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    CARLOS ROSADO DE CARVALHO Economista e Docente universitário (Foto: D.R.)
    CARLOS ROSADO DE CARVALHO
    Economista e Docente universitário
    (Foto: D.R.)

    O Banco Nacional de Angola (BNA) tem “mandato” do Executivo para “descomprimir” as pressões no mercado cambial.

    A boa nova foi dada pelo governador, José Pedro de Morais Júnior, depois reunião conjunta das comissões Económica e para Economia Real do Conselho de Ministros da semana passada.

    Costuma dizer-se que o primeiro passo para resolver um problema é admitir que ele existe. Espero que seja o caso. Apesar de só agora ser admitido oficial e abertamente, o problema da escassez de divisas em Angola dura há mais de um ano. No mercado formal, praticamente não se compra moeda estrangeira. Nas kinguilas, é muito caro.

    “O BNA vai adoptar medidas para mitigar a crise, descomprimindo, na medida do possível, a pressão a nível do mercado cambial”, anunciou José Pedro de Morais Júnior, citado pela comunicação social.

    “A ideia é evitarmos situações de ruptura de stocks e resolvermos alguns problemas que se começam a colocar com grande acuidade a nível dos operadores económicos”, reconheceu o governador. Há meses que os empresários angolanos fazem fila junto da presidência, dos ministérios e do BNA para se queixarem da falta de divisas. Se o problema é a falta de divisas, a solução é aumentar a oferta.

    O principal fornecedor de divisas aos bancos é o BNA – os bancos podem comprar divisas aos seus clientes, mas estas transacções são residuais, em especial depois de o BNA ter proibido as petrolíferas de venderem divisas aos bancos. Nos primeiros quatro meses de 2015, as divisas compradas pelos bancos ao BNA e clientes baixou 33% face ao mesmo período de 2014.

    “Fomos prudentes na gestão das nossas reservas internacionais líquidas, desde o início do ano, mas fizemo-lo porque não se conhecia o amanhã”, justificou Morais Jr. Face à estabilização do preço do petróleo [acima dos 60 USD o barril] um nível superior ao antecipado pelo Executivo [que elaborou o OGE com base em 40 USD o barril], o Governo entende existirem condições para “flexibilizar” a gestão das reservas.

    Traduzindo do ‘economês’, o BNA vai aumentar a oferta de divisas, o que, aliás, já começou a fazer – na última semana de Maio a autoridade cambial vendeu 400 milhões USD aos bancos, mais 100 milhões, ou 33%, que na semana anterior. Mas não tenhamos ilusões. Não é o aumento da oferta de divisas pelo BNA que vai resolver o quid pro quo cambial como lhe chamei em crónica recente. Quando muito, esse aumento vai “mitigar” a crise cambial, para utilizar as palavras do governador. Do meu ponto de vista, o problema cambial angolano não reside na escassez da oferta de divisas, mas na procura excessiva.

    Em Angola, procuram-se divisas para pagar as importações, sejam mercadorias, sejam serviços. Inebriado pelos ‘petrodólares’, o País vive acima das suas possibilidades. Precisamos, por isso, de comprar menos ao estrangeiro, de substituir importações. Para isso, é necessário aumentar a produção nacional de bens e serviços, um processo difícil que, se correr bem, vai demorar muito tempo. Enquanto isso não acontece, uma das formas de reduzir a procura de divisas é aumentar o seu preço.

    Quanto maior for o preço, menor será a quantidade procurada. Ou seja, é preciso deixar valorizar o dólar, o que é o mesmo que dizer desvalorizar o kwanza. Uma coisa que o Executivo resiste em fazer com medo da inflação. O aumento recente da inflação sugere que não é reprimindo a taxa de câmbio oficial que se controlam os preços. Na crise de 2008, teve de ser o Fundo Monetário Internacional a obrigar a desvalorizar a moeda. De Julho de 2008 a Setembro de 2009, o kwanza perdeu pouco mais de 3%.

    Entre Setembro de 2009 e Dezembro de 2009, perdeu quase 13%. Desta vez, a desvalorização já excede 10%. Mas não chega. No mercado informal, o dólar já testou os 200 Kz. Bem sei que o mercado informal é um mercado com pouca liquidez onde pequenas transacções são capazes de provocar grandes alterações de preço.

    Mas, ainda assim, o diferencial entre os mercados formal e informal sugere que o kwanza está sobrevalorizado. O Executivo parece ter dificuldade em desligar-se definitivamente da economia socialista de má memória, em que os produtos eram baratos, mas as prateleiras estavam vazias.

    O mercado de divisas não é diferente do mercado de bens. De que vale o dólar estar barato se, quando queremos comprar, não há? Isto para não falar dos esquemas que se montam nos bancos, onde funcionários menos escrupulosos desviam divisas para o mercado informal. Comprar ao BNA a preço de ‘saldo’ e vender no paralelo a preços exorbitantes é o que está a dar… (expansao.ao)

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