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    “FNLA tem marcada a data da sua morte”

    A FNLA tem a data da “morte” marcada se o conflito que dura há mais de dez anos continuar até à data da realização das eleições legislativas previstas para 2012. A afirmação é do membro do Bureau Político e da Comissão de Unidade e Reconciliação do partido, Pedro Gomes, que apela aos correligionários para encontrarem, o mais breve possível, a unidade e a reconciliação, sob risco de na data do anúncio dos resultados eleitorais, o partido fundado por Holden Roberto desaparecer. O mestre em Economia pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Politica de Lisboa e docente da Universidade Independente de Angola falou para o Jornal de Angola sobre a grave situação da FNLA.

    Jornal de Angola – O verdadeiro problema da FNLA tem a ver com questões pessoais entre Ngola Kabango e Lucas Ngonda ou são divergências políticas mais profundas?

    Pedro Gomes – Acho que é de tudo um pouco, mas em termos da organização do partido acho que ambos perderam o norte. Têm uma visão totalmente materialista e falta-lhes uma perspectiva em relação aos verdadeiros objectivos da FNLA. Nós os militantes da FNLA não conseguimos entender ao certo qual o antagonismo que existe entre os irmãos Kabango e Ngonda. Sempre que analisamos o comportamento das duas personalidades, chegamos à conclusão que ambas as figuras não estão para o bem da FNLA, mas sim para os seus interesses pessoais.

    JA – O partido FNLA corre o risco de passar à história?

    PG – Esta é a preocupação que nos motivou a criar a Comissão da Unidade e Reconciliação, porque a situação em que o partido se encontra é a todos os níveis preocupante. Estamos a trabalhar com todos  os que defendem os verdadeiros ideais e interesses da FNLA e fazer com que o partido conheça, o mais breve possível, harmonia, unidade, reconciliação e progresso, à dimensão de uma formação política histórica.

    JA –  A comissão contactou Ngola Kabango e Lucas Ngonda?

    PG – Ainda não, por uma razão simples. Num Estado de Direito o poder pertence ao povo e nos partidos políticos, pertence aos militantes. Por esta razão, os dois irmãos são os últimos a ser contactados. A nossa prioridade é informar a massa militante sobre os problemas do partido, porque eles têm uma certa legitimidade. Temos um contacto permanente com os militantes, mas é preciso aprofundar mais, para depois procurarmos chamar cada um, individualmente, para sabermos as razões que estão na base do seu posicionamento. Temos que saber a origem do eterno antagonismo. Precisamos de saber se é dinheiro, ideologia ou outro problema que só eles conhecem.

    JA – Sabe se Ngola Kabango e Lucas Ngonda estão de acordo com a existência da vossa comissão?

    PG – Pelas informações que temos, eles não querem saber da comissão. Porque ela incomoda, porque ilumina e elucida os militantes e todos quantos reconhecem o papel e o valor da FNLA. E porque a comissão quer debater a real situação do partido. É necessário que alguém avisado, clarividente, possa avisar a massa militante sobre a verdadeira situação da FNLA e as futuras consequências caso o desentendimento continue. Lutar para a unidade da FNLA é uma grande aposta da comissão.

    JA – Admite o desaparecimento da FNLA?

    PG – Apesar de ser membro do Bureau Politico, eu não dirijo o partido e nem faço parte da causa do antagonismo. Os problemáticos na FNLA são conhecidos e têm nomes. Todos os militantes sabem quem está a dificultar o desenvolvimento do partido. Eu faço parte do grupo de pessoas que pretende salvar e unir a FNLA e por isso os outros militantes que se dizem consequentes devem rever-se nesta batalha que tem como objectivo a unidade dos irmãos. Se não conseguirmos a unidade a FNLA corre sérios riscos de desaparecer.

    JA – A comissão tem apoio dos antigos combatentes?

    PG – Sim, tem e muito. São eles que tanto sofreram para o bem deste país que apoiam com a máxima força a Comissão de Unidade e Reconciliação, para todos juntos podermos tirar o partido da situação em que se encontra. É preciso resolver os problemas dos antigos combatentes que, infelizmente, nunca ninguém tentou resolver. Só unidos podemos encontrar a solução.

    JA – A comissão tem nomes para a liderança do partido?

    PG – Só os militantes podem responder esta questão. Há muitos nomes sonantes que se dizem da primeira hora, mas a militância prova-se com actos, com amor ao partido e àqueles que sofreram pela causa da própria organização. Parece-me haver uma certa demagogia por parte de certos dirigentes quando dizem que querem defender os interesses dos antigos combatentes, quanto nunca pediram uma audiência aos Ministérios dos Antigos Combatentes, Reinserção Social, do Trabalho ou a outra instituição do Estado para apresentarem os problemas desses homens, que tudo deram à FNLA em defesa da pátria.

    JA – Ngola Kabango quer realizar em Novembro o congresso da FNLA. Vai participar?

    PG – Não é este o congresso que toda a família da FNLA espera. Não faz sentido um político da craveira de Kabango continuar a desafiar as instituições do Estado como se estivesse ainda no maquis. É uma utopia, porque ele faz parte da Assembleia Nacional e reconhece o Estado Angolano. O Tribunal Constitucional encontrou vários caminhos, os Acórdãos 109 e 110, podem ser um bom instrumento para resolver os problemas internos da FNLA.

    JA – A Comissão está preocupada com a posição de Lucas Ngonda?

    PG – Não. Aliás Lucas Ngonda não produz factos políticos e nem vai produzi-los porque não é essa a sua preocupação. A sua atenção está somente virada para os subsídios do partido. Ele está somente à espera que alguém produza factos para ele, porque está impedido de ir às províncias. Por esta razão a comissão está preocupada, porque não podemos participar nas eleições nesta situação. O irmão Lucas Ngonda não vai, seguramente, conseguir a percentagem mínima exigida, 0,5 por cento, e pensamos que o passo seguro a dar é os dois contendores colaborarem com a comissão e definir as balizas e o futuro da FNLA.

    JA – Que outras ideias e medidas a comissão pensa tomar?

    PG – No seio da comissão há duas ideias que pairam: a possibilidade de avançar para uma conferência de quadros ou para um congresso extraordinário urgente, mas com a bandeira da unidade do partido. É preciso criar uma lista única nas eleições que se avizinham em 2012. O tempo é cada vez mais curto para a FNLA, por isso deve ser tomada uma decisão rápida para soluções imediatas que conduzam o partido às eleições de 2012, porque caso contrário, o nosso partido pode não participar no pleito ou se participar corre o risco de não conseguir 0,5 por cento e desaparece.

    Fonte: Jornal de Angola

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