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    Já chegou o sistema operativo humano

    A tecnologia está a reforçar a importância das pessoas nas empresas. Não, não é um contrassenso. Uma em cada cinco funções hoje desempenhadas por humanos nas empresas terá desaparecido em cinco anos, mas os gestores estão a apostar cada vez mais na qualificação e motivação do seu talento. Um estudo da consultora Mercer fala de uma nova era na gestão de pessoas, a do “sistema operativo humano”

    impacto da inteligência artificial e da automação nas empresas continua a estar na ordem do dia e a forçar as organizações a alterações de fundo no seu desenho estrutural. O mais recente estudo da consultora Mercer, o Global Talent Trends 2018, traz novos dados a esta equação. O documento, divulgado esta terça-feira, revela que para 53% dos executivos é evidente que uma em cada cinco funções desempenhadas por funcionários das suas empresas terá desaparecido em cinco anos.

    Em extinção estão, maioritariamente, funções repetitivas, intensivas ou mecânicas, que a inteligência artificial consegue substituir sem grande dificuldade. E, na verdade, 96% dos executivos mundiais já preparam os seus modelos de negócio para este cenário. O que é curioso é que, à medida que avança a tecnologia, as empresas estão a reforçar a relevância das pessoas e do seu desenvolvimento. Pedro Brito, sócio da Mercer| Jason Associates, fala na inauguração de uma nova era, a do “sistema operativo humano”, que torna claro que os humanos não perdem importância num contexto tecnológico, e garante que as empresas já a estão a pôr em prática.

    AS PESSOAS SÃO O MOTOR DA TECNOLOGIA
    As pessoas são o coração das empresas, mas também o motor da tecnologia. Este é o princípio básico que movimenta a revolução do “sistema operativo humano” a que se refere Pedro Brito. Traduzir isto na prática significa assumir que, com a inteligência artificial a ganhar terreno no mundo do trabalho, precisaremos cada vez mais de profissionais altamente qualificados que possam tirar o maior partido da digitalização. “O talento, mais do que a tecnologia ou o investimento, será o fator capaz de operacionalizar as estratégias de inovação, competitividade e crescimento no século XXI. As pessoas, e não os robôs, continuarão a trazer para as empresas novas ideias, a inspirar os outros e gerar negócios bem sucedidos”, conclui o estudo.

    O sócio da consultora Mercer em Portugal reconhece que à medida que a capacidade de transformação se torna um fator diferenciador e crucial para o sucesso empresarial, num clima competitivo global, “o desafio para as empresas passa por envolver as suas pessoas nos seus objetivos corporativos e na sua visão estratégica”.

    Ou seja, torná-las uma peça fundamental no puzzle complexo que é uma organização empresarial. Esta visão, que tem vindo a ganhar relevância nas empresas mundiais, está a traduzir-se, segundo Pedro Brito, numa aposta dos líderes empresariais pela evolução contínua – mais do que a transformação isolada – dos seus profissionais, de forma a manterem a necessária competitividade empresarial. “De um modo global, os líderes reconhecem que é a combinação e convivência entre as competências humanas e a tecnologia digital que permitirá impulsionar os negócios”.

    AS CINCO TENDÊNCIAS DA FORÇA DE TRABALHO
    Uma análise ao estudo Global Talent Trends permite concluir que em todo o mundo, os líderes já perceberam que para crescer, as empresas precisam de profissionais que sejam eternos aprendizes, capazes de evoluir com os negócios, de se adaptar rapidamente à mudança, dominar a tecnologia e desenvolver, em permanência, as qualificações que serão vitais no futuro.

    O primeiro resultado prático desta visão é que 40% das empresas já estão, segundo o relatório, a aumentar o acesso dos seus profissionais a soluções de formação online. O segundo é que as ambições dos profissionais estão a mudar o cenário das empresas e forçar a adoção de cinco novas tendências de gestão: foco na mudança, trabalho com propósito, flexibilidade permanente, desenvolvimento de talento e digitalização.

    O foco na mudança é, para Pedro Brito, uma das questões vitais num cenário em que se antecipa uma reestruturação das carreiras e funções nas empresas, alavancada pela tecnologia. “Quando mais de metade (53%) dos executivos prevê que, pelo menos uma em cada cinco funções da sua organização deixará de existir nos próximos cinco anos, é fundamental estar preparado para a substituição e requalificação dos profissionais”, explica, reconhecendo que só 26% dos líderes promovem ativamente programas de rotação de talentos nas empresas.

    Outra das revoluções em marcha nas empresas de topo mundiais é a motivação para o trabalho. Os profissionais querem trabalhar em empresas como um propósito sólido, que valorizem os seus ativos. “As organizações que ajudarem as suas pessoas a preocuparem-se menos com as suas necessidades básicas de segurança e investirem mais energia nas suas aspirações de carreira serão recompensadas com uma força de trabalho que demonstra um maior orgulho, paixão e propósito”, admite.

    E este foco nas pessoas passa também por apoiar uma maior compatibilização entre a carreira e a sua vida pessoal. As opções de trabalho flexível estão, cada vez mais, no topo das prioridades dos trabalhadores, mas 41% ainda temem que opção por este modelo laboral prejudique a sua progressão profissional.

    Para 80% dos líderes, esta forma de trabalho é já uma parte essencial da sua proposta de valor para captação e retenção de talento. E a percentagem praticamente duplicou face a 2017, altura em que 49% das empresas já permitiam soluções de trabalho remoto. Mulheres e profissionais mais seniores são os mais afetados pela falta de oportunidades de trabalho flexível. As consequências traduzem-se, segundo o especialista, pelo absentismo, baixos níveis de energia e até esgotamento. Uma realidade que é preciso inverter.

    COMPETIÇÃO PELO TALENTO VAI AUMENTAR
    As perspetivas de 89% dos líderes inquiridos pela Mercer são de que a competição pelo talento aumente nos próximos anos, e reconhecem a necessidade de atualizar os seus modelos de gestão para uma era digital. Duas em cada cinco empresas planeiam, segundo o estudo, subcontratar mais talento este ano e 78% dos funcionários considerariam a hipótese de trabalharem como freelances.

    “Obter maior talento através de um ecossistema mais abrangente é parte da solução”, explica o responsável da Mercer| Jason Associates. Pedro Brito relembra que neste novo cenário de forte concorrência, “as empresas precisam de distribuir talento com maior rapidez de forma” e sugere a criação de uma plataforma de talento em cada empresa, que é outra das tendências de gestão identificadas pela consultora.

    O estudo global da Mercer revela ainda que a estratégia digital das empresas deve ser pensada “de dentro para fora”. Por outras palavras, a estratégia de gestão dos funcionários deve ser alinhada com as prioridades do negócio, a começar nos primeiros. 70% dos gestores mundiais já o fazem e materializam no terreno o conceito de “sistema operativo humano” que, tudo indica, será vital para a sobrevivência dos negócios num cenário de crescente robotização. (Expresso)

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