Sábado, Abril 27, 2024
12.3 C
Lisboa
More

    Fuga de pescadores deixa lota da Baía Farta “às moscas”

    A afluência de pescadores e armadores à lota da Baía Farta, na província de Benguela, continua longe das expectativas, um ano e sete meses depois da inauguração desse mercado de peixe e marisco, apurou a ANGOP.

    Enquanto a venda de pescado fresco continua em locais impróprios no município da Baía Farta, a lota, inaugurada em Julho de 2021, num investimento público de 14 milhões de dólares norte-americanos, regista uma movimentação fraca, situação que inquieta os munícipes.

    O empreendimento, numa área de três hectares, com duas pontes-cais destinadas à atracação de embarcações artesanais e barcos de médio porte, oferece três naves para comercialização de peixe fresco e seco, incluindo frutos do mar, uma câmara de congelação e tratamento do pescado.

    Em declarações à ANGOP, o director da Agricultura, Pecuária e Pescas na província de Benguela, José Gomes da Silva, reconhece o problema e promete reforçar a sensibilização, porque a lota tem capacidade para atender todos os pescadores artesanais da Baía Farta.

    Revela que, neste momento, só uma pequena parte dos pescadores e armadores do município da Baía Farta aceita descarregar o pescado na lota para sua comercialização, enquanto a maioria prefere fazê-lo em outros locais proibidos, principalmente na draga.

    E admite que ainda há muito a fazer para mudar essa mentalidade, embora tenha ressaltado que a empresa privada gestora da lota tem feito algum trabalho, à semelhança da Administração Municipal da Baía Farta, de tal sorte que a venda do pescado seja realizada no estabelecimento.

    Na base do problema, ressaltou a prática da venda ilegal do pescado directamente aos comerciantes/revendedores em circuitos informais, como na draga da Baía Farta e em outras praias sem mínimas condições higio-sanitárias, o que constitui um risco para a saúde pública.

    Porém, ainda aponta o dedo à fraca fiscalização pela venda desordenada do pescado na Baía Farta, visto que só existem 25 homens para fiscalizar mais de 200 quilómetros da orla marítima da província de Benguela.

    Segundo o responsável, muitos pescadores artesanais, para se desvencilhar de algumas dívidas com terceiros, continuam a vender o pescado ilegalmente em locais proibidos, em vez de descarregá-lo na lota que oferece melhores condições.

    “Quando regressam do mar, esses pescadores sentem-se obrigados a entregar o pescado todo a quem o financiou o combustível e a alimentação”, frisou, acrescentando que, depois de comercializado, o pescador recebe uma parte do dinheiro, o que se torna “um ciclo vicioso”.

    Por vezes, alguns pescadores têm dívidas também com o Estado, sobretudo por causa das embarcações recebidas no passado e, por isso, rejeitam a lota para fugir ao controlo das autoridades.

    “É um vício que já se arrasta há muitos anos”, denuncia o director, para quem o pescador artesanal não quer que o governo saiba as suas receitas, para que não lhe seja exigido o pagamento da dívida contraída, o que, por sua vez, resulta também na perda de receita para o Estado.

    Seja como for, afiança as vantagens do referido mercado, tais como combustível e gelo para as embarcações, de maneira que o pescador artesanal faça uma pesca conforme e possa descarregar o pescado em condições higio-sanitárias aceitáveis.

    “A lota responsabiliza-se em dar essas condições e no acto da descarga são feitas as contas”, contou, afirmando que, mesmo assim, os pescadores preferem fazer esses contratos com pessoas alheias à lota, ou seja, os comerciantes que revendem o pescado ao consumidor final.

    Com 61 cooperativas de pesca artesanal, sendo 47 já legalizadas, a província de Benguela tem licenciadas 2.500 embarcações artesanais, que se dedicam às diferentes artes de pesca. JH/CRB

    Publicidade

    spot_img
    FonteANGOP

    POSTAR COMENTÁRIO

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

    - Publicidade -spot_img

    ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    ‘Brasil não pode entrar apenas como vítima em debate sobre reparação de Portugal pela escravidão’, diz Luiz Felipe de Alencastro

    A discussão sobre reparação histórica pela escravidão e pelos crimes cometidos durante o período colonial não pode se resumir...

    Artigos Relacionados

    Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
    • https://spaudio.servers.pt/8004/stream
    • Radio Calema
    • Radio Calema