Sindika Dokolo praticava uma forma de mergulho, localmente conhecida como ‘al-hivari’, que não utiliza equipamento de respiração e assenta na utilização exclusiva do ar existente nos pulmões.
O falecimento de Sindika Dokolo é uma perda irreparável para Isabel dos Santos e aumentará as vulnerabilidades nos processos judiciais em que está envolvida. Uma deslocação de José Eduardo dos Santos a Luanda poderá fazer a diferença.
As causas do afogamento continuam por esclarecer. Mas face ao que tem sido divulgado, o instrutor de mergulho (autónomo e livre) em Sesimbra, Ricardo Germano, aponta a mais provável: síncope cardíaca.
Ricardo Germano já mergulhou no Dubai, que quase não tem ondas. Em comparação a Sesimbra (de visibilidades reduzidas entre dois a três metros) “é bastante mais tranquilo.” Equipara-se melhor às águas das Filipinas, Indonésia, Caraíbas, República Dominicana – de clima subtropical.
Problema para subir à superfície
Desconhece-se o historial clínico da vítima, mas partindo do princípio que era um homem saudável e praticante de mergulho livre (ou de apneia, que significa suster a respiração e tentar ir ao fundo) poderá ter excedido o tempo na subida à superfície. Os apneístas são habitualmente praticantes de caça submarina e estão impedidos de usar garrafa de mergulho.
Por vezes, deslumbram-se lá em baixo com os peixes, corais ou eventual captura de um troféu. Adiam a decisão de subir, prossegue Ricardo Germano: “O apneísta sente-se confortável e relaxado lá em baixo. Para quem pratica a modalidade, o yoga é extraordinário para aumentar os tempos na descida. O problema surge na subida, pela diminuição rápida e drástica da pressão ambiente.” Dá-se o apagão.
O mergulho em apneia é de baixo risco, desde que praticado com algum conhecimento. Porque quando o cérebro manda subir à superfície é difícil contrariá-lo, ou seja, ultrapassar os limites. Também não implica grande preparação física; nem formação e certificação para a prática, ainda que seja recomendável. Geralmente, os iniciados começam com amigos praticantes.
Para ir mais fundo, pode ser necessário mais treino ou optar por formação. “A formação ajuda bastante, porque aumenta a segurança. Com algum treino adicional, estão ao alcance das pessoas profundidades de mergulho livre entre os dez e 20 metros.”
Descidas mais profundas
Com muita dedicação à modalidade, há caçadores submarinos e praticantes de apneia a mergulharem entre os 20 e os 30 metros. Ricardo Germano traduz em tempos: “Para conseguirem fazer isso têm de suster a respiração, pelo menos, entre um minuto e meio e dois minutos.
Consigo mergulhar a 26 metros de profundidade em um minuto e cinco segundos. Há pessoas que conseguem estar lá em baixo durante um minuto ou mais, além do tempo de descida e subida. Isto acontece, por exemplo, em caça à espera.
” Tome-se o exemplo do protagonista do documentário da Netflix, A Sabedoria do Polvo (2020): o cineasta Craig Foster faz mergulho livre para captar as imagens de uma floresta de algas. Terá feito apneias de quatro a cinco minutos, segundo Ricardo Germano.
Quanto ao mergulho autónomo, com equipamento próprio – vulgo garrafa, de ar comprimido, de 14 quilos, mas debaixo de água tem um peso aparente de dois –, o risco de embolia pulmonar é maior.