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    Eleições em Portugal: A vitória de Pirro da AD

    Reza a história que o rei Pirro do Epiro, cujo exército havia sofrido perdas irreparáveis após derrotar os romanos na batalha de Ásculo, em 279 a.C. , teria respondido a um individuo que lhe felicitou pela vitória sobre os romanos que “uma outra vitória como esta o arruinaria completamente”. Pirro havia perdido grande parte do seu exército na batalha e quase todos os seus amigos e comandantes tinham sido mortos.

    Desde então a expressão “Vitória pírrica” ou “vitória de Pirro” é utilizada para se referir a uma vitória obtida por um preço tão alto, com prejuízos irreparáveis, que se assemelha mais a uma derrota.

    Quando as televisões começaram num frenesim intenso a anunciar, ontem a noite por volta das 20h, as primeiras projeções dos resultados eleitorais tudo parecia indicar que Luís Montenegro e com ele a AD avançavam para uma vitória que, embora não fosse absoluta, seria expressiva, iniciando com isso um novo ciclo governativo em Portugal.

    As tropas do PS de Pedro Nuno Santos, que por analogia podemos comparar aos exércitos romanos derrotados por Pirro, começaram a vacilar e dar sinais de pânico. Mas a medida que a noite ia passando, a luta entre o PS e a AD ia-se tornando mais renhida, e lá mais dentro da noite, quando os eleitores já estavam a dormir serenos, os dois exércitos discutiam taco a taco o número de deputados eleitos.

    No final a AD obteve uma vitória pírrica. Apenas dois deputados a frente do PS.

    Em relação às eleições de 2022, em que o PSD concorreu sozinho e o CDS não conseguiu eleger um só deputado, a AD ganhou apenas 8 deputados (sem contar com os deputados que serão eleitos pelos círculos dos emigrantes) e a percentagem de voto subiu pouquinho de 27,8 % a 29,5%. Muito embora o PS tenha sofrido uma hemorragia em relação à maioria absoluta de 2022 perdendo 40 deputados e baixado nos votos de 41,7% para 28,7%.

    Para onde foram os outros deputados perdidos pelo PS? Para o Chega, que passou de 12 para 48 deputados. A AD não conseguiu capitalizar no desgaste político do PS.

    Na configuração atual, a probabilidade de se nomear um governo estável em Portugal é pequena. É natural que o Presidente da República convide Luís Montenegro a formar o próximo governo. Mas Luís Montenegro está metido num colete de forças. A menos que ele dê o dito por não dito e entre em negociações com o Chega, AD não tem condições para formar um governo de maioria parlamentar. E se entrar em negociações com o Chega é muito provável que André Ventura cobre um preço demasiado alto. Por outro lado, Pedro Nuno Santos não vai arriscar viabilizar um governo da AD e deixar a oposição nas mãos do Chega. O risco é que o Chega pode atrair os descontentes do casamento forçado entre a AD e o PS.

    Marcelo Rebelo de Sousa é o fiel da democracia no país. Mas até que ponto o Presidente poderá afastar o Chega de uma solução governativa quando mais de um milhão de portugueses votaram nele?

    A situação política está num impasse. É bem provável que Portugal tenha de ir a eleições de novo dentro de dois anos. E quem vai ditar o timing é o Chega ou o PS.

    Pedro Nuno Santos não lhe interessa abrir já as hostilidades. Ele tem uma representação parlamentar forte que lhe dá poder na oposição. Ele vai estar ocupado a reformar o PS à sua imagem e contrabalançar a herança de António Costa no seio do partido. Provavelmente, António Costa irá encabeçar a lista do PS para as eleições de junho do Parlamento Europeu. Isso vai dar prestígio ao PS e manter António Costa longe, enquanto Pedro Nuno Santos reforma o partido para a próxima batalha eleitoral.

    O Chega foi o partido que mais ganhou com as eleições. Mas estar na oposição ao lado do PS é uma posição incómoda. André Ventura já percebeu que pode ser a pedra angular de uma solução política que tire o país do atual impasse. A hora de André Ventura é agora e é com ele que Luís Montenegro deverá lidar.

    Por: José Correia Nunes

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