuja conta-garantia, como contrapartida, Angola deve manter um saldo equivalente a 20 mil barris de petróleo/dia.
Angola, cujo sector da construção é dos que mais cresceu nos últimos tempos, comparativamente a outras áreas da economia, poderá utilizar parte desse financiamento para fomentar a agricultura, a qual ainda tem um pendor fortemente manual, e a indústria transformadora, áreas em que o Brasil ostenta uma larga experiência.
Entretanto, apesar dos crescentes valores e volumes das trocas comerciais entre os dois países, que se situaram em 1,144 mil milhões de dólares em 2011, o Brasil ainda se posiciona na cauda dos principais destinos das exportações angolanas, ocupando a décima primeira posição, depois da Holanda.
Em termos de valores, por exemplo, em 2011 Angola exportou 22,6 mil milhões de dólares à China, principal destino das exportações angolanas, o que representou um aumento de 2,1 mil milhões contra o valor de 2010, ao passo que as saídas de Angola de produtos para o Brasil estiveram avaliadas em 0,4 mil milhões de dólares, equivalente a 0,7% das exportações angolanas.
Balança comercial desequilibrada
No que respeita à composição, os combustíveis representaram 99% das exportações totais de Angola no ano passado, as pedras preciosas 0,8% e as máquinas mecânicas 0,1%.
As importações brasileiras originárias de Angola consistem basicamente na importação de combustíveis, sobremaneira a compra de óleo de petróleo bruto e propano liquefeito, sendo que a participação dos combustíveis nas compras brasileiras de 2011 foi de 100%.
No sentido inverso, isto é, as origens das importações angolanas, o Brasil ocupa o quarto lugar, posicionando-se nos três primeiros Portugal, China e Estados Unidos da América.
As carnes e açúcares são os grupos de produtos com maior peso nas exportações brasileiras para Angola, representando conjuntamente 42% do total de bens exportados, seguidos das máquinas mecânicas, móveis e máquinas eléctricas.
Em função da agitação registada pelo sector da construção, as máquinas mecânicas representam 15,5% do total das importações angolanas, seguidas das máquinas eléctricas, 8,7%, e obras de ferro ou aço, 7,0%, mas a maior fatia do bolo cabe aos produtos diversos, com 40,4%.
De acordo com o presidente da Câmara de Comércio Angola-Brasil, Eduardo Arantes Ferreira, brasileiro de nacionalidade, a balança comercial entre os dois países encontra-se totalmente desequilibrada quando se constata que o seu país, por exemplo, exportou de Janeiro a Junho de 2012, em milhões de dólares, 155,9 ( Carnes), 78,1( Açúcar), 47,9 (Automóveis), 44,6 (maquinas mecânicas), 31,2 (móveis), enquanto as importações brasileiras vindas de Angola se limitaram a combustíveis, 45,8 milhões de dólares de Janeiro a Junho de 2012.
Neste contexto, a fonte é da opinião de que somente com investimentos do Governo angolano em infraestrutura, no sentido de criar as condições necessárias para atrair investidores internacionais a instalar novas indústrias em Angola, e também aumentando-se a produção agrícola, será possível propiciar o aumento das importações brasileiras oriundas de Angola, um maior equilíbrio nas relações comerciais e melhoria das condições gerais do povo angolano.
“Pelo que estamos a ver, o Governo angolano esforça-se para conseguir isto. Não podemos esquecer-nos de que Angola está a reconstruir o país, após uma longa guerra civil. Acreditamos que está no caminho correcto”, avalia Eduardo Ferreira.
À reconquista de África
O Brasil prepara uma nova estratégia nas relações com os países africanos, no âmbito do desenvolvimento do seu Programa de Financiamento às Exportações (Proex), a qual consiste na aplicação do modelo ensaiado com Angola.
Nos próximos tempos, este país da América Latina poderá desenvolver novas parcerias com Moçambique e Gana, estando em análise novas formas de garantia para alguns projectos com o uso de recebíveis lastreados em carvão.
Além de Angola, o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social do Brasil já fez desembolsos para Moçambique. A instituição financeira voltou-se para esse país africano na esteira do projecto de carvão de Moatize, da Vale, em que ainda não aplicou valores, uma vez que, depois de conhecer o país, o BNDES acabou por participar de um outro projecto, ligado à construção de um aeroporto em Nacala, a cargo da Odebrecht.
Devem ser financiados pelo banco entre 120 e 150 milhões de dólares norte-americanos para a aquisição de bens e serviços brasileiros para o aeroporto.
O fluxo comercial entre África e o Brasil no período de 2008 a 2010 foi em média de 9,3 mil milhões de dólares ao ano, aproximadamente 5,1% no total das exportações brasileiras. Apesar do decréscimo entre 2008 e 2009, por conta da crise financeira internacional, o Brasil recuperou-se atingindo um crescimento de 7% em 2010 nas exportações. Fazendo uma comparação do primeiro trimestre de 2011 com o período análogo de 2010, as exportações brasileiras para o continente africano, segundo fontes brasileiras, foram de 2,5 milhões de dólares contra 1,8 milhão em 2010.
Relações diplomáticas mais estreitas
O forte incremento das trocas comerciais entre Brasil e Angola resulta acima de tudo do estreitamento das relações diplomáticas entre os dois Estados, incentivado sobretudo durante o Governo de Luiz Inácio Lula das Silva, que nos últimos cinco anos esteve por três ocasiões em Angola, sendo uma delas já como ex-presidente.
Entretanto, no final de 2011, a presidente Dilma Rousseff também visitou o Palácio da Cidade Alta. Conforme lembra o presidente da Câmara de Comércio Angola-Brasil, Eduardo Arantes Ferreira, o Brasil tinha apenas a Embaixada de Angola em Brasília e um consulado geral no Rio de Janeiro, mas criou também em São Paulo um consulado geral como sequência da grande demanda por vistos “ e pela importância do Estado de São Paulo nas trocas comerciais com Angola. Com isso podemos afirmar que Angola continua sendo um país que atrai as atenções brasileiras”, reafirma o responsável.
Fonte: Economia & Mercado