Numa altura em que a comunidade científica mundial procura descobrir os caminhos que levam à longevidade, mais idosos em Angola desafiam o tempo ao atingirem, até ultrapassarem, a marca dos cem anos.
Domingas José Simão, ao completar 102 anos, no dia 15, é exemplo disso. Avó Minga, como é tratada pelos mais próximos, nasceu algures no município de Cambambe, de onde saiu, em 1961, para se refugiar em Luanda, por ter visto, na terra natal, o marido e um cunhado serem enterrados vivos pelas autoridades colonialistas.
Mãe de sete filhos, a primeira delas, hoje com 80 anos, e o último, com 60, avó Minga tem 51 netos, 173 bisnetos e 57 tetranetos.
Hoje, ela que sempre gostou de ter toda a prole por perto, para a proteger, vê esse papel invertido.
“Já fui mãe, hoje sou filha”, disse, ao Jornal de Angola, com voz naturalmente trémula, mas perceptível, a avó Domingas José Simão.
“Completar 102 anos é viver com a mesma alegria e vigor para testemunhar o amor de Deus pela humanidade”, disse.
Sobre o segredo da longividade, num país em que a esperança de vida ainda é muito baixa, declarou:
“Não bebo, nem fumo. Desde que conheço o nosso Deus, criador da humanidade, que fez a terra e tudo que nele habita, que nunca pus álcool ou um cigarro na minha boca, só água e sumo”.
A alegria é outro segredo da longevidade de avó Minga. Rodeada de filhos, netos, bisnetos e tetranetos, que lhe organizaram uma festa, no bairro Benfica, brincou e reconheceu todos.
“Hoje é um dia especial, estou feliz por ter tantas visitas”, referiu, em tempo arranjado, entre xicorações e beijos.
“Ainda vejo bem”, garantiu orgulhosa, enquanto caminhava pelo quintal para pousar para a fotografia de familia.
A idade parece que não a incomoda, pois, frisou, deixa “tudo nas mãos de Deus, pois é Ele quem vai decidir o que fazer”.
Até lá, “o importante é aproveitar bem cada momento da vida”, declarou a centenária.
Uma avó extraordinária
Lourenço Rafael é o neto mais velho. Tem 57 anos e considera-a “uma pessoa extraordinária”, que sempre esteve presente na vida dos filhos, dos netos, dos bisnetos, dos tetranetos.
Convívio familiar e social, ocupação e uma boa noite de sono, disse, são factores que fazem a avó “ter uma vida mentalmente saudável”. “Hoje somos todos formados graças à avó Minga porque sempre nos incentivou a estudar e, mesmo sem muitos recursos, fez sempre os possíveis para todos termos educação e instrução”, agradeceu.
Lourenço salientou que, com o passar dos anos, a vida da avó tornou-se mais calma.
Sevtlana Benguela, 13 anos, uma das tetranetas, lembrou ser “uma bênção” poder conviver com a trisavó. Estudante da 7ª classe, disse que a avó Minga é a pessoa que mais a “incentiva a estudar, a ser boa aluna para amanhã ser também boa profissional”. “Mesmo com a idade dela, a avó gosta de ver as minhas notas e quando tenho uma negativa aconselha-me a estudar mais”, confidenciou. Outro neto, Mário Rafael, também referiu que a avó o aconselhou sempre “a ser obediente e a viver segundo as regras”.
“Chegar a esta idade é muito dificil, é preciso ter muita calma e uma vida regrada, caso contrário é extremamente complicado”, delarou Mário Rafael, que sonha chegar aos 90 anos, a deixar sair da boca os conselhos de avó Minga.
Domingos dos Santos
Fonte: Jornal de Angola
Fotografia: Domingos Cadência