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    Jovens do Cassequel constroem mobílias com pneus reciclados

    A idéia de Reciclar, Reutilizar e Rentabilizar deu nome ao projecto. A empresa 3R, está para breve e já atraíu um primeiro cliente.  Ao passar pela oficina improvisada na rua do Hotel Histórico ou da Mamã Kuíba parou, olhou, gostou e formalizou de imediato a primeira encomenda do projecto, com dez mil kwanzas, por uma cadeira de cor castanha.

    O líder do projecto Mário Pedro na acção de corte de um pneu para suporte de uma cadeira (Foto: PA)

    A primeira unidade do projecto empresarial 3 R, estava a ser pintada a tinta de óleo, nas mãos hábeis de Man Chico, que convida a nossa reportagem a registar o acto. Aqui começa a história do projecto 3R, que brevemente vai ocupar cinco  sócios de uma empresa, que será registada oficilmente por obra e graça de uma simples idéia, rastreada na Net.

    A primeira cadeira vendida pelo Projecto 3R pintada a tinta de óleo (Foto: PA)

    Os cinco jovens andaram primeiro a observar uma alternativa ao desemprego, partindo do princípio da reciclagem de pneus usados e o resultado está à vista. Dividiram responsabilidades e partiram para a prática laboral com os primeiros pneus achados na via pública e … no lixo, conforme salientou um dos sócios.

    “Viam-me a vasculhar o lixo e alguns pensaram, que eu já fazia parte da comunidade de doentes mentais, que vagueiam pela cidade. Apanhámos os primeiros pneus do lixo, juntámos os trocos que tínhamos,  comprámos detergentes para higienizar os pneus, alguns objectos de corte como o X-actus, parafusos e aí começamos a dar forma ao trabalho de transformação dos pneus em bens de utilidade doméstica.

    O resultado é isso que está à vista de todos, aqui mesmo na nossa rua, onde partilhamos as nossas ideias”.

    Parte do pneu para compôr uma peça de mobiliário, antes de ser higienizado. (Foto: PA)

     

     

     

     

    Testámos a resistência da cadeira e comprovamos a qualidade do produto final, concebido segundo as normas internacionais de acomodação, que soubemos, ser de 40 centímetros a altura da cadeira para uma pessoa de média estatura. Para os homens altos, soubémos que a medida recomendada ronda os 75 centímetros de altura. E esperamos que Jean Jacques ou outro basquetebolista angolano, com altura a condizer encomende já uma peça para o seu jardim.

    “Precisamos de adquirir rapidamente os meios e o fruto da venda da primeira cadeira vai servir para adquirir parafusos e lâminas de corte. O cliente pagou a primeira unidade da empresa que vai ser registada oficialmente nos próximos dias.  Reúne cinco jovens do Bairro Cassequel e o resultado é o que vemos nas imagens.

    O casal de vizinhos mais velhos da rua testando a resistência das peças
    (Foto: D.R.)

    Dar vida aos pneus carecas e fora de uso é o que este grupo de jovens tenciona fazer com base na técnica de Reciclagem de pneus. “A nossa arte estará patente na criatividade e na utilidade da matéria prima. A mestria nasce na forma que devemos dar ao produto final, diz-nos Mário Prado, o mestre do design e corte da matéria prima.

    “O pneu tem partes de resistência e durabilidade. É aí que entra a nossa técnica, que garante a qualidade ao nosso trabalho. O design, a forma do produto final é analisado em conjunto e cada um dos artistas procura dar o seu melhor para termos um produto final de qualidade”, afirma Mário Prado à nossa reportagem.

    “Precisamos de máquinas de corte industrial, como berbequins, rectificadoras, máquina de corte (tico-tico), compressores para pintura, fresadoras, que ainda não temos. Fazemos tudo à mão, com a preciosa ajuda do X-actus e da nossa mente. Estamos abertos a apoios e isso não podemos negar a pessoas de boa vontade”.

    “Através do Portal de Angola, quero lançar um apelo às pessoas de boa vontade, capazes de compreender a nossa idéia de trabalho e se mostrem sensíveis ao apoio que necessitamos nesta fase de arranque do projecto. Não temos dinheiro, mas temos ideias que no futuro vão dar dinheiro” – adverte o nosso interlocutor, que se mostra plenamente convicto do sucesso da marca 3R. Um chefe de família empenhado e com a responsabilidade de manter firme a moral dos seus companheiros.

    O mentor do projecto galvaniza vontades e os sócios depositam nele a dinâmica da sociedade que querem registar, mas infelizmente não possuem ainda o capital social (algo como 100 mil Kwanzas), para a empresa por quotas, que querem oficialmente constituir.

    Um apelo à  solidariedade social é lançado à sociedade civil, cientes de que com o seu apurado trabalho podem facilmente recompensar, com a troca de serviços. Aqui lançamos o repto à consciência popular para que esta empresa com provas dadas nos modelos que captamos no local, possamos ter no mercado produtos de uso comum, reciclados, a partir de materiais que já tiveram outras utilidades, mas podem continuar a cumprir outras funções.

    Na rua do Hotel Histórico com as pedras da calçada ainda do tempo colonial, que não chegaram a vestir-se de asfalto, desde a independência em 1975 continuam a aguardar a oportunidade de melhor serventia.

    Talvez a instituição das autarquias tenham essa responsabilidade, quando se tornarem realidade no país. Por enquanto só o olhar atento dos moradores vai impedindo que as águas das chuvas façam das suas nos quintais, onde as famílias se aconchegam em dormitórios improvisados, na declarada luta pela sobrevivência a que estão remetidas faz tempo.

    Isso explica a cooperação dos moradores na construção de pequenas valas de drenagem com blocos de cimento que desviam as águas residuais, para outros destinos. A rua do Hotel Histórico ou da Mamã Kuíba aguarda serenamente que o projecto 3R ganhe outro protagonismo com o  seu desempenho fabril. É o que esperam os seus mentores. (DS)

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