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    Quando é que a UE vai acabar com as alterações sazonais de horário?

    Anos após a proposta de acabar com as alterações sazonais do horário (adiantar ou atrasar uma hora) em toda a União Europeia (UE) ter sido lançada pela primeira vez, os europeus terão de voltar a acertar os seus relógios no domingo, uma prática que dificilmente mudará em breve.

    A Comissão Europeia revelou a sua proposta de abolir esta alteração em setembro de 2018, na sequência de uma consulta pública em que uma esmagadora maioria dos 4,6 milhões de cidadãos europeus que participaram apelaram ao fim desta prática. A proposta foi aprovada pelos eurodeputados na primeira metade de 2019.

    Desde então, nada.

    “Há uma questão de largura de banda. O sistema político não pode lidar com todas as coisas ao mesmo tempo. E, neste momento, o sistema europeu tem de lidar com muita coisa”, disse à euronews Jakop Dalunde, um deputado sueco dos verdes, e relator-sombra sobre a proposta de interromper as mudanças da chamada hora de verão e hora de inverno.

    Os líderes da UE estão atualmente a lidar com a invasão russa da Ucrânia, que levou os preços da energia e dos alimentos a novos máximos, atingindo duramente os consumidores e as empresas europeias e ameaçando empurrar a economia para a recessão.

    Antes disso, foi a pandemia de Covid-19 que causaram a morte da mais de um milhão de pessoas na UE e uma economia em pânico. O tempo para discutir o fim das mudanças do relógio tem sido, portanto, escasso.

    O tempo voa

    A hora de Verão (DST), na qual os relógios são adiantados uma hora no início da primavera, e atrasados uma hora no outono, foi introduzida pela primeira vez na Europa, em 1916 ,quando a Alemanha, então ainda em guerra, estava a tentar reduzir o consumo de carvão para que pudesse ser utilizado nas fábricas de armas.

    A maioria dos países vizinhos, bem como o Reino Unido, os EUA e a Austrália, seguiram o exemplo.

    A prática foi abandonada na Europa após a Segunda Guerra Mundial, mas foi novamente implementada na década de 1970, devido ao choque petrolífero, numa tentativa renovada de reduzir a necessidade de luz artificial e, consequentemente, a utilização de energia.

    Desde então, vários estudos demonstraram que o seu impacto no consumo de energia é agora insignificante graças, em parte, aos avanços da tecnologia. No entanto, são cada vez mais evidentes os efeitos adversos que a DST tem sobre a saúde.

    Há, por exemplo, mais ataques cardíacos e doenças digestivas e imunológicas na semana que se seguiu à mudança para a DST. Um aumento nos acidentes de viação também tende a ser registada.

    Os efeitos a longo prazo sobre a saúde incluem depressão, metabolismo retardado, aumento de peso e dores de cabeça.

    Isto porque o nosso “relógio social”, ou seja, o horário sob o qual as nossas sociedades operam, e os nossos relógios biológicos (internos), que estão mais ou menos alinhados com o sol, ficam dissíncrones.

    Com o passar do tempo

    Mas acabar com a prática não é fácil e requer muitas decisões ao mais alto nível, porque o tempo é algo muito político. A Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo (Benelux), França e Espanha são os exemplos perfeitos disso.

    Existem, actualmente, três fusos horários na Europa, sendo que a grande maioria dos países utiliza o Tempo da Europa Central como padrão. Outros 10 países utilizam o Tempo da Europa de Leste e três utilizam o Tempo da Europa Ocidental.

    Logicamente, a hora deve ser definida com base em meridianos. O Reino Unido e Marrocos, por exemplo, estão alinhados geograficamente entre os países europeus nos mesmos meridianos, incluindo França, Alemanha e Benelux, que estão uma hora à frente.

    Isto remonta à Segunda Guerra Mundial. Quando as tropas nazis invadiram os Países Baixos, a Bélgica e a França, exigiram a mudança para a hora alemã. Voltar atrás após a derrota da Alemanha nazi foi considerado demasiado perturbador.

    O ditador espanhol Francisco Franco, entretanto, alinhou o seu país com o tempo alemão, na sequência de um encontro com Adolf Hitler.

    Hora de mudança?

    Agora a questão está de novo em cima da mesa e os países da UE deveriam resolvê-la entre si, de acordo com a Comissão Europeia.

    “Cabe aos Estados-membros determinar o tempo legal que desejam aplicar, uma vez que os efeitos desta escolha dependem provavelmente da situação geográfica do país”, disse um funcionário da Comissão à euronews.

    “Por conseguinte, cada Estado-membro está melhor colocado para fazer esta avaliação, tendo em conta os cenários possíveis para a escolha do tempo legal permanente, os seus efeitos, os resultados dos diálogos nacionais e as consultas com outros Estados-membros”, acrescentou.

    No entanto, os eurodeputados pretendiam “que a Comissão o fizesse, olhasse para o mapa e apresentasse uma proposta”, segundo Dalunde, a fim de acelerar e facilitar as negociações entre os Estados-membros.

    O primeiro passo para os países da UE é se devem respeitar a hora normal – ou seja, a hora de inverno – ou escolher a hora de verão, que foi criada politicamente.

    A coordenação é essencial para assegurar que os vizinhos diretos que partilham meridianos escolham o mesmo horário padrão e para, portanto, “evitar uma manta de retalhos de fusos horários, por forma a que seja mais ou menos ordenado e que não perturbe o mercado e o comércio entre Estados-membros”, disse à euronews Ariadna Guell, coordenadora da Iniciativa de Uso do Tempo de Barcelona para uma Sociedade Saudável.

    Voltando aos relógios

    A Iniciativa de Uso do Tempo de Barcelona para uma Sociedade Saudável apresentou a sua proposta sobre os países europeus serem divididos em quatro fusos horários diferentes, na sua maioria baseados na atual hora de Inverno.

    “Estes quatro fusos horários são os que melhor alinham a nossa hora social, o nosso relógio, com aquilo a que chamamos a hora natural – portanto a hora geograficamente correta, se quiserem”, explicou Guell.

    “Estes garantem que cada país tem o sol na sua posição mais alta ao meio-dia. Desta forma, podemos aproveitar ao máximo as nossas horas de vida. E também porque é isso que dita a cronobiologia, ou seja, a ciência que estuda como o nosso ritmo interno afeta a nossa saúde. Isto é o que dizem ser o melhor para a nossa saúde coletiva”, acrescentou ela.

    O Reino Unido, França, Espanha e países do Benelux estariam sob o mesmo fuso horário da Europa Ocidental.

    Os países da UE nesta zona estariam de facto a atrasar uma hora em relação à sua hora padrão atual, a fim de manter a diferença de hora com um novo Fuso Horário dos Açores, a Oeste e o Fuso Horário da Europa Central, a Leste.

    A Espanha e Portugal estariam em fusos horários diferentes, no entanto, com Lisboa alinhada com a Islândia no Fuso Horário dos Açores, que Guell não considera problemática.

    Mais problemático, porém, seria que a ilha da Irlanda fosse dividida em dois fusos horários diferentes.

    “Penso que provavelmente aqui a Irlanda terá de tomar uma decisão política e decidir simplesmente permanecer na mesma zona que o Reino Unido para preservar a unidade de toda a ilha”, admitiu Guell.

    Só o tempo dirá

    Então, quando é que vamos pôr fim à mudança dos relógios?

    Para que as discussões sejam retomadas, o tema deve ser colocado na agenda pelo país que detém a presidência rotativa do Conselho Europeu. A última vez que o tema foi discutido foi durante a presidência finlandesa, na segunda metade de 2019.

    “O nosso melhor cenário seria que a próxima presidência do Conselho colocasse isso na ordem do dia”, disse Guell.

    Se for esse o caso, então a DST poderia ser abolida em 2025, uma vez que um período de um a dois anos após um acordo seria provavelmente necessário para assegurar que os serviços de transporte, incluindo comboios e aviões, pudessem adaptar os seus horários.

    Mas a Suécia assumirá a presidência semestral a 1 de Janeiro e, segundo Dalunde, as hipóteses de tratar deste dossiê são escassas.

    “A Suécia é um dos países que, em certa medida, poderá beneficiar mais, uma vez que é o país onde se verifica a maior mudança (entre) como as coisas são no inverno e como as coisas são no verão, devido à sua localização no globo. Portanto, não tenho a certeza de que a Suécia vá impulsionar esta questão”, disse.

    Fonte EURONEWS

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