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    Entenda o que está a acontecer na Rússia: pode terminar em guerra?

    Um grupo de navios enviados pela Rússia percorre as águas do estreito de Bósforo, que separa a Europa da Ásia, desde o último sábado (17)

    Com o reforço militar por parte da Rússia, a tensão com países do Ocidente, como os Estados Unidos, e a vizinha Ucrânia, aumenta

    Especialista ouvido pelo Yahoo! Notícias explica o que está acontecendo e se há possibilidade real de guerra

    Um grupo de navios percorre as águas do estreito de Bósforo, que separa a Europa da Ásia, desde o último sábado (17). São dois navios de guerra russos e mais 15 embarcações menores que seguem a caminho do Mar Negro. Com o reforço militar por parte da Rússia, a tensão com países do Ocidente, como os Estados Unidos, e a vizinha Ucrânia, aumenta.

    A Ucrânia e países do Ocidente pediram que a Rússia retire suas tropas da região. No entanto, o governo do presidente Vladimir Putin alegou que tem liberdade para movimentar seus militares em seus territórios e disse que essa era uma “questão interna”.

    Putin, no entanto, não escondeu que o governo russo também pode usar suas forças para proteger civis diante de ameaças no território controlado por “rebeldes separatistas”, como ele mesmo diz.

    Em entrevista ao Yahoo! Notícias, o cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos da Ásia da Universidade de São Paulo (USP), Vicente Ferraro Jr., avalia que a movimentação dos russos pode ser uma tentativa de fazer a Ucrânia “mudar de ideia” sobre uma possível tentativa de retomada de poder das regiões.

    “Possivelmente o principal objetivo da Rússia é dissuadir a Ucrânia de eventualmente tentar retomar o controle sobre as regiões separatistas do leste, mantendo o status quo do conflito. Em março, as tensões e troca de tiros foram retomadas na zona limítrofe entre o exército ucraniano e os separatistas”, diz.

    Ferraro conta que ambos os lados acusam um ao outro pelas agressões. Ele explica que na maioria dos casos, essas regiões se mantêm independentes com o apoio direto ou indireto da Rússia, por isso são denominados “conflitos congelados”.

    “Em 2008, o governo da Geórgia tentou retomar regiões separatistas e foi repelido pelo exército russo. A Rússia utiliza sua influência em tais conflitos como instrumento de barganha com os respectivos países”.

    A Ucrânia fazia parte da União Soviética até a dissolução do bloco, em 1991. Desde então, a Rússia busca manter o país em sua área de influência. Nos últimos anos, a Rússia conferiu cidadania a muitos habitantes das regiões separatistas da Ucrânia – mais de 600 mil pessoas nas regiões controladas por rebeldes receberam a cidadania.

    A Ucrânia acusa a Rússia de violações do cessar-fogo frequentes nas últimas semanas. Segundo autoridades ucranianas, cerca de 30 dos seus militares foram mortos neste ano no conflito, enquanto 50 morreram durante todo o ano anterior.

    A tensão provocada por uma possível guerra, no entanto, rendeu bons resultados para a gestão do presidente Russo.
    (Foto: AP Photo / Mohammad Farooq)

    Pode terminar em guerra?
    Na visão de Ferraro, não há possibilidade de uma guerra de grandes proporções. Isso porque, segundo ele, a Ucrânia dificilmente arriscaria tomar medidas que podem acarretar um conflito.

    “Não acredito que haja possibilidade de uma guerra de grandes proporções. A Ucrânia dificilmente arriscaria tomar medidas contundentes sabendo que o exército russo poderia iniciar uma contra-reação para além das regiões separatistas”, conta.

    Além disso, o cientista político ressalta que a Rússia vem sofrendo impactos econômicos com países do Ocidente e que, por este motivo, não arriscaria perder prestígio internacional

    “Por sua vez, a Rússia vem sofrendo os impactos das sanções econômicas impostas pelo Ocidente e dificilmente arriscaria tomar medidas que viessem aprofundar o seu isolamento. É provável que o status quo do conflito se mantenha”.

    Entretanto, o governo Putin não esconde que caso a Ucrânia tente retomar o controle dessas regiões à força “poderá intervir para proteger os seus cidadãos”. A tensão provocada por uma possível guerra, no entanto, rendeu bons resultados para a gestão do presidente Russo. O cientista político destaca os “ganhos” para Putin.

    “Também é interessante observar que em diferentes momentos a crise ucraniana trouxe ganhos de popularidade para Putin, sobretudo na questão da Crimeia. Manter um clima de tensão pode ter efeitos instrumentais para a política interna tanto da Rússia quanto da Ucrânia”, diz.

    Tentativas de fugir da “guerra”
    Em fevereiro de 2015, Rússia, Ucrânia e separatistas ucranianos assinaram, a segunda parte do chamado Acordo de Minsk, do qual a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa também é signatária.

    França e Alemanha ajudaram a negociar o acordo de paz assinado na capital de Belarus, que estipulava que a Ucrânia deveria conceder autonomia às regiões rebeldes até que novas eleições locais fossem feitas.

    Após o pacto, confrontos de maior escala se encerraram, mas a tensão e ameaças continuaram a ocorrer.

    Outra tentativa de resolver o conflito é o Formato Normandia, grupo formado por Rússia, Ucrânia, França e Alemanha, que se encontra informalmente durante o aniversário de 70 anos do Dia D, em 2014.

    No final de 2019, os líderes desses quatro países reafirmaram o seu comprometimento com o acordo de paz, mas não houve progresso na resolução do conflito e as negociações do grupo de contato estão paradas desde então.

    Movimento em resposta às “ameaças da OTAN”
    Na semana passada, o Ministério da Defesa russo afirmou que as movimentações militares dos últimos dias fazem parte de exercícios de treinamento em resposta a “ameaças da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte)”, que é uma espécie de aliança militar.

    O ministro de Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, pediu nesta quinta-feira (15) por mais apoio ocidental, dizendo que “palavras de apoio não são suficientes”.

    O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, teve um encontro com o presidente da França, Emmanuel Macron, em Paris — a chanceler alemã Angela Merkel participou da conversa por videoconferência.

    Segundo o pesquisador do Laboratório de Estudos da Ásia da USP, os EUA buscam dissuadir a Rússia de promover uma eventual invasão à Ucrânia.
    (Foto: AP Photo / Andrew Harnik)

    Estados Unidos tentam dissuadir os russos
    Para os EUA, há um aviso não tão velado de que a Rússia ainda acredita que o destino de seu vizinho é problema seu e se opõe particularmente ao objetivo da Ucrânia, reiterado esta semana, de ingressar na OTAN.

    A Ucrânia não é membro da organização, mas recebe apoio dos países aliados do tratado de defesa mútua, incluindo ajuda para modernização militar, com o envio de armas como lançadores de mísseis antitanques dos Estados Unidos — além de treinamentos.

    Segundo o pesquisador do Laboratório de Estudos da Ásia da USP, os EUA buscam dissuadir a Rússia de promover uma eventual invasão à Ucrânia.

    “A Ucrânia vem almejando ingressar na OTAN para garantir maior proteção, o que é visto com suspeição pela Rússia. Desde o início de seu governo, Putin critica a expansão da OTAN no Leste Europeu e a aproximação das fronteiras russas, tida como ameaça à segurança do país. O envolvimento dos EUA na Ucrânia é visto pela Rússia como mais um afrontamento geopolítico da organização”, comenta.

    Os Estados Unidos e a OTAN descreveram a situação como a maior concentração de forças armadas russas desde 2014, quando Moscou anexou a Crimeia e passou a apoiar separatistas no leste da Ucrânia.

    Segundo jornais locais, as autoridades da Ucrânia estimam que até 40 mil militares foram enviados à cidade russa de Voronezh, perto da fronteira, que foi equipada com um hospital de campanha e um complexo de comunicações de longa distância. Outros 40 mil soldados teriam sido destacados na Crimeia.

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