DW África
O novo aeroporto internacional de Luanda é um “elefante branco” que já pesa milhares de milhões de dólares. As obras começaram em 2004 com financiamento da China, mas não têm fim à vista. Terá havido problemas de gestão.
A ideia era construir um novo aeroporto internacional em Luanda com capacidade para 13 milhões de passageiros por ano. Mas, 15 anos depois, o projecto continua por concretizar.
Para o jornalista angolano Rafael Marques, este “é um dos maiores elefantes brancos em África”.
“Inicialmente, o projecto estava orçado em 300 milhões de dólares, mas subiu para 9 mil milhões. E não há fim à vista”, comenta Marques em entrevista à DW.
A empresa China International Fund (CIF) geriu inicialmente a construção do novo aeroporto de Luanda. As obras começaram em 2004, durante a Presidência de José Eduardo dos Santos. Mas a CIF foi entretanto afastada “por inconformidades e incapacidade declarada” da empresa, anunciou este ano o novo Governo angolano, liderado por João Lourenço.
“Saquear os empréstimos”
A inauguração do aeroporto esteve inicialmente prevista para 2015 ou 2016. Foi depois adiada para 2017. Agora, passou tanto tempo que o plano de construção ficou desactualizado e, de acordo com o Governo, será preciso fazer ajustamentos técnicos e de funcionalidade.
“Ao olharmos para o que foi construído até aqui, é um projecto que foi feito para saquear os empréstimos que a China concedeu a Angola para a reconstrução nacional”, afirma Rafael Marques. “É um projecto de construção que nunca mais tem fim e que, nesta altura, não faz muito sentido e deixa o Estado angolano altamente endividado.”
O projecto do novo aeroporto está agora nas mãos de outra empresa chinesa, a AVIC.
China interessada em África
Nem todos os projectos chineses têm gerado “elefantes brancos” como este em Angola.
Ao todo, segundo o jornal oficial “China Daily”, a China já completou a construção de 14 aeroportos no continente: reabilitou o aeroporto internacional de Entebbe, no Uganda, construiu um novo terminal no aeroporto internacional de Adis Abeba e também esteve envolvida em projectos aeroportuários em Moçambique e na Namíbia, por exemplo.
O interesse da China em África é grande, comenta o politólogo alemão Sven Grimm. O Governo de Pequim está interessado “na internacionalização, em ter acesso aos mercados e em dar vazão à mão de obra em excesso no sector da construção”, diz.
Por outro lado, “o financiamento de infraestruturas vai de encontro a uma grande necessidade em África”, refere o politólogo do Instituto Alemão para Política de Desenvolvimento, em Bona.
A curto prazo, isso é bom para o continente. Mas, a longo prazo, quem lucra é a China, lembra Grimm: “Quando as coisas são construídas de fora, não se cria necessariamente postos de trabalho. A China lucra ao apoiar activamente as suas próprias empresas”.
“Elefantes brancos”
Sendo assim, segundo o politólogo, não seria do interesse da China criar “elefantes brancos”, por uma questão de reputação. “É um capital político significativo que pode eventualmente ser desperdiçado, e a China deve ter cuidado para não ganhar fama de financiar elefantes brancos em demasia”, afirma Grimm.
Sobre o novo aeroporto internacional de Luanda, o jornalista angolano Rafael Marques pede esclarecimentos – não só ao Governo angolano, como também ao Executivo chinês. É preciso saber o que aconteceu ao dinheiro, refere Marques.
“Se os contratos tivessem sido feitos como deve ser e houvesse uma supervisão do Governo chinês, responsável pelos empréstimos, não estaríamos nesta situação. Por isso, deveriam responsabilizar-se pelo que aconteceu”, diz.
A nova data apontada para a conclusão do novo aeroporto internacional de Luanda é 2023. Mas o jornalista desconfia: será preciso esperar para ver.