Domingo, Maio 5, 2024
17.1 C
Lisboa
More

    Formação de Exército regular no Kosovo hoje agrava tensões com a Sérvia

    O parlamento do Kosovo prepara-se para aprovar hoje a formação de um Exército nacional, uma decisão criticada pela maioria dos países europeus e que está a provocar um aumento das tensões nesta região dos Balcãs, noticia o Observador que cita a Lusa.

    Na sequência de uma primeira deliberação em 18 de outubro, os 120 deputados do parlamento de Pristina devem pronunciar-se hoje sobre três projetos-lei que transformam as Forças de Segurança do Kosovo (FSK) num exército regular.

    Na quinta-feira, e após conversações com o chefe da missão da ONU no Kosovo, o Presidente sérvio Aleksandar Vucic considerou a decisão do Kosovo “uma nova medida unilateral e provocatória” que aumenta as preocupações da Sérvia sobre o futuro dos sérvios do Kosovo, cerca de 120.000 dos perto de dois milhões de habitantes.

    Vucic acrescentou que a Sérvia “fará o melhor possível para preservar a paz e estabilidade”, mas avisou que a “situação poderá agravar-se consideravelmente” caso o Kosovo adote a decisão.

    A Sérvia alega que o principal objetivo do novo exército consiste em promover uma “limpeza étnica” no norte do Kosovo, onde se concentra a maioria da população sérvia kosovar, um propósito firmemente negado pelo Presidente Hashim Thaçi, um dos mentores da nova força militar.

    No entanto, esta iniciativa surge quando as tensões entre Pristina e Belgrado voltaram a atingir um ponto crítico, entre rumores de trocas de territórios entre os dois países e quando o difícil diálogo sobre a “normalização” das relações, que tem decorrido em Bruxelas sob a égide da União Europeia (UE), está bloqueado. E para além da recente decisão do Governo kosovar de impor taxas de 100% aos produtos importados da Sérvia e da Bósnia-Herzegovina.

    Bislim Zyrapi, conselheiro para a segurança nacional de Thaçi, precisou que o futuro exército deverá integrar 5.000 homens e 2.500 reservistas, com um custo avaliado em 100 milhões de euros. E o primeiro-ministro, Ramush Haradinaj, sublinhou que este exército vai “ajudar à paz e estabilidade no mundo”, com a vocação de “apoiar a NATO e as Nações Unidas” nas suas missões internacionais.

    Os responsáveis kosovares também já informaram o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, sobre esta decisão “definitiva”, apesar das pressões em sentido contrário emitidas pela UE e pela própria Aliança Atlântica.

    Apenas dois países aliados declararam o seu apoio ao novo exército: Estados Unidos e Reino Unido.

    Pelo contrário, Stoltenberg reagiu de forma cautelosa à iniciativa dos aliados kosovares e alertou para os riscos de desestabilização da região.

    “Esta decisão não surge num bom momento. Contraria os conselhos dos aliados da NATO. E poderá ter sérias repercussões na futura integração euro-atlântica do Kosovo”, considerou no início de dezembro.

    O secretário-geral da NATO apelou ainda aos responsáveis da Sérvia e do Kosovo para “demonstrarem contenção e evitarem qualquer provocação”.

    Na sequência da “guerra do Kosovo” (1998-99), que implicou uma intervenção aérea da NATO contra a Sérvia, que perdeu o controlo desta sua província do sul com maioria de população albanesa, os separatistas albaneses do Exército de Libertação do Kosovo (UÇK) foram reagrupados no Corpo de Proteção do Kosovo (TMK), designado Forças de Segurança do Kosovo (FSK) a partir de 2009. Estas duas unidades apenas possuíam um mandato de proteção civil e dispunham de armamento ligeiro.

    Em 1999 o Kosovo foi declarado “protetorado internacional” pela ONU, e a NATO passou a chefiar uma força militar multinacional (Kfor), que ainda se mantém no terreno com cerca de 4.500 militares.

    Em 2008, o Kosovo declarou unilateralmente a independência, reconhecida pelos Estados Unidos e a maioria dos países ocidentais, ao contrário da Sérvia, Rússia ou China, que rejeitaram a declaração.

    Para Belgrado, a formação de um exército kosovar representa uma “linha vermelha” que viola as disposições do acordo técnico de Kumanovo, assinado com a NATO em 10 de junho de 1999 para terminar com a guerra no Kosovo e que implicou a retirada do Exército jugoslavo (VJ), então restrito à Sérvia e Montenegro, e a entrada dos soldados da Kfor.

    Na semana passada, a primeira-ministra sérvia, Ana Brnabic, preveniu sobre uma eventual intervenção de forças militares sérvias no norte do Kosovo caso seja formado um exército kosovar. No entanto, a generalidade dos comentadores excluiu uma operação militar de Belgrado, que decerto não seria apoiada pela Rússia, um aliado próximo que também critica a decisão de Pristina.

    Na quinta-feira, véspera da decisão do parlamento de Pristina, a tensão voltou a agravar-se após as Forças de Segurança do Kosovo (FSK) terem iniciado exercícios no sul, enquanto a Kfor deslocava dezenas de veículos de combate para o norte do Kosovo, perto da cidade dividida de Mitrovica e com importante população sérvia.

    Estas manobras da Kfor foram consideradas uma provocação pelos sérvios kosovares, mas a missão militar internacional referiu-se a um “exercício de rotina”.

    No entanto, como têm sublinhado observadores na região, o agravamento das tensões poderá favorecer a imposição do plano que é apoiado pelos Estados Unidos, a Alta Representante para a Política Externa da União Europeia, Federica Mogherini, Hashim Thaçi e Aleksandar Vucic, sobre uma alteração das fronteiras.

    Publicidade

    spot_img

    POSTAR COMENTÁRIO

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui

    Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

    - Publicidade -spot_img

    ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Presidente Joe Biden propõe nova embaixadora para Angola

    O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, anunciou a sua intenção de nomear Abigail L. Dressel...

    Artigos Relacionados

    Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com
    • https://spaudio.servers.pt/8004/stream
    • Radio Calema
    • Radio Calema