Carlos Cruz Ferreira, director de Mercados de Capitais do Standard Bank concedeu uma entrevista exclusiva a O País onde aborda aspectos relevantes da actividade do banco em Angola. Foi uma conversa que teve lugar à margem do ‘ Fórum sobre Mercados Financeiros em Angola: desafios e oportunidades’, evento realizado pelo Standard, e na qual discorre sobre diferentes aspectos, desde a carteira de negócios e depósitos, à expansao do banco. Em dois anos e meio de existência, o Standard Bank ainda não deu lucros, mas o seu responsável pela área de mercados de capitais está optimista. Até ao final do ano, Carlos Cruz Ferreira espera que o banco atinja as 27 agências. Considera a obrigatoriedade de os bancos começarem a fazer pagamentos das empresas petroliferas em Kuanzas como um elemento que vai catalizar o desenvolvimento do pais e aponta: ‘isto permite aos bancos crescerem, permite os bancos desenvolverem-se, ganharem ‘skills’ (competências) que anteriormente nao existiam e tudo tudo isso é benéfico para a economia. Vai haver certamente mais depósitos dessas empresas no sector bancário e isso significa que os bancos vão ter que aplicar estes recursos, o que se traduzirá provavelmente em crédito mais barato’.
Como é que está a carteira depósitos do Standard Bank Angola?
A carteira de depósitos tem crescido muito, particularmente a carteira de dólares. Nós somos um banco muito típico do sector bancário em Angola (no sector bancário, pelo que sei, cerca de 50% são dólares e 50% são kuanzas), nóss temos uma percentagem maior de dólares, estamos na casa dos 70% a 75% em dólares e o resto em kwanzas.
Qual e a razão?
Penso que há uma razão: nós temos um peso relativamente grande no sector petrolifero, onde operam empresas multinacionais, que naturalmente tem muito mais dólares e portanto nós temos mais dólares.
Qual o nível de depósitos do banco?
Deverá situar-se hoje entre USD 750 e USD 800 milhões.
Em Kwanzas e dólares?
Cerca de 75% em dólares e 25 % em kuanzas, como referi.
Qual a importância dos clientes petrolíferos para o Standard?
O sector petrolifero é um sector que elegemos como um dos sectores chaves, não só em Angola (em Angola por maioria de razão), como em África de uma maneira geral, o sector petrolifero é um sector privilegiado de actuação do grupo. O grupo tem origem no sector mineiro, cresceu junto com as minas da Africa do Sul, trata-se de uma área em que temos um ‘expertise’ muito grande e que está eleita em termos de área de actuaçãoo. Em termos de sector, o sector petrolifero (o sector de Oil & Gas), o sector mineiro na generalidade, a distribuição, as telecoms, infraestruturas, sao estes os sectores onde temos um interesse particular. Dito isto nao sifgnifica quwe não tenhamos clientes de todos os sectores. Vamos continuar a ter clientes de todos os sectores e aqueles são os sectores onde temos uma aposta mais forte.
Como é que o banco vê essa questão dos pagamentos do sector petroliferos em kwanzas e através da banca nacional?
Essa é uma fase natural no processo de normalização das condições de trabalho em Angola (quando digo condições, as envolventes macroeconómicas), o país, como toda gente sabe tinha uma forte dependência do dolar, o BNA está a fazer um óptimo trabalho na minha opinião no sentido de desdolarizar a economia, esta era uma das fases que estava prevista já há muitos anos e que sá agora foi possivel implementar. Trata-se de algo que beneficia o país, pois corresponde a cerca de 50% do produto interno bruto (PIB) e que se encontrava em bancos offshores. Portanto, isto permite aos bancos crescerem, permite aos bancos desenvolverem-se, ganharem ‘skills’ que anteriormente não existiam e tudo isso é benéfico para a economia. Vai haver certamente mais depósitos dessas empresas no sector bancário e os bancos vão ter que aplicar estes recursos, o que provavelmente se traduzirá em crédito mais barato.
E em relação à carteira de negócios do banco, como é que ela está?
O banco é um banco muito recente e, como tal, ainda nao tem a carteira que gostariamos. É uma aposta do banco crescer nos depósitos, crescer no crédito, ainda estamos aquém das nossas expectativas inclusive. Mas é preciso perceber que foi necessário criar um banco de raiz, o grupo não comprou nenhum banco em Angola, criou um banco de raiz, desde a formação de equipas até à implementacao de sistemas, tudo foi criado do zero. É natural que o crédito esteja a crescer lentamente mas estamos a fazer uma forte aposta e, infelizmente, ser-nos-ia mais fácil conceder crédito em dólares, dado que temos muitos depósitos em dólare mas, por questões legais, não é possivel. O crédito vai crescer, vai continuar a crescer, lançáamos produtos novos, acabámos de lançar um produto leasing para veículos e portanto tudo isto vai crescer normalmente com o tempo. Nós tambem adoptamos alguns criterios mais rígidos que a maioria dos bancos na concessão de crédito.
Qual o montante do crédito concedido o ano passado?
Nao conheço os valores com exactidão (….)
(…) e qual a vossa situação quanto ao crédito malparado?
Temos pouco crédito e também praticamente nao temos crédito malparado. É um ponto positivo. Obviamente que toda a gente comenta hoje em dia o crescimento do credito malparado no sector bancário, nós ainda não nos confrontamos com esse problema, temos sido muito criteriosos na concepção do crédito. O crédito malparado e inevitável na actividade bancaria mas esperamos que nunca venha a ter uma expressão significativa no Standard. É por isso e que somos muito rigorosos na concessão de crédito aos agentes económicos.
Qual foi um lucro obtido pelo banco em 2012?
O banco ainda não teve lucros. Como disse, o banco tem dois anos e meio agora, teve uma fase de investimentos muito grande, abrimos 22 agências nos primeiros dois anos, o que representa um investimento muito forte, e portanto esse investimento configura as sementes que estamos a lançar para ter lucros mais tarde, mas contamos atingir o ‘breakeven’ (ponto de equilíbrio) no final do ano, que será em Novembro. Ainda que pontualmente ja tenhamos verificado meses positivos.
Mas é evidente que o banco mostra alguma pujança no mercado…
O Standard é o maior banco em Africa. Tem cerca de USD 200 biliões em activos. Tem uma capitalizacao bolsista de cerca de USD 20 biliões. É um banco muito grande. Tem presença em cerca de 19 paises na África Subsariana, além das suas plataformas espalhadas pelo mundo. Estamos em Angola, em Nova Iorque, temos presenca em Singapura, no Dubai, onde temos o ACBC que é o nosso maior accionista e, portanto. A ideia do Standard é ser um banco africano que origina risco africano e depois distribui pelos investidores que se encontram principalmente nas praças financeiras mais fortes: Nova Iorque, Inglaterra e Ásia.
E como é que está a expansão do banco em Angola em termos de agências?
Temos 22 ou 23 agências. O plano é chegar ao final do ano com cerca de 27 e depois, nessa altura, vamos parar, porque esta fase de investimentos tem que ter retorno e portanto achamos que 27 nesta fase (não definitivamente), é um número que nos permite tocar não todas as provincias, obviamente temos uma concentração maior em Luanda e ainda faltam algumas provincias chaves como Cabinda e estarmos tambem no Soyo, cobrem os principais centros economicos do país. Hermenegildo Tchipilica (opais.net)
