Segunda-feira, Maio 6, 2024
14.8 C
Lisboa
More

    A grande viragem do processo dos 50

    opais_220_43Processo dos cinquenta, uma grande viragem histórica é um dos factos que se pode reter do livro intitulado “O Processo dos Cinquenta. Tempo e Memória – Considerações Históricas”, (1940-1962) de Fernando Hedviges Chasse, que acaba de ser lançado em Lisboa (Portugal).

    O livro, com 374 páginas, estrutura-se numa dezena de articulações e tem a capa ilustrada com uma “Viúva de Luanda”, pintura a óleo sobre tela intitulada do insubstituível Neves e Sousa.

    Vários quadros deste pintor luandense, datados dos anos 50 e 60, foram inseridos a propósito neste bloco memorial, alguns dos quais invocando as conversas das discretas quitandeiras, as concertações de inquietude nos quintais dos musseques, os mercados, as farras e o Carnaval dos indígenas, locais sensíveis à força imortalizadora das tiradas poéticas.

    O cronista inseriu nesta retrospectiva vários textos tais como os de Noémia de Sousa de 1952, Viriato da Cruz, Antero de Abreu e Jorge Eduardo dos Santos Monteiro, com o título “O Tarrafal do Processo”.

    Esta galeria pictural é reforçada por um rico conjunto iconográfico de impressão gráfica, infelizmente média, constituído de reproduções de dezenas de retratos fotográficos de personalidades, sítios, actividades, publicações, relatórios, panfletos, código de cifra, bem como decifra das organizações clandestinas, mapas, manuscritos, notas dactilografadas com ou sem cifra, entre outros aspectos.

    Acordos  

    Constam igualmente do livro autos de perguntas, acordos do famoso Tribunal Militar Territorial de Angola, despachos acusação, registos de presos, boletins biográficos desencarcerados e outros documentos.

    O pesquisador consultou na evidência fontes privilegiadas, como as do Arquivo Histórico Militar de Portugal, diferentes classificações dos arquivos da PIDE/DGS e o livro da respeitável e corajosa advogada Maria do Carmo Medina, “Angola”.

    O livro contém ainda processos políticos da Luta pela Independência, publicada em 2003. Na dinâmica do reforço da base historiográfica do “Processo”, inclui-se os depoimentos de uma dezena de sobreviventes como Amadeu Amorim e José Diogo Ventura.  Na substância das suas análises, o antigo aluno do Liceu Salvador Correia releva as características da evolução política, social e religiosa da “Angola Portuguesa”, influenciadas pelas consequências das duas Grandes Guerras e que se cristalizaram, numa notável dinâmica de efervescência nacionalista, de esquerda, bem neocristãs ou sincréticas, o reforço da malhagem da implacável Policia Internacional de Defesa do Estado.

    Segue-se uma abordagem, bastante detalhada, do insistente e devastador movimento panfletário, as inevitáveis interpelações, iniciadas em Março de 1959, os subsequentes julgamentos, as duras condenações e os indeclináveis caminhos das prisões, in loco, ou de desterro, em direcção à Casa da Reclusão Militar de Luanda, a Cadeia do Aljube e o Depósito de Presos de Cascais, em Portugal, e o Campo do Chão Bom, no Saheliano Cabo Verde.

    O memorialista, que é na realidade o angolano Fernando Correia, apresenta, em seguida, a cinquentona de sentenciados, reagrupando-os nas respectivas organizações clandestinas.

    Referencia-se ainda, o Movimento de Libertação Nacional de Angola Partido Comunista de Angola (MLNA-PCA), o ELA, igualmente, designado por Movimento de Libertação de Angola (MLA) e o Movimento para Independência de Angola (MIA).

    Reminiscência

    Reencontram-se nesta relação, os nomes de tenazes “conspiradores” tais Ilídio Machado, Manuel dos Santos Júnior (Capicua), Agostinho Mendes de Carvalho,(Uanhenga Xitu), Noé da Silva Saúde, (“Balumka Kababa”), André Rodrigues Mingas, Fernando Pascoal da Costa,  António Pedro Benge,  Amadeu de Amorim e  António José Contreiras da Costa, um dos redactores do arrasador panfleto “Angola é dos Angolanos”.Retém-se entre a quinzena dos sentenciados, a contumácia: o Holden Roberto, Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade (o escritor Buanga Fele), Deolinda Rodrigues de Almeida (a clandestina Fina ou a Kauna Angola), Manuel Tomas da Costa Nkodo (Kimpiololo), João Eduardo Pinnock e Manuel Barros Nekaka.

    Facto extraordinário é o forte engajamento nacionalista de Deolinda-, atitude que lhe custou cruelmente a vida. Visivelmente é a única mulher a ser condenada neste processo. (opais.net)

    Publicidade

    spot_img

    POSTAR COMENTÁRIO

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

    - Publicidade -spot_img

    ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    00:00:36

    Mais de 1,6 milhões de pessoas assistiram ao concerto de Madonna no Rio de Janeiro

    O último concerto da Celebration Tour terminou com um recorde para a Rainha do Pop. Mais de 1,6 milhões...

    Artigos Relacionados

    Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
    • https://spaudio.servers.pt/8004/stream
    • Radio Calema
    • Radio Calema