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    Retrospectiva 2014: Barragem de Laúca, um impulso à diversificação económica industrial

    Obras de construção da barragem de Laúca, no Kuanza Norte. (Foto: Lucas Leitão)
    Obras de construção da barragem de Laúca, no Kuanza Norte.
    (Foto: Lucas Leitão)

    O 4 de Setembro de 2014 fica na história económica do país como o dia em que se fez o desvio do Rio Kwanza, para dar inicio à construção da Barragem Hidroeléctrica de Laúca, no município de Cambambe, província do Cuanza Norte, aquele que será o maior complexo hidroeléctrico do país, com uma potência a instalar de 2070 megawatts, quatro vezes superior a Capanda (com 520 MW).

    A edificação de projectos eléctricos de grande dimensão, como Laúca e depois Caculo Cabaça, todos na província do Cuanza Norte, visa aumentar a oferta de energia e dar resposta à crescente demanda estimada em 12 porcento/ano, oito porcento dos quais para o sector industrial.

    Dada a grandeza do acontecimento e a importância económica e social que o mesmo encerra para o país, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, deslocou-se neste mesmo dia (4 de Setembro) ao Cuanza Norte para o accionamento simbólico do botão que marcava o desvio do rio no local onde está a ser edificada a barragem que terá 132 metros de altura (equivalente a um edifício de 44 andares) e mil e 100 metros de cumprimento.

    Este projecto de aposta na energia – “factor estratégico de desenvolvimento” – vem, deste modo, dar resposta aos desafios abraçados pelo Governo de diversificação da economia do país, processo assente na industrialização da produção, para reduzir a dependência do sector extractivo, com maior incidência para o petróleo.

    Por esta razão, o Executivo, com base no seu programa de governação sufragado nas eleições de 31 de Agosto de 2012, aprovou um Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) 2013-2017, no qual elegeu como prioridades, além das obras de estradas, caminhos-de-ferro, aeroportos e portos, os projectos estruturantes do sector eléctrico.

    Deste modo, dadas as necessidades (industriais e habitacionais) do país em termos de energia e para não adiar ou comprometer importantes projectos públicos e privados, o Executivo apostou na reabilitação das infra-estruturas eléctricas existentes e na construção de novas e é neste quadro que surge o aproveitamento hidroeléctrico de Laúca, um investimento avaliado em 400 mil milhões de Kwanzas, para aumentar a oferta de energia fiável e regular em todo o país.

    A par de Laúca, a jusante deste complexo hidroeléctrico, com base no PND, poderá ser construída uma outra grande infra-estrutura energética, o aproveitamento Hidroeléctrico de Caculo Cabaça, com capacidade a instalar de dois mil e 100 megawatts, assim como o Túmulo do Caçador, Zenzo I e II e Luime, facto que transformará o Cuanza Norte no maior centro produtor de energia hidroeléctrica de Angola.

    A barragem de Lauca é, no PND, considerada um dos principais projectos estruturantes do sector eléctrico do país, porque permitirá dar alguma estabilidade à oferta de energia e interligar os sistemas norte, centro, sul e isolado do país, através da construção da linha de alta tensão de 400 kilovolts que sairão do Cuanza Norte, Huambo, Huíla, Benguela e Cuanza Sul.

    A partir destes sistemas interligados (linhas de transporte, subestações e postes de transformação) haverá disponibilidade de energia fiável e regular para alimentar as novas centralidades e os projectos agro-industriais que surgirão nos pólos industriais da Caála (Huambo), Catumbela (Benguela), Huíla e Cuanza Sul, projectos mineiros siderúrgicos Kissala Kitungo e Jamba Mineira, indústria electrointensiva de alumínio, cimentos, entre outros.

    A Barragem de Laúca em números

    Gravada entre as enormes colinas que configuram a região montanhosa do Cuanza Norte, a Barragem de Laúca, terceira em construção no leito do rio Kwanza, depois de Cambambe e Capanda, está a ser erguida à base da técnica de betão compactado com cilindro, na comuna de São Pedro da Quilemba, município de Cambambe, 280 quilómetros de Luanda e terá uma albufeira de 188 quilómetros quadrados.

    Até a realização do desvio do rio, a 4 de Setembro de 2014, pelo menos 25 porcento da obra já estava concluída e consistiu na escavação dos túneis de acesso, tomada de água, e foram escavadas 6 milhões de metros cúbicos de rocha a céu aberto, 1,6 milhões de metros cúbicos de escavações subterrâneas, 2,5 milhões de metros cúbicos de betão compactado com cilindro e 500 mil metros cúbicos de betão convencional.

    Em construção desde 2012, as obras compreenderam também a escavação para encontro das margens esquerda e direita do Rio Kwanza, escavação da tomada de água, início das escavações da casa de máquinas onde vai ser feita a geração de energia eléctrica e o aterro da subestação, que vai permitir levar a energia para vários pontos do país.

    Após a conclusão das obras, em Setembro de 2017, a Barragem Hidroeléctrica de Laúca vai contar com duas centrais de produção de energia. A primeira é constituída por seis turbinas do tipo Francis Vertical, que vão produzir um total de dois mil e quatro megawatts (MW), correspondente a 334 MW cada.

    A segunda inclui uma central ecológica com capacidade de produzir 65 MW. A referida estrutura vai manter um caudal mínimo no leito do rio para garantir a preservação das espécies aquáticas.

    Em termos de infra-estruturas de suporte, o empreendimento possui um alojamento para 5 mil pessoas, uma lavandaria industrial com a capacidade de 1800 peças vestuário por dia, um refeitório para 18 mil refeições diárias e um posto médico ambulatório.

    Laúca é um projecto que dá uma oportunidade para várias áreas da construção civil, desde carpinteiros, pedreiros, engenheiros, arquitectos e até economistas. O projecto emprega actualmente 4 mil trabalhadores, dos quais 93 porcento são angolanos. Até Outubro de 2015 este número deverá subir para aproximadamente 5 mil.

    Outros projectos em curso no sector eléctrico

    O Plano de Acção do Sector Eléctrico prevê um crescimento da procura de energia de 70 porcento no global, dos quais 25 porcento para o sector industrial até 2025 e é com base nesta projecção que o Ministério da Energia e Águas pôs em marcha o programa de reabilitação, construção e modernização de todas infra-estruturas eléctricas do país, com custos avaliados em mais de 20 mil milhões de dólares, para que neste período o país possa ter uma capacidade instalada de nove mil megawatts.

    Dada a magnitude dos valores a investir, a participação do sector privado será fundamental para concretização destes projectos, daí a importância das parcerias público privadas, razão pela qual as reformas do ponto de vista institucional e legal estão em curso no sector.

    O programa começou com a reabilitação das barragens hidroeléctricas e subestações eléctricas que têm mais de 40 anos de existência. Deste modo, lançou mãos à reabilitação das barragens de Cambambe (Cuanza Norte), Matala (Huíla), Biopio (Benguela), Gove (Huambo), Lomaum (Benguela) e Mabubas (Bengo).

    Em relação às barragens em reabilitação, destaque ao complexo hidroeléctrico de Cambambe, a primeira infra-estrutura construída em 1958 no Rio Kwanza. Está, desde 2009, em reabilitação e modernização, processo que compreende o alteamento do paredão (barragem) de 90 para 130 metros, construção da segunda central eléctrica, visando aumentar a capacidade instalada actual de 180 megawatts, para 960 megawatts, a partir de finais de 2015.

    O aumento da potência nesta barragem, cujo funcionamento começou em 1963, permitirá fazer a interligação do sistema eléctrico norte com o centro do país, com uma linha de transporte de 220 kilovolts de Cambambe, passando pela Quileva (Cuanza Sul) e culminando em Benguela.

    Por outro lado, para diversificar a matriz energética do país e reduzir substancialmente os custos de produção de energia eléctrica, está em curso o projecto da construção da central de ciclo combinado do Soyo, com uma capacidade a instalar de 500 megawatts.

    O Presidente José Eduardo dos Santos, durante a visita que efectuou às obras de construção da barragem de Laúca. (Foto: Francisco Miúdo)
    O Presidente José Eduardo dos Santos, durante a visita que efectuou às obras de construção da barragem de Laúca.
    (Foto: Francisco Miúdo)

    Maior centro consumidor (Luanda) com muitas subestações em construção

    A Empresa de Distribuição de Electricidade – EDEL está a jogar na antecipação, com a implementação de projectos que poderão suportar a produção de energia que resultar da segunda central de Cambambe e da Barragem de Laúca, com a construção de 21 novas subestações eléctricas, afectas a linha de transporte de 60 kilovolts.

    Estas novas subestações de 40 MVA e 50 MVA, que vão permitir reforçar a capacidade instalada e a electrificação de novas áreas, começaram a ser construídas em 2013 e concluídas em 2014, como as subestações de Musseque Kapari, Cacuaco, Encib, Camama, Zango edifícios, Cacuaco Sequele, Angola-Cuba, Golfe 28 de Agosto, Cazenga Sexta Avenida, Lar do Patriota, Sapuchica, Kinaxixi Victoria é Certa e CTE Gika, afectas ao sistema de distribuição 60/15 KV).

    Além destas subestações há projectos conjunto com a Empresa Nacional de Electricidade (ENE) que visam trazer as linhas de 220 kilovolts para o centro da cidade. Assim, foram construídas ou estão em construção as subestações da FILDA (220/60 kilovolts), Boa Vista (220/60 KV) e Morro Bento (220/60 kilovolts).

    O programa em execução contempla também a ampliação e modernização das subestações de Viana, Cazenga e Camama, afectas ao sistema de transporte de 220/60 kilovolts.

    Reformas no sector

    Na sequência das reformas em curso no sector eléctrico, a 01 de Agosto de 2014, a Comissão Económica do Conselho de Ministros sancionou a criação de três novas empresas do sector: Empresa Pública de Produção (PRODEL), Rede Nacional de Transporte (RNT) e Empresa Nacional de Distribuição (ENDE), ao abrigo do Programa de Transformação do Sector Eléctrico.

    Atendendo os desafios de desenvolvimento das capacidades e infra-estruturas do sector, que consiste em assegurar uma capacidade instalada de nove mil megawatts até 2025, e com astronómicos recursos financeiros a investir, está em revisão o enquadramento institucional do sector, visando acomodar a participação do sector privado em toda cadeia de valor.

    Por outro lado, está em curso estudos para revisão das tarifas praticadas no sector, com vista a assegurar a sustentabilidade económico-financeira do sub-sector e dos seus operadores, pois actualmente as tarifas cobrem apenas 20 porcento dos custos operacionais.

    A diversificação da economia pressupõe, além do sector de serviços, a existência de uma indústria transformadora e pesada diversificada, como as de aço, cimento, alumínio, metalomecânica, agro-alimentar, entre outras.

    A competitividade do tecido empresarial angolano terá como pressupostos a garantia de uma oferta de energia de qualidade, fiável e regular e com custos controlados e é com base nesta visão holística de longo prazo que os projectos em curso neste sector estão a merecer prioridade e atenção especial de quem governa, porque são inadiáveis, tendo em conta os objectivos do país.

    Apesar da redução das verbas do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2015, resultantes da queda das receitas fiscais, induzida pelas oscilações para baixo do preço do crude no mercado internacional, os projectos do sector eléctrico continuarão a ter prioridade por parte do Executivo angolano, segundo garantias do Ministro da Energia, João Baptista Borges.

    Por esta razão, para o exercício de 2015, o Executivo alocou para este sector verbas no valor 267, 1 mil milhões de Kwanzas, dos quais 105,5 mil milhões de Kwanzas para o programa de expansão da capacidade de produção e transporte e 63 mil milhões de kwanzas para o programa de reabilitação e ampliação da rede de distribuição de energia.

    Apesar de 2015 apresentar-se como um ano difícil economicamente, novas áreas que vivem fortes restrições poderão ver o fornecimento melhorado e novos aglomerados populacionais e projectos agro-industriais poderão beneficiar de energia, com a entrada em funcionamento da segunda Central da Barragem Hidroeléctrica de Cambambe, que aportará uma capacidade de 700 megawatts, elevando a capacidade instalada em toda barragem para 960 megawatts, que poderão beneficiar mais de oito milhões de habitantes e vários projectos industriais. (portalangop.ao)

    Por Agostinho Kilemba

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