A Missang, missão angolana na Guiné-Bissau, “estava a funcionar como uma espécie de braço armado do Governo”, acusou hoje o porta-voz do Comando Militar que deu o golpe de Estado na Guiné-Bissau há uma semana.
Em entrevista à Agência Lusa, o responsável avisa: “não toleraremos que este país seja de novo dominado”. Daba Na Walna diz que os militares querem a cooperação com Angola, que respeitam os angolanos e que os militares que estão no país são amigos. Mas que também apreciam o respeito.
“O país é nosso, não é da CPLP nem de Angola. Angola tem de reconhecer isso”, diz Daba Na Walna, que conta que a ministra da Presidência deixou clara a ligação entre a Missang e o Governo, numa reunião realizada poucos dias antes do golpe de Estado.
“Maria Adiatú Djaló Nandinga disse que a Missang não saía daqui porque a presença angolana trouxe a paz à Guiné. Compreendemos que o esforço que António Indjai (chefe das Forças Armadas) fez, abortando o golpe de 26 de dezembro contra Cadogo (Carlos Gomes Júnior) não serviu para nada. Afinal de contas quem fez tudo foram os angolanos”, diz.
Ao longo da entrevista, a mágoa contra a Missang é visível. Os angolanos vieram para apoiar a reabilitação das casernas até que “começaram a ser manipulados pelos políticos. A missão passou a ser uma espécie de guarda pretoriana do Governo”, diz Daba Na Walna.
Quanto à saída da missão angolana, o “rosto” do golpe militar de há uma semana não adianta datas, conta apenas como está o processo: os angolanos disseram que iam sair a partir de dia 14 e concluíam o processo a 30, depois não tiveram autorização, depois a autorização foi dada, depois não havia combustível.
“Fontes da CPLP disseram-me que há uma manobra dilatória dos angolanos, à espera que a ONU se pronuncie sobre o envio de forças para aqui”, diz o militar, adiantando não ter medo do Conselho de Segurança da ONU porque “Deus está acima de tudo” e “a verdade objetiva é trazida ao de cima pela história”.
“O Conselho de Segurança pode aprovar (uma força) porque Angola tem muito dinheiro, move os cordões a nível internacional. Toda a gente sabe porque é que Angola faz isso, é por causa da bauxite da Guiné, não é por amor à pátria da Guiné que os angolanos estão a fazer isto”, diz.
E também a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) não quer a presença de Angola na Guiné-Bissau, “do ponto de vista estratégico”.
Daba Na Walna diz que Angola apoiou o regime de Laurent Gbagbo, ex-Presidente da Costa do Marfim, e quem está no poder agora é Alassane Ouattara (que preside à CEDEAO). E diz que também a Nigéria não vê “com bons olhos” a presença Angolana, porque Angola “está metida na sua zona de influência”.
“É uma luta de hegemonia, eu é que sou hegemónico aqui, fulano é que manda acolá”, diz, negando no entanto que isso possa prejudicar a Guiné-Bissau.
“Precisamos de Angola por causa dos laços históricos e pelo que representa também em termos de potencial económico em África. A nível da cooperação sul-sul Angola pode ser saída viável para a Guiné, como a Guiné pode ser útil para Angola. Como precisamos também da CEDEAO e da Nigéria. Mas somos um país que pensa por si. Ser pobre não significa não ter cabeça para pensar”, afiança.
Fonte: Lusa