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    Morte de Sílvio Dala: Ministério da Saúde pede a médicos para não desmotivarem – Deputado David Mendes apela à “desobediência civil”

    O Ministério da Saúde pediu aos profissionais de saúde angolanos para não desmotivarem após a morte em circunstâncias estranhas e ainda por esclarecer do médico Sílvio Dala na esquadra dos Calotes, Rocha Pinto, em Luanda, depois de ter sido para lá levado por conduzir a sua própria viatura, de que era o único ocupante, sem máscara. A indignação social com mais esta morte cresce e já surgiram apelos à desobediência civil”.

    Num comunicado dado a conhecer pelo secretário de Estado da Saúde Pública, as autoridades de Saúde nacionais, depois de endereçarem as condolências à família de Sílvio Dala, de 35 anos, que estava a frequentar uma acção de formação no Hospital Pediátrico David Bernardino, em Luanda mas oriundo de Ndalatando, Lunda Norte, onde desempenhava o cargo de director clínico do hospital materno-infantil, garantem querer ver esclarecida de forma integral a circunstância do seu falecimento.

    “O Ministério da Saúde junta-se a outras instituições do executivo, mormente a Procuradoria-Geral da República e o Ministério do Interior, que instauraram um processo-crime com vista a esclarecer as circunstâncias reais em que ocorreu a morte”, aponta o Ministério da Saúde no comunicado lido pelo secretário de Estado Franco Mufinda, durante a actualização diária dos dados da Covid-19 em Angola, acrescentando que está igualmente a ser exigida a “responsabilização de eventuais prevaricadores”.

    Nesse momento, Franco Mufinda adiantou que o seu ministério mantém o “firme compromisso” na defesa da vida e da integridade física e psicológica de todos os profissionais de saúde, sublinhando que isso é especialmente importante numa altura de pandemia que tem nos profissionais de saúde a sua linha da frente de combate.

    O Ministério da Saúde apelou ainda para que os médicos e restante pessoal do sector para não desmotivarem, à “calma e à serenidade” para manter a “nobre missão de salvar vidas”.

    “Desobediência civil”

    Com o crescendo de incertezas sobre as circunstâncias da morte do jovem médico, apesar de a Polícia Nacional já tenha vindo a público garantir que Sílvio Dala foi levado, na passada terça-feira, 01 de Setembro, para a esquadra dos Calotes, no Rocha Pinto, por ter sido encontrado sem máscara facial a conduzir a sua viatura, onde se sentiu mal e caiu, batendo com a cabeça, as vozes críticas somam-se e aumenta o volume da indignação na sociedade angolana.

    A esmagadora maioria dos analistas políticos chamaram a atenção, especialmente nas suas páginas nas redes sociais, para as estranhas circunstâncias desta morte e o claro excesso de zelo da polícia, que mantém uma desajustada prática de recurso fácil à violência, demonstrada pelas várias mortes ocorridas às suas mãos desde que foi declarado o estado de emergência devido à Covid-19, em Março.

    No Domingo, mais duas vozes com peso na opinião pública, vieram a público mostrar a sua indignação. Isabel dos Santos recorreu ao Twitter para se referir à morte de Sílvio Dala como “uma notícia revoltante”.

    Na rede social, Isabel dos Santos escreveu: “Hoje partilho convosco uma notícia triste e revoltante. Um jovem médico angolano foi preso pela polícia “que não distribui chocolates” pois ia a conduzir o seu carro e não estava usar a máscara p/Covid-19, e foi para esquadra e apareceu morto com sangue #casoDala”.

    Mas as palavras mais fortes foram proferidas pelo deputado independente, eleito pela UNITA, e advogado, David Mendes, no seu habitual programa de comentário na TZ Zimbo, apelou à “desobediência civil” por pate dos angolanos, defendendo que estes conduzam as suas viaturas particulares sem máscara “para que a Polícia tenha de nos prender a todos”.

    O deputado criticou fortemente a acção policial e a sua cultura de violência enraizada, sublinhando, na sua qualidade de advogado e activista, que as pessoas têm o direito de desobedecer face a leis inconstitucionais e desadequadas.

    E, na sua página no Facebook, retomou o assunto, escrevendo “Eu defendo a desobediência civil. Leis injustas não devem ser cumpridas. Honremos a memória do Dr. SÍLVIO DALA, dizendo basta ao uso de máscaras quando estivermos sozinhos nas nossas viaturas”, tendo recebido uma avalanche de comentários solidários com a sua posição “corajosa”.

    “Causas naturais”

    Recorde-se que esta morte, que ganhou especial relevo social por se tratar de um médico, que, como David Mendes lembrou, é uma classe profissional considerada pelas autoridades de Governo nacionais como “heróis” pelo seu papel no combate à pandemia da Covid-19 na “linha da frente”, é uma de várias registadas nos últimos meses por causa de meras transgressões ao uso obrigatório de máscara ou de incumprimento das regras do distanciamento social, como, alias, o Novo Jornal tem vindo a noticiar, por exemplo, aqui , aqui ou ainda aqui.

    O Ministério do Interior, que fez público um comunicado onde envia as suas condolências à família de Sílvio Dala, confirmou de imediato a morte do jovem médico, atribuindo-lhe, no entanto, causas naturais, o que foi confirmado pela autópsia que terá ocorrido acompanhada de familiares.

    Segundo os porta-vozes da Polícia Nacional e do Ministério do Interior, Sílvio Dala sofria de hipertensão arterial e, quando estava já na esquadra dos Calotes, para onde foi levado por condução sem máscara, e para pagar a respectiva multa, começou a desfalecer, acabando por cair de forma “aparatosa” e bater com a cabeça, resultando daí sangramento abundante.

    A sua morte ocorreu quando o médico Sílvio Dala estava a ser transportado numa ambulância para o Hospital do Prenda.

    Entretanto, o Sindicato Nacional dos Médicos de Angola não colheu estas explicações como boas e anunciou de pronto um protesto nacional, que deverá culminar com uma manifestação em Luanda no próximo Sábado.

    Até lá, os profissionais de saúde são invectivados a ir para os seus locais de trabalho com uma peça de roupa negra, simbolizando o luto e a revolta por mais esta morte em resultado de acção policial desajustada, porquanto as explicações, segundo este sindicato, não encaixam naquilo que os colegas de Sílvio Dala encontraram quando foram de encontro ao seu corpo na morte, nomeadamente o sangue abundante.

    Acusa mesmo o sindicato de a PN ter mantido o médico numa cela durante horas onde terá sido encontrão já morto e só depois é que “entenderam levá-lo para o Hospital do Prenda, na viatura da polícia, onde apenas foi confirmada a morte”.

    De acordo com informações do sindicato, o corpo do médico ostentava uma ferida incisiva na cabeça, o que pressupõe a sujeição a “golpes e agressões”.

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    FonteNJ

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