O tempo passou e a sociedade mudou. Os nossos valores morais, o respeito e o amor ao próximo perderam o vinco. Os Cemitérios, escolas, igrejas, transportes públicos, enfim… converteram-se em sítios banais, onde tudo é permitido. Os cemitérios transformaram-se em locais onde o profano se sobrepõe ao sagrado. Por isso transformaram-se em autênticas passerelles, onde se exibe a vaidade e o poder do dinheiro.
Nos funerais enquanto o pastor consola a família enlutada, gente há que se diverte com o infortúnio, transformando-o num momento de prazeres vários, onde a opulência faz morada, tornando as pessoas irreconhecíveis, no que toca ao respeito às regras da decência e dos bons costumes.
O sentimento foi substituído por práticas bizarras, de ostentação de uma riqueza material superficial. Os funerais são a pouca vergonha de muitos e a desgraça de uns poucos, marcados pela dor de quem se ausenta do convívio familiar. Constituem a nota mais degradante de uma sociedade que perdeu a compostura e se entregou, sem apelo nem agravo, ao mundo da promiscuidade.
Antigamente os óbitos representavam a tristeza, a dor, o amor ao próximo. Nos dias que correm até a viúva não escapa às seduções dos mal intencionados.
Hoje em dia ninguém consegue distinguir a viúva do falecido. Horas antes da cerimónia fúnebre vai ao salão de cabeleireiro, preparar-se para o último adeus ao finado e ajeitar-se para as novas tentações da vida.
O óbito é farra, com empresas de catering, a servirem comes e bebes, e música gospel à mistura.
Os putos do bairro lavam carros, engraxam sapatos, e aproveitam a oportunidade para regalarem os bolsos, com uns patacos, sempre benvindos em tempo de crise. O óbito é infelizmente, na actual fase, um caso de estudo, pois nele estão sintetizados os maus costumes que uma sociedade como a nossa não deve ter.
Josué António