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    Violência e Desconversação

    Desconversar é natural para os distraídos. Mas é também uma técnica usada por outros, hábeis, para evitar assuntos incómodos. As técnicas mais comuns de desconversação são a “fulanização” – questionar as motivações ou competências de quem coloca o assunto – e a irritação – provocar o interlocutor de maneira a que perca o raciocínio. Certamente o leitor já conheceu especialistas nisto.

    A propósito da brutalidade a que vimos assistindo em Angola e Moçambique, tenho assistido a vários e interessantes episódios de desconversação. O que tenho mais vívido foi de ter partilhado um vídeo de uma jovem angolana espancada pela polícia, num grupo de Whatsapp, que suscitou todo o tipo de tentativas de evitar o assunto por parte de um executivo de uma empresa pública moçambicana.

    Fulanizou, relativizou, esperneou, tudo e mais alguma coisa. Talvez, calculo, por lhe serem incómodas as semelhanças dos regimes de Moçambique e Angola no que ao respeito pelos Direitos Humanos (falta de…) concerne.

    No final, ficou o seu silêncio perante uma mulher que implorava “violência não” enquanto a fúria dos bastões da polícia caía sobre si. O silêncio indiferente.

    Das ruas de Luanda chegam-nos imagens brutais de jovens espancados pela Polícia. De Cabo Delgado, relatos e imagens de aldeões perseguidos e até martirizados, ora pelos bárbaros insurgentes que ali se instalaram, ora pelas próprias forças de segurança.

    Quase meio século depois da independência destes países – celebrada à bastonada nas cidades angolanas – está por fazer o essencial – dar aos mais jovens boas escolas, bons cuidados de saúde e oportunidades de vida. Sobram, em ambos os regimes, relatos da mais desbragada corrupção, que os donos do poder de hoje usam contra os de ontem.

    O que a violência a que vamos assistindo mostra é que ainda está por criar uma verdadeira cultura de respeito pelos Direitos Humanos em muitas sociedades africanas. Ainda falta proteger aqueles que regimes moralmente falidos relegam para condições de subsistência indignas, de fome e insalubridade – e a que negam até a liberdade de expressão.

    E, sem isso, o desenvolvimento é só uma palavra cara. Temos de falar sobre isto. E resistir aos que teimam em desconversar.

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