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    “O primeiro passo para salvar o planeta é eleger outro presidente dos EUA”

    DN | Helena Tecedeiro

    John Kerry esteve em Lisboa para o encerramento da conferência O Futuro do Planeta. O ex-secretário de Estado de Barack Obama lembrou que na luta para salvar a Terra, “não estamos a ganhar”. E lamentou que os EUA tenham um presidente que vê as alterações climáticas como “um embuste dos chineses”.

    John Kerry começa por lembrar que Portugal é o sítio ideal para discutir o Futuro do Planeta e a protecção dos oceanos. O ex-secretário de Estado norte-americano sabe do que fala e logo refere a mulher, Theresa, nascida em Moçambique “quando ainda era uma colónia portuguesa”, e que tem no português a sua língua materna. Ele próprio não se arrisca, optando por um cauteloso inglês para falar da “geração azul”, esses jovens que “começam a perceber a urgência de salvar o planeta melhor do que os políticos”.

    John Kerry começa por lembrar que Portugal é o sítio ideal para discutir o Futuro do Planeta e a protecção dos oceanos. O ex-secretário de Estado norte-americano sabe do que fala e logo refere a mulher, Theresa, nascida em Moçambique “quando ainda era uma colónia portuguesa”, e que tem no português a sua língua materna. Ele próprio não se arrisca, optando por um cauteloso inglês para falar da “geração azul”, esses jovens que “começam a perceber a urgência de salvar o planeta melhor do que os políticos”.

    John Kerry e a bióloga e exploradora subaquática Sylvia Earle são os protagonistas do painel que encerra a conferência O Futuro do Planeta, organizada em Lisboa pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e pela Fundação Oceano Azul.

    “É muito apropriado ter esta conversa em Lisboa. Porque não podemos imaginar o Portugal de Fernando pessoa sem os Açores ou o Algarve. E porque Lisboa olha de frente para o mar”, afirmou o chefe da diplomacia do democrata Barack Obama diante de um auditório do Teatro Camões completamente cheio. Lembrando figuras como Vasco da Gama, Kerry recordou a ligação dos portugueses ao mar e a forma “visceral” como vivem as consequências das alterações climáticas que o estão a matar o planeta, sublinhando que “falar de oceanos. É preciso garantir que a próxima geração pode contar com os oceanos. Melhor do que nós que os dávamos por adquiridos. Estamos aqui juntos porque estamos juntos nesta luta”. “É o combate das nossas vidas! Se não é o vosso, passa-se algo de errado convosco!”, exclamou.

    “É o combate das nossas vidas! Se não é o vosso, passa-se algo de errado convosco!”

    Aos 75 anos, o homem que em 2004 perdeu as presidenciais para George W. Bush admite que “Os políticos não estão preocupados. Porque acham que os miúdos saíram à rua?” E começa por dar o exemplo que tem em casa: “O meu presidente, ou devia antes dizer o presidente dos EUA, diz que as alterações climáticas são apenas um embuste chinês”. É por causa da indiferença de Donald Trump, mas também dos outros líderes mundiais que repete: “Não estamos a ganhar. Não estamos a cumprir o nosso dever. Por isso um bando de miúdos saiu da escola para nós dizer que temos de fazer”.

    O “bando de miúdos” refere-se ao movimento de jovens começado na Suécia por Greta Thunberg, uma adolescente hoje com 16 anos, mas que alastrou a todo o mundo. A própria Greta está neste momento nos EUA para participar numa conferência da ONU sobre ambiente. E ainda este fim de semana se juntou a jovens americanos para um protesto frente à Casa Branca.

    Para Kerry fica claro que não podemos dizer que estamos a ganhar esta batalha pelo futuro do planeta. Pelo menos “quando há disputas marítimas que deixar milhares de milhas sem leis. Quando os mares são palco de pirataria, de narcotráfico. Não podemos dizer que estamos a ganhar quando os corais estão a morrer. Quando a população de peixes está a decair.” E sublinha: “Os danos atingiram níveis em que se não mudarmos o nosso comportamento em meados deste século haverá mais plástico no mundo do que peixe”.

    “Se não mudarmos o nosso comportamento em meados deste século haverá mais plástico no mundo do que peixe”

    Apesar deste discurso, o homem que representou os EUA nas negociações do Acordo de Paris sobre o Clima (do qual Trump saiu após chegar à presidência) garante que está optimista. “O que temos de fazer é decidir que vamos responsabilizar os políticos. Temos de juntar as pessoas e votar pelo futuro”.

    Com eleições presidenciais marcadas para Novembro nos EUA, o democrata não hesita em garantir que “o primeiro passo para resolver os problemas é eleger um novo presidente dos EUA! É preciso ir votar. Todos os candidatos democratas têm programas para o ambiente”.

    Mas, repete, é optimista. Afinal, “se conseguimos ter a primeira geração sem sida em África, se a esperança de vida é muito maior do que foi, se milhões de pessoas saíram da pobreza na China”, então também vamos conseguir salvar o planeta. E isso, ao contrário do que garantem os cépticos e os lóbis económicos, “irá criar milhares de empregos”.

    A lição de “Sua Profundeza” Sylvia Earle

    Enquanto Kerry falava, Sylvia Earle não escondia o entusiasmo. A biólogo e exploradora subaquática aplaudia e abanava a cabeça. Earle, cuja carreira lhe valeu a alcunha de “Sua Profundeza”, como lembrou a moderadora Mariana van Zeller logo no início do painel, foi a primeira a falar.

    Vestida com um casaco do mesmo azul desse mar que foi a sua casa desde que começou a mergulhar, aos 16 anos, a americana, hoje com 84, explica como essa experiência de uma vida debaixo de água mudou a sua forma “de olhar para a vida no mar, mas também para a vida na Terra”.

    “Como é possível que 15 pessoas tenham ido à lua, mas só três tenham mergulhado no local mais profundo do oceano?”, questiona, lamentando a ignorância em relação ao mar. “Hoje sabemos que os humanos estão a alterar a natureza da natureza. Mudamos a temperatura, estamos a mudar a química, estamos a alterar o equilíbrio. Durante muito tempo achámos que o mundo era demasiado grande para poder falhar. Era o que pensávamos há 50 anos, mas agora sabemos. Temos provas de que não é assim”. Por isso temos de mudar os nossos comportamentos.

    E dá exemplos do que mudou desde a sua juventude, quando foi pioneira numa equipa totalmente feminina de mergulhadoras. “Quando comecei, diziam para me preocupar com os tubarões, com os comedores de homens. Mas eu pensava: ‘se o homem não come tubarões, eles também não vão comer homens’. Isso hoje não é assim. Nós comemos tubarões”, diz a mulher que até tem uma figurinha de Lego inspirada nela, enquanto mostra imagens de dezenas de tubarões mortos para consumo humano.

    Outra vitima da voragem humana é o atum rabilho.”A população caiu brutalmente. Durante 20 anos fomos tão bons a pescá-los que a população caiu 80%. Podíamos matá-los todos. Temos a capacidade de os exterminar. Como fizemos com tantas espécies que na Terra e no mar. Sabemos matar. Somos muito bons a tirar a vida selvagem do mar em larga escala. E achávamos que haveria sempre mais. Mas agora temos provas de que somos demasiado bons a tirar a vida”.

    “Somos muito bons a tirar a vida selvagem do mar em larga escala. E achávamos que haveria sempre mais”

    Mas também há boas notícias, como com as baleias. “Há mais hoje do que quando eu era criança. Porque deixámos de as matar. Mesmo se algumas nações o fazem”. E dá como exemplo positivo os Açores. “Nos Açores, a observação de baleias vale milhões. Porque há pessoas como eu que estão dispostas a pagar bem para as ver”. O mesmo se passa em Palau, onde o” presidente fez um estudo e descobriu que cada tubarão vale um milhão. Mais uma vez porque gente como em está disposta a pagar bem para se expor aos tubarões. Mortos valem uma centenas de dólares”.

    “Temos problemas graves. Mas sabemos o que fazer. Então façam-no. De forma séria e com coração. Para nos próximos cinco anos, 50 anos ou 500 anos termos o mundo que queremos”, rematou.

    Depois do discurso de encerramento de José Soares dos Santos, presidente executivo da Sociedade Francisco Manuel dos Santos e presidente do Conselho de Administração da Fundação Oceano Azul, as notas finais da conferência são do conjunto be-dom, que usa bidões, latas, garrafas e outros para cruzar ideias musicais com materiais recicláveis.

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