Nova Iorque – O representante especial das Nações Unidas na República Centro- Africana, Babacar Gaye, mostrou-se segunda-feira optimista em relação à crise política aberta pela demissão do Presidente Michel Djotodia e manifestou esperança de que o responsável seja rapidamente substituído.
Numa videoconferência com jornalistas, a partir de Bagui, o general Gaye afirmou que há hoje “menos mortes” na capital do país do que havia em Dezembro, mas alertou que “o ódio continua presente” entre muçulmanos e cristãos, considerando que a prioridade do novo Governo será “promover a reconciliação entre as comunidades”.
Babacar Gaye, que dirige a missão integrada das Nações Unidas para a consolidação da paz na República Centro-Africana (BINUCA), afirmou que o presidente do parlamento provisório, Alexandre-Ferdinand Nguendet, deve organizar a eleição de um novo chefe de Estado dentro de 15 dias.
“Pensamos que este tempo será preciso e que é possível até que seja necessário menos tempo”, disse, afirmando que, para a transição de governos funcionar, “os dois chefes do executivo devem trabalhar em perfeita harmonia”, o que não era o caso entre o presidente Djotodia e o seu primeiro-ministro.
“A esperança está no reforço da Misca, a missão internacional de apoio à República Centro-Africana, no compromisso de França e na eleição rápida de um chefe de Estado de transição”, resumiu o responsável.
A França mantém 1.600 militares franceses em Bangui e, para já, a Misca conta com 3.500 soldados africanos, embora tenha um corpo efectivo de 6.000 operacionais.
O presidente Djotodia, acusado pela comunidade internacional de passividade face à violência inter-religiosa, demitiu-se na sexta-feira. Esta demissão deixou o país sem executivo até à eleição de um novo dirigente pelo Conselho Nacional de Transição, o parlamento provisório do país.
O general Gaye recusou-se a especular sobre a data em que a Misca poderá passar para a tutela das Nações Unidas no âmbito de uma operação de manutenção da paz.
“Por enquanto, é preciso apoiar a Misca e a operação [militar francesa] que está no terreno”, afirmou.
As Nações Unidas devem apresentar um relatório sobre a possibilidade de transformar os soldados da Misca em capacetes azuis no final de Fevereiro.
Pelo menos 127 pessoas foram mortas e mais de uma centena ficou ferida desde o dia em que Djotodia se demitiu, na sequência da violência entre cristãos e muçulmanos da República Centro-Africana, segundo números da Cruz Vermelha.
Desde Março de 2013, quando o Presidente François Bozizé foi derrubado pela coligação de pendor muçulmano Séléka, dirigida por Djotodia, a República Centro-Africana entrou numa espiral de violência inter-comunitária e inter-religiosa.
A 05 de Dezembro, as milícias de autodefesa cristãs, denominadas como ‘anti-balaka’ e que até então actuavam sobretudo no oeste do país, lançaram uma ofensiva na capital, Bangui, contra posições da Séléka e em bairros muçulmanos.
O ataque provocou represálias dos ex-rebeldes contra a população maioritariamente cristã de Bangui. Desde então, mais de mil pessoas foram mortas. (portalangop.co.ao)