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    Promotores culturais anseiam do novo ministro políticas “fora do papel”

    Embora seja um homem ligado à cultura, em particular à música e à literatura, a sua nomeação para titular da pasta da Cultura, Turismo e Ambiente foi alvo de controvérsias, sobretudo nas redes sociais, quer por promotores culturais, quer por cidadãos anónimos. A nossa equipa de reportagem conversou com alguns, que se mostram divididos quanto aos novos desafios de Jomo Fortunato, alertando que este precisa de sair da teoria à prática.

    O Presidente João Lourenço, empossou, na última quarta-feira, 28 de Outubro, Jomo Francisco Isabel de Carvalho Fortunato, para o cargo de Ministro da Cultura, Turismo e Ambiente, em substituição de Adjany da Silva Freitas Costa.

    Entretanto, a indicação do conhecido crítico literário e musical tem provocado várias controvérsias no sector da cultura, sobretudo por promotores e outros agentes, que se mostram divididos quanto à prestação exitosa do novo ministro, porquanto o seu pelouro está acoplado a outros sectores.

    O músico Diogo Sebastião “Kintino”, na sua manifestação em reacção a este facto, salientou que, até ao momento, não viu nos demais ‘Governos’ que o país teve, políticas culturais correctamente estáveis e inclusivas nas mais variadas vertentes para gáudio dos seus fazedores e amantes.

    “Existem apenas políticas paliativas, que comprometem a continuidade geracional em vir a absorver a sapiência dos mais velhos. Na actual conjuntura em que a Cultura está sem cultura, esta devia estar isolada de outros departamentos ministeriais, de modo que houvesse um corpo enraizado na aplicação de políticas que fossem concebidas para que a inclusão e o diálogo fossem a tónicas dominante, sem dissonâncias”, manifestou.

    O guitarrista referiu ainda que a colagem de uma estrutura de tamanha dimensão como é o Ministério da Cultura a outros retira a sua força corporizada em estabelecer vínculos mais direccionados a políticas de extrema importância como a estratificação dos aspectos etno-linguísticos, hábitos, usos e costumes, musicalidade.

    “Esses são factores que estabelecem identidade cultural que devem ser valorizadas por todos. O que vemos é que temos muitos homens da cultura e não de Cultura. O pelouro da Cultura misturado com outros acaba sendo apenas uma secção”, rematou o guitarra ritmo da banda Movimento.

    Teatro
    O professor de Teatro, José Teixeira, considerou a nomeação de Jomo Fortunato oportuna por se tratar de um homem que conhece a casa, pois, além de estar ligado ao sector, trabalhou durante alguns anos como consultor da ministra Rosa Cruz e Silva, pelo que mantém a esperança de que as coisas venham a melhorar.

    Ainda assim, o académico não deixou de manifestar que, dentro da sua área de actuação, a questão relativa à falta de salas condignas para exibições, bem como equipamentos técnicos adequados para o efeito e a sua consequente manutenção é o que a sua classe quer ver dirimida.

    No quesito formação, o professor refere que duas instituições, uma no ensino médio e outra no segmento superior, é bom passo para o sector, mas tem de haver políticas direccionadas para que estes profissionais depois da academia possam ter emprego.

    Artes Visuais
    Para o produtor cultural Marcos Jinguba, o facto de Jomo Fortunato ter alguma sensibilidade artística satisfaz, o que significa um caminho aberto para novos rumos na produção cultural, uma vez que a instituição que passa a dirigir precisa contextualizar as artes no mercado económico e garantir a emancipação dos produtos culturais que o país possui.

    “A nível das artes visuais, será necessário criar novos pontos de exibição artística e novas formas de difusão da Academia nas artes.

    O Ministério tem o desafio de constituir fundos de arte, através das leis de mecenato para manter a estabilidade na produção das artes visuais e não só”, apontou o também curador acrescentando que:

    “Ao mesmo tempo tem o desafio de fomentar o surgimento de mais espaços para que se diminua a hiper-influência das instituições estrangeiras que, de certa forma, são poucas e que tornam os artistas, curadores e não só, reféns de uma certa classe”.

    Por outro lado, chama atenção para o interior do país que é carente desta forma de expressão artística, o incentivo nestas outras partes é urgente. “Não podemos afirmar que a instituição deve fazer tudo, porém tem a missão de direccionar as coisas nesse sentido, usando a sua influência para fomentar esse cenário”, rematou o jovem director da Kianda Session.

    Cinema
    Embora o cinema angolano, de forma tímida, comece, na visão da Geração 80, a ser mostrado ao mundo, não só por si, mas também por outras produtoras que têm feito um “enorme” esforço, as dificuldades presentes são todas aquelas que qualquer sector sem políticas assertivas e apoios bem estruturados enfrenta.

    “Com a produção cinematográfica nacional, as coisas não são diferentes. É preciso que quem de direito assuma a responsabilidade e crie as condições para que o acesso ao cinema e à cultura de forma geral não continuem a ser um luxo. É obrigatório que a Cultura seja parte intrínseca da nossa educação”, apelou Ngoi Salucombo.

    Segundo o interveniente, continua-se a discutir o Fundo de Cinema, a Lei do Mecenato, quotas para conteúdos locais nas televisões nacionais, apoio à promoção e divulgação, apoio à formação, entre outros aspectos, o que sem a aplicação efectiva destas e outras medidas estruturais ter-se-á o cinema entregue a si próprio, salvo uma ou outra excepção.

    A extinção da Cinemateca Nacional e alteração da estrutura do Instituto Angolano do Cinema e do Audiovisual que,
    actualmente, se denomina “Indústrias Criativas” é, conforme descreve o interlocutor, mais uma prova de que, infelizmente, as dificuldades vão continuar a existir.

    Literatura
    Ao reconhecer que não conhece nenhuma habilidade de Jomo Fortunato nos sectores do Turismo e Ambiente, o escritor e ensaísta Sandro Feijó acredita que isso pode vir a beliscar o desempenho do ministro, uma vez que se reconhece o seu potencial para a área cultural.

    No entanto, defende que todos os projectos relativos a políticas que têm a ver com a promoção e divulgação do livro, que estejam apenas em papel, é o momento oportuno para que sejam postas em prática para uma dinamização do sector.

    “Conhecemo-lo como homem da literatura e da música. Não sabemos até que ponto o turismo e o ambiente possam beliscar o seu desempenho. Todavia, auguramos que faça um trabalho inclusivo, a contar com a sua equipa”, concluiu Sandro Feijó.

    O novo ministro
    Jomo Fortunato é um homem de vários ofícios.

    Além da crítica literária e musical, é igualmente colunista do Jornal de Angola, apresentando, semanalmente, textos de reflexão cultural e biográficos de vários artistas e escritores angolanos.

    Dedica-se, igualmente, à docência na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade António Agostinho Neto.

    Concebeu o programa “Vozes do Semba”, emitido na Televisão Pública e já desempenhou a função de director do Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD), assim como detém a empresa Arte Viva, do qual é director, e realiza anualmente a Feira Internacional do Livro e do Disco.

    Detém alguns prémios enquanto compositor, entre os quais o da Canção de Luanda, uma iniciativa da Rádio Luanda Antena Comercial (LAC).

    Um dos seus temas mais conhecidos tem a voz da jovem cantora Selda, intitulada “Aquela rua” e ainda “Reviravolta”, trilha sonora de uma telenovela angolana.

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