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    Há menos portugueses a querer sair do país

    Em quatro anos, o número de profissionais disponíveis para trabalhar fora do país diminuiu em cerca de um quarto.

    A mobilidade é um dos grandes motores do recrutamento actual e as carreiras internacionais continuam a estar na moda, mas os portugueses estão menos disponíveis para trabalhar no estrangeiro. Entre 2014 e 2018, a percentagem de profissionais disponíveis para trabalhar fora do país diminuiu em cerca de um quarto. Segundo o “Decoding Global Talent 2018”, o estudo global de preferências laborais realizado a cada quatro anos pela consultora Boston Consulting Group (BCG) e pela plataforma de recrutamento The Network, 58% dos portugueses estavam receptivos a propostas de trabalho internacionais no início deste ano. Em 2014, a percentagem era de 79%. Mas nem tudo são boas notícias neste abrandamento das intenções de emigração. É que continuam a ser os mais jovens e os mais qualificados a demonstrar maior apetência para internacionalizar a carreira.
    Em 2018, tal como em 2014, são cinco as principais razões que levam os portugueses a emigrar ou ponderar oportunidades profissionais no estrangeiro: melhores oportunidades de carreira, ampliar a sua experiência pessoal, melhorar o salário, adquirir novas competências profissionais ou conquistar melhores condições de vida. E a ordem com que são enunciadas estas motivações está longe de ser aleatória. O salário não é o maior aliciante para os profissionais portugueses na altura de emigrar.

    Segundo o estudo, a questão das compensações e benefícios é ‘empurrada’ para a oitava posição na lista de prioridades de quem procura um emprego pelos, 1654 portugueses que participaram no estudo. Na altura de procurar ou mudar de emprego, um trabalhador português avalia a capacidade da empresa de lhe garantir um bom equilíbrio entre a carreira e a vida pessoal, um bom ambiente de trabalho, possibilidades de desenvolvimento de carreira e de formação, bom relacionamento com as chefias, uma cultura de mérito ou a identificação com os valores da empresa.

    O salário e a estabilidade no emprego são menos valorizados pelos profissionais em Portugal do que noutros países. No ranking global das preocupações dos trabalhadores, as questões financeiras surgem na sexta posição da lista de prioridades. Em Portugal estão em oitavo lugar.

    Jovens e qualificados entre os que mais emigram

    À diminuição do interesse dos portugueses em trabalhar fora do país não é alheia a recuperação económica do país e a progressiva redução da taxa de desemprego. Ainda assim, o estudo demonstra que a intenção de sair do país entre os portugueses mais jovens (62%) e mais qualificados (59%), a intenção de sair do país para trabalhar supera não só a média nacional (58%) como a mundial (57%).

    Além da diminuição do interesse dos portugueses numa carreira internacional, o estudo da BCG identificou também mudanças na escolha dos países de destino preferidos. Espanha empurrou o Reino Unido para a segunda posição na lista de preferências dos potenciais emigrantes portugueses e a Alemanha subiu cinco posições, posicionando-se hoje como o terceiro destino preferencial (ver ranking ao lado). Fruto ou não da diminuição da predisposição global para a emigração, Portugal, apesar de estar na moda como destino turístico perdeu interesse como destino de trabalho. O país recuou nove posições na lista de países de trabalho favoritos dos profissionais estrangeiros, passando a ocupar o 30º lugar.

    E não é apenas em Portugal que a mobilidade está em queda. A tendência é transversal à quase totalidade dos 198 países analisados no estudo do BCG/ The Network. Os números falam por si. A análise que agregou respostas de 360 mil profissionais e mais de seis mil recrutadores a nível global, revela que em quatro anos, a disponibilidade dos profissionais para trabalhar fora do seu país diminuiu sete pontos percentuais. Em 2014, 64% dos profissionais estavam abertos a aceitar oportunidades de carreira internacionais. No início deste ano só 57% admitiam a hipótese da emigração. Um cenário promete complicar muito a vida aos empresários em países onde escasseia talento especializado.

    Os autores do estudo — Reiner Strack, Mike Booker, Orsolya Kovacs-Ondrejkovic, Pierre Antebi e David Welch — reconhecem o problema. “Se perguntarmos aos líderes das grandes empresas mundiais o que os preocupa dirão que é gerir talento numa era de mudanças aceleradas”, explica a equipa. E aqui a questão da mobilidade profissional é determinante. Os investigadores reconhecem que a uma primeira leitura os resultados do estudo podem indicar que “os profissionais estão a ficar mais resistentes à mobilidade”. Mas é preciso perceber se as razões para esta ‘resistência’ residem numa maior realização com as condições laborais no seu país ou nas mudanças políticas a que assistimos a nível global. E os autores apostam mais na segunda hipótese.

    Os EUA e o Reino Unido, por exemplo, perderam relevância na escolha dos profissionais como destino de trabalho. E para os autores, “não há dúvidas sobre o impacto que o reforço das políticas de comércio e imigração estão a ter na reputação dos Estados Unidos e que o ‘Brexit’ está a ter no Reino Unido, enquanto destinos de trabalho”. E há outro factor que pode estar a afastar os profissionais de carreiras internacionais: o mercado de trabalho é cada vez mais global e os profissionais já não precisam de mudar de país para encontrar um emprego que os motive mais e que pague melhor. (Expresso)
    por Catia Mateus

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