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    Idai: Empréstimo do FMI a Moçambique é uma “acusação chocante”, diz ONG

    ONG britânica Comité para o Jubileu da Dívida afirma que o empréstimo do FMI a Moçambique para responder ao ciclone Idai é uma “acusação chocante” e defende que a ajuda devia ser uma doação.

    “É uma acusação chocante da comunidade internacional que um país tão empobrecido como Moçambique tenha de ter um empréstimo de instituições internacionais para lidar com a devastação causada pelo ciclone Idai”, afirmou a diretora do Comité para o Jubileu da Dívida (CJD), Sarah-Jayne Clifton, numa nota enviada à agência de notícias Lusa este sábado (27.04) e citada pela DW África.

    “Os empréstimos de emergência deviam estar disponíveis para todos os países empobrecidos em resposta a desastres como o Idai, especialmente aqueles ligados às mudanças climáticas causadas pelas nações mais ricas do Norte”, acrescentou a responsável num comentário ao empréstimos de 105 milhões de euros aprovado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) a Moçambique.

    Moçambique “já está a sofrer uma crise da dívida causada por empréstimos secretos providenciados por bancos baseados em Londres, pelo que os estragos causados pelo ciclone Idai são mais uma razão para estes fundos não serem pagos”, defendeu a responsável, apontando que “os estragos significam que Moçambique precisa agora também de um perdão sobre outras dívidas, incluindo ao FMI, em vez de ter ainda mais empréstimos”.

    Para Sarah-Jayne Clifton, “é uma opinião chocante que a devastação do Idai não seja suficiente para garantir que o FMI fornece ou perdão ou alívio da dívida”.

    Para além da questão específica do empréstimo do FMI, que tem um período de carência de quatro anos e um pagamento a dez anos, sem juros, o CJD critica também o Fundo por lucrar com estes financiamentos.

    “Nos anos recentes, o FMI tem estado a ganhar lucros dos empréstimos a países com médio e alto rendimento; no ano financeiro de 2018 teve um lucro operacional de 550 milhões e em 2017 foram 1,3 mil milhões de dólares, que vão para as reservas do FMI, que aumentaram de 17,3 mil milhões em 2010 para 30 mil milhões de dólares em Outubro do ano passado”, aponta esta ONG que condena o excessivo endividamentos dos países mais pobres e os mercados que os financiam.

    Mais ajuda frente a um novo desastre

    O ciclone Idai atingiu a região centro de Moçambique a 14 de março, causando 603 mortos. Até agora, quase um mês e meio depois do desastre, várias localidades ainda enfrentam problemas. E a situação está longe de ser normalizada, depois da passagem de um novo ciclone, agora no norte do país. É o que diz afirmou o secretário-geral da AI, Kumi Naidoo:

    “Passaram apenas cinco semanas desde que o ciclone Idai, um dos piores desastres climáticos a na África Austral, atingiu Moçambique, e o país mal está longe de ter recuperado. Agora, o seu povo está a experienciar o choque de outra tempestade marcante, que deve trazer chuvas devastadoras, tempestades e inundações”.

    A Amnistia Internacional (AI) sublinhou na sexta-feira (26.04) que o país continua “drasticamente subfinanciado”, tendo apenas recolhido 88 milhões de dólares dos 390 milhões de dólares necessários para um plano de recuperação pós-Idai e reforçou um apelo à comunidade internacional.

    “Todos os países que o possam fazer, e especialmente aqueles que contribuíram significativamente para as emissões globais e aqueles que o continuam a fazer, devem enviar mais que pensamentos e orações para Moçambique. Devem providenciar uma solução para aqueles cujos direitos estão a ser destruídos pelas alterações climáticas, e isto inclui o aumento dos fundos para as adaptações climáticas e esforços pós-desastre”, afirmou o secretário-geral da AI, Kumi Naidoo.

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