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    Angola-Brasil, Uma relação que cheira a petróleo

    O método de financiamento à exportação de bens e serviços brasileiros para a realização de obras de infraestruturas angolanas pode servir de modelo para o desenvolvimento das relações comerciais entre o Brasil e África, em função da bem-sucedida experiência brasileira em Angola.

    Aliás, graças aos altos níveis de retorno dos financiamentos a projectos angolanos, os dois Governos oficializaram recentemente uma nova linha de crédito de 2 mil milhões de dólares norte-americanos, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social do Brasil, em cuja conta-garantia, como contrapartida, Angola deve manter um saldo equivalente a 20 mil barris de petróleo/dia.

    As cinco linhas de crédito assinadas entre Angola e o Brasil, iniciadas em 2006, estão avaliadas em 5,2 mil milhões de dólares, sendo que deste total 3,2 mil milhões correspondem aos quatro financiamentos anteriores, dos quais ainda falta desembolsar 1,2 mil milhões de dólares.

    Angola, cujo sector da construção é dos que mais cresceu nos últimos tempos, comparativamente a outras áreas da economia, poderá utilizar parte desse financiamento para fomentar a agricultura, a qual ainda tem um pendor fortemente manual, e a indústria transformadora, áreas em que o Brasil ostenta uma larga experiência.

    Entretanto, apesar dos crescentes valores e volumes das trocas comerciais entre os dois países, que se situaram em 1,144 mil milhões de dólares em 2011, o Brasil ainda se posiciona na cauda dos principais destinos das exportações angolanas, ocupando a décima primeira posição, depois da Holanda.

    Em termos de valores, por exemplo, em 2011 Angola exportou 22,6 mil milhões de dólares à China, principal destino das exportações angolanas, o que representou um aumento de 2,1 mil milhões contra o valor de 2010, ao passo que as saídas de Angola de produtos para o Brasil estiveram avaliadas em 0,4 mil milhões de dólares, equivalente a 0,7% das exportações angolanas.

    Balança comercial desequilibrada

    No que respeita à composição, os combustíveis representaram 99% das exportações totais de Angola no ano passado, as pedras preciosas 0,8% e as máquinas mecânicas 0,1%.

    As importações brasileiras originárias de Angola consistem basicamente na importação de combustíveis, sobremaneira a compra de óleo de petróleo bruto e propano liquefeito, sendo que a participação dos combustíveis nas compras brasileiras de 2011 foi de 100%.

    No sentido inverso, isto é, as origens das importações angolanas, o Brasil ocupa o quarto lugar, posicionando-se nos três primeiros Portugal, China e Estados Unidos da América.

    As carnes e açúcares são os grupos de produtos com maior peso nas exportações brasileiras para Angola, representando conjuntamente 42% do total de bens exportados, seguidos das máquinas mecânicas, móveis e máquinas eléctricas.

    Em função da agitação registada pelo sector da construção, as máquinas mecânicas representam 15,5% do total das importações angolanas, seguidas das máquinas eléctricas, 8,7%, e obras de ferro ou aço, 7,0%, mas a maior fatia do bolo cabe aos produtos diversos, com 40,4%.

    De acordo com o presidente da Câmara de Comércio Angola-Brasil, Eduardo Arantes Ferreira, brasileiro de nacionalidade, a balança comercial entre os dois países encontra-se totalmente desequilibrada quando se constata que o seu país, por exemplo, exportou de Janeiro a Junho de 2012, em milhões de dólares, 155,9 ( Carnes), 78,1( Açúcar), 47,9 (Automóveis), 44,6 (maquinas mecânicas), 31,2 (móveis), enquanto as importações brasileiras vindas de Angola se limitaram a combustíveis, 45,8 milhões de dólares de Janeiro a Junho de 2012.

    Neste contexto, a fonte é da opinião de que somente com investimentos do Governo angolano em infraestrutura, no sentido de criar as condições necessárias para  atrair investidores internacionais a instalar novas indústrias em Angola, e também aumentando-se a produção agrícola, será possível propiciar o aumento das importações brasileiras oriundas de Angola, um maior equilíbrio nas relações comerciais e melhoria das condições gerais do povo angolano.

    “Pelo que estamos a ver, o Governo angolano esforça-se para conseguir isto. Não podemos esquecer-nos de que Angola está a reconstruir o país, após uma longa guerra civil. Acreditamos que está no caminho correcto”, avalia Eduardo Ferreira.

    À reconquista de África

    O Brasil prepara uma nova estratégia nas relações com os países africanos, no âmbito do desenvolvimento do seu Programa de Financiamento às Exportações (Proex), a qual consiste na aplicação do modelo ensaiado com Angola.

    Nos próximos tempos, este país da América Latina poderá desenvolver novas parcerias com Moçambique e Gana, estando em análise novas formas de garantia para alguns projectos com o uso de recebíveis lastreados em carvão.

    Além de Angola, o Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social do Brasil já fez desembolsos para Moçambique. A instituição financeira voltou-se para esse país africano na esteira do projecto de carvão de Moatize, da Vale, em que ainda não aplicou valores, uma vez que, depois de conhecer o país, o BNDES acabou por participar de um outro projecto, ligado à construção de um aeroporto em Nacala, a cargo da Odebrecht.

    Devem ser financiados pelo banco entre 120 e 150 milhões de dólares norte-americanos para a aquisição de bens e serviços brasileiros para o aeroporto.

    O fluxo comercial entre África e o Brasil no período de 2008 a 2010 foi em média de 9,3 mil milhões de dólares ao ano, aproximadamente 5,1% no total das exportações brasileiras. Apesar do decréscimo entre 2008 e 2009, por conta da crise financeira internacional, o Brasil recuperou-se atingindo um crescimento de 7% em 2010 nas exportações. Fazendo uma comparação do primeiro trimestre de 2011 com o período análogo de 2010, as exportações brasileiras para o continente africano, segundo fontes brasileiras, foram de 2,5 milhões de dólares contra 1,8 milhão em 2010.

    Relações diplomáticas mais estreitas

    O forte incremento das trocas comerciais entre Brasil e Angola resulta acima de tudo do estreitamento das relações diplomáticas entre os dois Estados, incentivado sobretudo durante o Governo de Luiz Inácio Lula das Silva, que nos últimos cinco anos esteve por três ocasiões em Angola, sendo uma delas já como ex-presidente.

    Entretanto, no final de 2011, a presidente Dilma Rousseff também visitou o Palácio da Cidade Alta. Conforme lembra o presidente da Câmara de Comércio Angola-Brasil, Eduardo Arantes Ferreira, o Brasil tinha apenas a Embaixada de Angola em Brasília e um consulado geral no Rio de Janeiro, mas criou também em São Paulo um consulado geral como sequência da grande demanda por vistos “ e pela importância do Estado de São Paulo nas trocas comerciais com Angola. Com isso podemos afirmar que Angola continua sendo um país que atrai as atenções brasileiras”, reafirma o responsável.

    Fonte: Economia & Mercado

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